ELA

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Uma semana depois...

Eu começo a ficar menos tenso, estou saindo mais, indo ao cinema, festas, esse tipo de coisas que gente da minha idade faz ao invés de bater em vagabundo de madrugada.

...

Eu e Lara estávamos na rua voltando do shopping quando daqueles carros de som passa dizendo:

"Venha para a grande inauguração da ONG contra o câncer de Osasco, amanhã, as 15 horas, na antiga câmara dos vereadores"

Eu não ligo muito, e continuo a andar, mas Lara parece ter gostado e diz:

- Vamos?

- Onde?

- No zoológico!

- Que zoológico?

- Eu fui irônica Lucas! Pra inauguração da ONG.

- Sério?

- Sim.

- Ah, mas...

- Ah mas nada, você vai e ponto.

Eu dou um sorriso e falo:

- Posso passar a noite na sua casa então?

- Ok.

- Vamos pedir uma pizza...

- Aff...

No outro dia...

- Lucas, larga de ser folgado e acorda! - acordo com Lara me acordando "muito carinhosamente".

- Nossa, calma, pra que ser tão agressiva?

- Pelo mero fato de ser meio-dia!

- Ok "mãe".

Eu vou pro banheiro rindo e ela vai pra mesa do café também rindo.

Algumas horas depois...

Eu e Lara descemos até a garagem e nós entramos no carro, eu no banco do carona e ela no motorista.

- Quer dirigir? - ela pergunta.

- Não... odeio dirigir.

- Ok então...

Ela começa a dirigir, o caminho ia ser um pouco longo já que ela mora em São Paulo, então começo a olhar pra paisagem, prédios gigantes, pessoas pedindo esmolas no farol e quase sendo agredidas por playboys idiotas que não querem que pessoas "sujas" estraguem o carro deles, minha vontade era sair do carro, e espancar o babaca, mas melhor não.

Nem percebo e já chegamos.

Lara estaciona e eu e ela entramos, o hospital tinha uns seis andares, o primeiro era a recepção, nós passamos por lá direto já que não tinha nada de interessante, o segundo era o infantil, muito colorido e bonito, várias crianças que poderiam muito bem chorar sem parar, ficam rindo de uma maneira que me faz encher os olhos. Lara me chama:

- Lucas.

- Oi.

- Muito bonito né?

- Aqui? Verdade.

- Também, mas estou falando da atitude da dona.

- Que atitude?

- Sair do país dela e vir pra cá pra fazer um hospital como esse para pessoas carentes, pois é, o mundo não está perdido...

- Pensei que era de alguém brasileiro, ela é da onde?

- Inglaterra.

- Como sabe?

- Ontem a noite fui na Internet saber um pouco mais sobre aqui.

- Ah... qual é o nome dela?

- Esqueci... mas acho q começa com "g"

- Ok...

Uma mensagem é transmitida:

"Senhoras e senhores, por favor, se dirijam ao auditório onde a nossa fundadora irá falar."

Lara me puxa e vamos até o quarto andar onde ficava o auditório, sentamos bem no fundo pois tinha bastante gente e não conseguimos um lugar mais próximo.

Eu pego meu celular, coloco o fone e começo a ouvir música, não estava interessado na palestra, isso me lembrou os tempos de escola.

Ficou alguns minutos com os fones até que Lara diz:

- Ela é bonita né?

Sem olhar falo:

- É...

Lara olha pra mim e diz irritada:

- Dá pra tirar isso e prestar atenção?

- Aff...

Tiro os fones, desligo a música e quando olho pra frente, quase desmaio. Gwen Kyle está lá na frente, eu fico sem palavras, não pisco, consigo sentir meu coração bater mais rápido, nem consigo prestar atenção no que ela está dizendo, só consigo olhar pra ela.

- Lucas? - Lara me chama.

- Fala...

- Tá tudo bem?

- Não... quer dizer, claro que sim...

- Então tá...

Mas por que ela está aqui? Quero dizer, não que isso seja ruim, muito pelo contrário, mas ela é inglesa... e além disso, é uma modelo que não conhecida aqui, (posso concluir isso, pois ninguém no auditório está chorando de emoção ou gritando seu nome, e também não se vê seu rosto em capa de revistas etc...), então por qual santo motivo ela está abrindo um hospital de câncer?

Então o homem que estava sendo o mestre de cerimônias da festa, dá o microfone para Gwen, depois de alguns segundos de aplausos, ela começa a dizer em português (com aquele sotaque lindo):

- Boa tarde, meu nome é Gwen Kyle, eu sou Inglesa e não sou médica - o salão ri levemente - então por que estou no Brasil lutando contra o câncer? Bom, pra quem não sabe, sou filha de pai brasileiro e mãe inglesa, eles se divorciaram há muitos anos e então meu pai voltou pra cá, e eu e minha mãe continuamos na Inglaterra. Porém há alguns meses, meu pai teve um diagnóstico de câncer de próstota, eu e minha mãe sabíamos que o tratamento seria melhor na Inglaterra, então pedimos que ele fosse pra lá, mas ele não aceitava de jeito nenhum... por esse motivo, eu juntei todos os meus lucros, larguei minha carreira e trouxe o que há de mais moderno contar o câncer pro Brasil, para que meu pai, e aqueles que futuramente precisem, possam ter o melhor tratamento possível com os melhores médicos. Obrigada!

As pessoas aplaudem e eu continuo sem reação, eu pisco os olhos e a atenção volta, Gwen desce do palco e começa a falar com os visitantes.

As pessoas perguntam dos pais dela, o que ela fazia antes. Ela responde tudo com muita classe e ao mesmo tempo graça, ela começa a ir para as fileiras de trás... eu realmente quero falar muito com ela, estou com muitas saudades, mas acho que não era a hora...

- Vamos Lara. - digo levantando e a apressando.

- Por que? Quero falar com ela.

- Não Lara! Vamos.

Quando estou quase na saída do auditório, sinto uma mão no meu ombro, e ouço a voz de Gwen:

- Lucas! Vai mesmo embora sem me falar nada?

Ferrou.

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