Viradas no Jogo

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HERMIONE


Não. Eu não tinha justificativa para mais aquela gracinha.

Nem mesmo a perspectiva daquela semana estar deprimente demais para o meu gosto. Nem minha necessidade de desviar a mente de toda aquela droga de prováveis Wiccas soltos por aí. E muito menos – tudo bem, quem sabe um pouquinho – o assassinato e a depressão de minha amiga.

Preferi pôr a culpa no fato de que quase havíamos morrido tostados na London Eye.

Era fato. Aquilo já tinha sido meio que premeditado por mim.

Assim que vi os olhos de Rony encarando o conjunto ousado no manequim, não pensei duas vezes.

E a única coisa que me impedia de corar, estremecer e sair correndo, enquanto sentia o olhar arrebatado e incrédulo dele varrendo meu corpo, era justamente a invocação que me tirava do meu estado normal.

Sorri, quase me deliciando com mais aquela demonstração de surpresa de Rony. Quem diria... parecia que eu ainda conseguia surpreende-lo.

Ele recuou uns dois dedinhos no colchão, os olhos percorrendo o chão, como se calculasse quantos passos seriam necessários para correr porta afora.

- Ficou bom – a voz dele era um pio de perdiz.

Pigarreei, erguendo a sobrancelha. Rony voltou a olhar para mim, e estremeceu. Se era por causa da minha forma Wicca ou pela situação, eu não sabia dizer.

- Só isso? – me aproximei – não paguei duzentas libras na Victoria's só pra você dizer que "está bom".

Para minha surpresa, os olhos dele se estreitaram.

- Comprou por que quis.

Seu corpo guinchou e caiu no colchão quando o vento que conjurei o empurrou.

- Resposta errada.

Enquanto subia na cama, pude sentir o atordoamento vidrado que começava a atingi-lo. O quinto elemento não precisou de muito para finalmente fazê-lo ofegar de tensão e surpresa.

Mas a máscara de Rony me impedia de saber o que diabos se passava por sua cabeça. E eu estava mais que decidida á extrair dele até a última gota de verdade.

- Vou perguntar de novo... – me esgueirei por cima de Rony, roçando meu nariz no dele - o que achou?

- Hum, hum – ele balançou a cabeça, encolhendo os lábios dentro da boca, como um menininho que não queria comer o mingau.

Aquilo foi tão engraçado que eu quase ri. Tive que me segurar para me manter séria.

- Anda – sussurrei, afagando seus cabelos – você está doidinho pra dizer o que achou. Não gostou? – segurei suas mãos, que tentavam se esconder atrás das costas – não tem vontade de saber a textura?

Ouvi-o guinchar embaixo de mim.

- Não falo – Rony me encarou, franzindo o cenho.

Diabo... estávamos com o rosto tão colado um no outro que ele podia abocanhar a minha boca se quisesse. E estava se fazendo de difícil. Maldito.

- Eu posso jogar esse jogo a noite toda – bufei.

- Eu também – ele fechou os olhos marotamente – sei o que você quer fazer. E não vai conseguir.

Como assim? Nem eu sabia o que eu queria fazer, pombas...

Exasperada, empurrei seu abdome, me erguendo de novo. Afastei-me da cama, decidida a dar umas voltinhas para despertar seu interesse.

A Esfera da Herança (A Saga da Lontra) - Temporada IVOnde histórias criam vida. Descubra agora