Minha segunda vez.

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Olá para todos os leitores de "Aquela Noite"! Gostaria de agradecê-los por lerem minha história. Quando comecei a escrever somente tinha a certeza que eu seria o primeiro leitor, jamais sonharia que tantas pessoas a leriam e gostariam dessa forma diferente e esquisita de escrita rápida, onde o mais importante é a história, deixando boa parte dos detalhes para a imaginação de quem lê. Como um quadro ou uma poesia que terá sua avaliação diferente dependendo da pessoa.

Quem quiser acompanhar a página do livro acessem o link: https://www.facebook.com/aquelanoite2016/

Eu manterei alguns capítulos aqui no Wattpad, pois a história acabou de entrar em pré-venda pela editora PenDragon. É possível adquirir o livro pelo site da editora

http://www.editorapendragon.com.br/ ou http://goo.gl/84eJub

Fábio Vera Cruz

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Meu olhar se perdia pela janela, distante. Lá fora as árvores balançavam ao vento forte, suas sombras invadiam meu quarto, eu via nelas todos os tipos de seres monstruosos. Escondi minha cabeça embaixo dos cobertores, mas eu sabia que eles continuavam lá. Como sempre não conseguia dormir, a porta entreaberta deixando a luz que vinha do corredor entrar era a prova disso. Minha mãe nunca esquecia.

Ela me contou certa vez que o meu progenitor nos abandonou mesmo antes de eu nascer. Não importa! Ela sempre foi tudo que me importava, tudo que precisava, tudo que tínhamos, uma a outra. Ela era minha mãe e meu pai. Era tudo que eu precisava saber. Éramos como unha e carne, pé e solado, goiabada com queijo... Nos completávamos.

Como eu poderia ter esquecido dela?

- Tia Anne, pelo amor de Deus, não me diga que não tem um celular nesta casa?

Tia Anne andou calmamente até a sala, quando retornou trazia um telefone, estilo anos noventa, com uma antena bem grande.

- Aqui não há sinal de celulares, mas temos este telefone que funciona por satélite, para emergências. Sarah, existem coisas que não deve contar nem mesmo para sua mãe. Entendeu? – Tia Anne me entregou o aparelho sem parar de me fitar os olhos.

Fiz sinal de concordância. Disquei os números, era estranho não poder vê-los, o telefone nem tinha um display. Ela atendeu no primeiro toque.

- Alô! Mãe?

- É você Sarah? Meu Deus do céu! Me fale logo onde você está. Você está bem? Você...

- Eu estou bem mãe! Eu acabei me perdendo em uma trilha na Serra. – Foi a primeira vez que menti tão descaradamente para ela. – Algumas pessoas me encontraram e estão cuidando de mim.

- Onde você está Sarah? Vou imediatamente para aí.

Olhei de relance para tia Anne, ela parecia entender tudo que se passava em minha conversa sem nem mesmo escutar o que minha mãe dizia.

- Diga para ela onde está. – Ela me disse baixinho.

- Mãe, estou em uma cabana na floresta, amanhã iremos para uma cidade em Riacho Doce, Minas Gerais.

- Tão longe? Fique nessa cidade filha! Amanhã irei te buscar. Passe o telefone para essa pessoa que está cuidando de você, por favor.

Entreguei o telefone para tia Anne. – Ela o pegou sem nem mesmo perguntar, ela parecia saber de tudo. Ela, porém parecia apenas estar escutando o que minha mãe dizia, respondendo apenas um "aham" ou um "pode deixar" de vez em quando.

- Sua mãe é um amor de pessoa. Encontraremos-nos amanhã. – falou tia Anne guardando o telefone. – portanto precisamos aproveitar bem nossa última noite de lua cheia.

Fomos para o lado de fora, não conseguia ver o Sol, mas sabia que já estava quase se pondo. O céu ganhava um tom mais avermelhado e aos poucos mais escuro, os pássaros se recolhiam em revoada. A floresta estava toda se aprontando para a noite. Quando a primeira estrela surgiu no céu, pude ver alguém se aproximando calmamente, provavelmente era o Douglas.

- Olhe Sarah! Preste bastante atenção! Douglas está chegando, não se assuste.

- Porque eu me assustaria...? – Mas acabei me assustando quando olhei de volta, não era o Douglas, mas sim um monstro. Não era um lobo e não era um homem, seus dentes eram os maiores que eu já tinha visto, deveria ter uns dois metros de altura sobre as duas patas, tinha um pêlo marrom escuro e seus olhos amarelos estavam fixados em mim. A cada passo seu meu coração disparava mais forte, me segurei em tia Anne querendo fugir dali. Ele parou a não mais de cinco metros de distância e me jogou uma bolsa, era a minha bolsa. Mas como ele? Entendi! Ele estava o dia todo a procurando, devia ter sentido o meu cheiro impregnado nela. Quando olhei de volta ele tinha sumido novamente.

- Ele foi buscar a roupa dele, provavelmente deixou aqui por perto. – Tia Anne sorria enquanto enxugava uma lágrima em meu rosto. – Não tenha medo menina, agora será a sua vez de se transformar.

- Mas eu não sei fazer isso! Não quero me transformar naquilo.

- Se você não aprender a fazer isso por você mesma, irá se transformar da mesma forma e não terá controle algum, agirá puramente com instintos. Para controlar a transformação você precisa saber como se transformar.

- É possível evitar a transformação? – Perguntei esperançosa.

- Você está olhando para a única pessoa capaz de fazer isso. Tem muitos anos desde a última vez que cedi ao lobo dentro de mim.

- Como eu faço?

- Feche seus olhos, tente sentir a força da Lua entrando em cada célula sua, tente se sentir parte de toda a floresta, tente lembrar-se da sensação e não da dor que sentiu na primeira vez.

Eu começava aos poucos sentir meu corpo formigar, sentia calor, veio uma sensação estranha, era como de me expandisse bem devagar, meus ossos começaram a doer exatamente como na noite do acampamento mas não era mais uma dor incontrolável, abri meus olhos, estava vendo tudo vermelho, sentia uma raiva sem motivo algum, via o cheiro das coisas, de alguma forma eu sabia disso. Olhei para o lado, vi tia Anne bem pequena. Alguma coisa estava errada, ela parecia estar com medo, com medo de mim? Senti algo se aproximar, era o Douglas ainda em forma de lobisomem, eu não tinha mais medo dele. Porém ele parecia não me reconhecer, me atacou como a um intruso, tentei me defender, meus olhos ficaram ainda mais vermelhos, agia puramente com instintos. Quando percebi estava em minha cama, tia Anne ao meu lado, já era de manhã. O que haveria acontecido? Ela me olhava com doçura em seus olhos.

- Bom dia minha! Seja bem vinda de volta minha filha! - Tia Anne segurava minha mãos com delicadeza. - Precisamos ter uma séria conversa.





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