Memórias são algo de que não podemos fugir, apesar de algumas delas serem, com o passar do tempo, apagadas da nossa cabeça, existem outras que teimam em permanecer lá para sempre. As memórias que não tem importância para nós, que não nos marcam de nenhuma forma, acabam por desaparecer, porém aquelas que nos marcam, tanto de forma positiva como negativa, acabam por ficar. Podem passar dias, semanas, meses, anos, e mesmo assim, algumas delas serão tão vivas na nossa cabeça como se tivessem acabado de acontecer.
As memórias que Louis tinha da sua infância, em especial as memórias más – e que eram portanto quase todas – permaneciam na sua mente como se acontecessem de todas as vezes que ele as recordava. Estavam ali cravadas, como uma verdadeira cicatriz, que por mais que desejássemos que desaparecesse, sabíamos que continuaria sempre ali. Dizem que o tempo cura tudo, mas Louis tinha a certeza que quem tinha dito isso nunca na vida tinha sofrido de verdade. O tempo não curava nada, ele apenas aliviava um pouco a dor, dor essa que permaneceria sempre ali, por mais ténue que muitas vezes acabasse por se tornar.
Louis tinha tentado muitas vezes esquecer tudo aquilo, porém tinha chegado a uma altura em que simplesmente tinha desistido. Não serviam de nada aquelas tentativas, e ele percebeu que a única solução possível era tentar pensar o menos possível no seu passado, tentar preencher a sua cabeça com outras coisas e permanecer ocupado.
- Parece-me uma boa ideia. – a voz rouca de Harry fez-se ouvir e o sorriso que estava por entre os lábios do rapaz mais velho aumentou um pouco.
Uma das coisas que fazia Louis esquecer o seu passado era Harry. Aquele rapaz, tão simples, conseguia sempre fazer com que Louis não pensasse em nada daquilo. Aliás, quando estava na companhia de Harry ele não pensava em absolutamente nada.
Ele voltou a aproximar-se do sofá e novamente voltou a sentar-se no chão ao lado de Harry, com as costas apoiadas contra o sofá. Ele rodou o tampo da garrafa de vodka e rapidamente levou a mesma aos seus lábios, bebendo um pequeno gole do seu conteúdo. Ele passou a língua pelos seus lábios e de seguida viu a garrafa ser retirada da sua mão, quando Harry pegou nela e imitou o gesto de Louis, levando também a garrafa à sua boca e bebendo um pouco daquele líquido.
- E a tua mãe? – Harry deu por si a perguntar logo de seguida. Se estavam a beber para esquecer, não faria mal ele fazer mais algumas perguntas sobre a vida de Louis, porque supostamente mais tarde ele já teria afastado aquelas recordações – menos boas – da sua cabeça. E além disso, nunca Louis tinha falado com ele sobre nada daquilo, fugia sempre de perguntas que envolvessem a sua família e como tal, Harry achava também que tinha de aproveitar aquele momento para tentar saber mais sobre o rapaz que estava ao seu lado, porque o mais certo era nunca mais conseguir que Louis lhe contasse algo relacionado com aquilo.
- Ela sempre esteve um pouco à parte de tudo, sabes? – Louis respondeu logo de imediato, voltou a tirar a garrafa a Harry e bebeu um grande gole, como se aquilo lhe fosse dar mais coragem para continuar a falar. E talvez desse mesmo. – O meu pai nunca lhe deu nenhum valor, assim como nunca me deu a mim, mas a ela não lhe fazia nada. Ela saia de manhã de casa para trabalhar e voltava só ao fim do dia. Eu sei que muitas vezes ela ficava na rua até mais tarde só para não ter de o ver. Eles passavam dias sem se cruzarem, o meu pai raramente estava em casa à noite. – ele encolheu os seus ombros e voltou a beber um pouco antes de entregar de novo a garrafa ao rapaz de olhos verdes.
- E ela não fazia nada, em relação a ti? Ao que o teu pai te fazia e te obrigava a fazer?
Louis voltou o seu rosto na direcção de Harry, com um sorriso triste a delinear os seus lábios. – Que podia ela fazer? Ela tinha medo dele, e não a julgo por isso. Se tentasse defender-me as coisas não iriam correr bem para o seu lado. Além disso, eu pedi-lhe imensas vezes para ela não fazer nada. Já era mau o meu pai estragar a minha vida, e seria ainda pior se estragasse também a dela. Ela sempre foi boa, ainda o é. – o sorriso nos seus lábios aumentou um pouco, deixando também de ser tão triste como era até àquele momento.
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Criminal || larry
أدب الهواةLouis sempre lidou com o Mundo corrompido em que vive, a violência, a corrupção, a manipulação, a desigualdade, a falsidade, sempre estiveram presentes na sua vida. Contudo, ele desde muito cedo foi habituado a lutar contra tudo isto, crescendo e lu...