No Sangue

302 31 22
                                    


HERMIONE


Eu sabia, melhor que ninguém, que tudo tomaria um rumo teatral.

Estava mais que na cara que o Wicca Negro queria um espetáculo do qual se gabar. Eu podia quase perceber que não encontraria nenhum empecilho em meu caminho até o Ministério da Magia.

Ele queria a mim. E eu, sucumbida ao horror de ter meus amigos e outras pessoas ameaçadas, iria até ele, como era seu desejo.

Já tinha deduzido que seria, obviamente, uma armadilha.

Mas eu ainda estava interessada em saber o porquê de tanta encenação. Ele iria querer oferecer uma trégua? Tentar me fazer unir á eles? Por que não tentava me matar logo, como fizera vezes antes? E por que deixara que Oliviene me mandasse o patrono?

Eu já estava com uma enorme desvantagem. De posse de reféns, eu não teria opção a não ser me deixar vulnerável. Como poderia lutar contra ele, se isso colocaria em risco vidas inocentes?

Incomodava-me morbidamente não ter uma resposta, enquanto eu, Rony e Draco nos aproximávamos do centro de Londres.

Minha preocupação com meus amigos fazia meu peito doer de tensão. Será que os Williams ficariam bem? E Harry, Teddy e Andrômeda? Será que não era um erro deixar que Neville, Luna e os outros aurores se unissem á nós?

Numa tentativa de intimidar possíveis batedores dos Comensais do lado de fora do Ministério, vesti minha roupa Wicca juntamente com o capuz com capa que Rony me oferecera. Assim que eu me vesti, ele abraçou minha cintura, andando rigidamente ao meu lado.

O meu desespero em salvar as pessoas reféns, somado á angústia pelos meus amigos e ao desânimo da minha própria morte iminente, apesar de tudo, não chegavam aos pés do meu medo de perder Rony.

Por tudo que era mais sagrado, Rony deveria viver. Não importava se eu não estaria lá para vê-lo sobreviver àquela batalha. Tudo que importava era que vivesse.

Todos os planos que fizemos para o futuro...

A perspectiva de saber que todos deixariam de existir me engolfou por um segundo, fazendo meu ar desaparecer.

Rony pareceu perceber, e apertou o abraço ao redor de mim.

Ficamos em silêncio quase todo o caminho. Era como se, naqueles últimos momentos antes de meu confronto com o Wicca Negro, eu estivesse tentando resguardar toda a respiração e as palavras que, em breve, nunca mais sairiam de mim.

Cada segundo ao lado dele me seria inestimável e precioso. Não podia desperdiçar nem mesmo um deles.

Draco, para minha surpresa, parecia compartilhar a reflexão tensa que havia entre nós.

Eu simplesmente não acreditava que ele realmente se unira á nós.

Tinha tido muita convivência negativa com Draco Malfoy para simplesmente virar amiga dele agora. Mas, no fundo, sentia uma leve gratidão e admiração por estar se se dispondo á enfrentar os ex-colegas Comensais, mesmo que fosse apenas para salvar a mãe.

Se ele estava disposto á arriscar á vida por alguém, merecia minha consideração. Afinal, se tinha altruísmo o suficiente para se preocupar com a vida de alguém, é por que tinha alguma faísca de bondade. E, depois, pensava que Draco já havia sido punido o suficiente durante sua experiência como Comensal da Morte.

Porém, por mais que me surpreendesse, eu tinha a nítida impressão de que ele não estava entrando nessa só por causa de Narcisa Malfoy.

E, tinha de confessar, isso me deixava agradavelmente pasma.

A Esfera da Herança (A Saga da Lontra) - Temporada IVOnde histórias criam vida. Descubra agora