Capítulo 21

18 4 0
                                    

Os dias em casa da minha tia eram divertidos! A vida na aldeia era muito mais calma... Já estou aqui há três semanas e ninguém me encontrou... Recebi diversas mensagens de casa, especialmente da Alice...
Ultimamente ando com uma fome desgraçada, mas acho que tudo se deve aos fantásticos dotes culinários da minha tia.
-Hoje fiz uma lasanha, como tu dizes que gostas...- disse ela com um sorriso que me invadiu.
-Obrigada, tia! Estou cheia de fome!! De novo!!- comecei a rir.
-Deve ser do ar do campo! Dá fome a qualquer um, querida!
Concordei.
A minha tia adora ouvir as minhas histórias e desabafos sobre a vida. Já teve vontade de matar o Santiago e o João, especialmente, umas vinte vezes! É mesmo isso que eu preciso... Apoio incondicional! E é isso que ela me oferece.
Devorei a lasanha! Estava tão boa como sempre! A minha tia cozinha muito bem, aliás, teve um restaurante dela aqui na aldeia, mas acabou por fechar. A aldeia é muito parada e mesmo que toda a aldeia almoçasse e jantasse todos os dias lá, o dinheiro continuava a não chegar para pagar as despesas e então ela desistiu.
Já lhe disse mil vezes para se inscrever naqueles programas como o Master Chef, mas ela diz que depois teria hipóteses de emprego na cidade e ela adora a aldeia.
Então, desde que o restaurante fechou que ela não trabalha. Mas claro que ela não consegue descansar e aproveitar a velhice. Ela tem uma horta na herdade da família onde vai todos os dias tratar das plantas.
Adoro estar aqui com ela. É como estar com alguém que parece que passou por tudo o que conto, falando com calma, paciência e uma dose extraordinária de amor e carinho.
-Vou à herdade, querida. Queres vir?
-Hoje não, tia. Estou enjoada... Comi demasiada lasanha. Amanhã eu vou!
-Já sabes onde estão as chaves.- piscou-me o olho e saiu.
Fui para o meu quarto onde me deitei e acendi a televisão.
Desde que nasci que a minha esconde as chaves debaixo de um vaso de flores que tem ao lado da porta da entrada. Já todos na cidade devem saber daquelas chaves, mas ela confiava em toda a gente!
Então oiço alguém abrir a porta e pensei que fosse a Dona Ermelinda que vive na casa ao lado.
É uma senhora muito cusca e que, sinceramente, me deixa irritada. Como nada na vida dela é especial, inventa e comenta a dos outros... A minha tia também não tem muita paciência para ela, mas ela está sempre a entrar em casa para comentar o facto do primo dela, o Zé ter arranjado mais uma namorada... O primo Zé também arranja uma namorada por dia...
-Sara? -gritou uma voz que eu conhecia.
-Alice?- gritei e fui a correr ter com ela.
-Sara!! O que estás aqui a fazer?! Andam todos à tua procura! -ela abraçou-me.
-Eu tinha que ficar longe daquele ambiente... Contaste a alguém que sabias onde estou.
-Não... A tia foi à América e o tio estava a trabalhar quando vim ter contigo... Agora vais voltar comigo!
-Não posso, Alice! A tia é muito querida! Eu vou ficar com ela!
-E não acabas os estudos?! E vais viver longe de discotecas agitadas e de danças loucas??
-Vou Alice... Estou muito melhor aqui! E agora que me encontraste, podes avisar os pais que não saio daqui! -fiz um ar superior.
-Oh Sara!! Por favor! -fez cara de quem estava a apanhar uma seca. -Já sabes que vão ser os tios a vir buscar-te e ai vai ser muito pior para ti...
-Olha!! Primeiro, não tenho problemas em dizer que aqui sou feliz e segundo, já sou maior de idade, estás a esquecer-te disso?
-Por favor... -diz com uma viz de sermão.
-Pareces a minha mãe!! Sai daqui!!
Ela saiu e a tia entrou no segundo a seguir... Eu ainda estava a chorar no hall de entrada.
-Querida... Devias ir com ela...
-Não tia... Eu sou feliz aqui!
Ela abraçou-me.
-Estou mesmo enjoada... -comentei.
-Vou buscar os comprimidos para o enjoo! -e foi a correr para a casa de banho.
Trouxe os comprimidos que eu tomei rapidamente.
-Querida... Desculpa a pergunta! Há alguma possibilidade de estares grávida? -perguntou com um ar inocente.
-Claro que não... Quero dizer, espero que não! Não posso, certo?
-Podes... É que nunca te vi com tanta fome... E agora o enjoo...
Corri para a casa de banho e vomitei.
Eu não podia!! Isto não me ia acontecer...
-Devias fazer um teste, querida... -disse dando-me festinhas no cabelo.
A chorar sai da casinha e avisei a minha tia que ia a uma farmácia.
-Eu vou contigo! -prontificou-se logo a acompanhar-me- Vamos a uma longe daqui... Senão, daqui a dez minutos toda a povoação sabe...
Concordei e fui para a farmácia de carro. Usei o carro que era do tio e que ela fez questão de nunca vender.
Quando cheguei à farmácia pedi o teste e corri para a primeira casinha que vi livre... Será que estou grávida ... Do Santiago?

O Primeiro AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora