Limbo

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HERMIONE


O mundo inteiro jazia numa redoma de escuridão e trevas.

Não conseguia ver ou ouvir nada.

Não me lembrava do que tinha acontecido.

Minha mente estava anuviada. Tentar recordar era como erguer uma pedra pesada de um poço vazio.

Meu corpo inteiro parecia fazer parte da mesma penumbra que me rodeava.

A lembrança, finalmente, veio como uma pancada, estremecendo as poucas estruturas que em restavam.

O encontro com o Wicca Negro...

Havia sido ela o tempo todo...

Minha própria tia.

E a profecia de Calíope se concretizara nos mínimos detalhes. Malfoy, o inimigo que se redimira. Yara e Helen, que haviam me traído. A escolha que Helen me oferecera.

O sangue da família será derramado. Uma de nós iria morrer.

As ideologias de Helen eram tão ou mais doentias do que as de Rodrick Carrow. Ela iria querer destruir ambos os mundos... e não hesitara em matar a própria sobrinha.

A traição, a angústia... tudo parecera me destroçar de dentro para fora, num turbilhão que quase me destruiu. Fora demais para suportar.

O que eu jamais esperara era ouvir, de alguém de minha própria família, o feitiço que me engoliu numa enxurrada de luzes verdes.

Mas então... não devia ter sio o fim de tudo? Eu não devia estar morta? Por que ainda estava flutuando naquela imensidão obscura? Por que demorava tanto para abandonar a vida?

E se eu não estava mais viva...

Os poucos estilhaços dentro de mim gritaram quando me lembrei de Rony.

Não... ele estava vivo... mas sem mim, não conseguiria impedir Helen. Mesmo transformado... não seria páreo para o dragão Wicca em que Helen poderia se tornar.

Ela o mataria.

Céus... Helen iria mata-lo.

Como pude deixar aquilo acontecer?

Havia jurado a mim mesma que só me deixaria derrotar quando salvasse todos das garras da Wicca Negra. E lá estava eu, no limbo, enquanto Rony, Oliviene e dezenas de outras pessoas inocentes jaziam nas mãos de Helen.

Não... Rony não podia morrer. Eu não devia estar ali.

Seria minha culpa. Fraca e patética, eu não conseguira impedir o fim do mundo. Seria questão de tempo até que tudo fosse destruído. Minha família, meus amigos, meu mundo... e a vida do garoto que, agora, deveria estar sob meu corpo, incrédulo e vulnerável ao ataque de minha tia traidora.

Senti a umidade tomar meu rosto.

Espantada, ergui meu corpo em meio á escuridão, passando as mãos em meus olhos. Abismada, percebi meus dedos molhados pelas lágrimas.

Eu estava chorando...

Então... não podia estar morta.

A escuridão cessou inesperadamente, substituída por uma luz branca e ofuscante que quase me cegou.

Pisquei os olhos, incomodada.

Surpresa, eu apalpei o tecido que cobria meu corpo. Era como a veste Wicca que eu usava... porém, infinitamente mais delicada, tão branca quanto a redoma em que me encontrava, suave como fios de água.

A Esfera da Herança (A Saga da Lontra) - Temporada IVOnde histórias criam vida. Descubra agora