Duas semanas depois de nascer já saiu do hospital. Era uma sensação tão estranha... Tinha uma criança sobre a minha pouca responsabilidade, saber que é minha e que tenho que a proteger... É uma Alice em tamanho pequeno, só que mais frágil e, muito provavelmente, menos dramática e dona de um feitio mais simples... A Alice nunca foi fâcil!
Ainda me lembro muito bem de quando queria pegar nela ao colo e ela fugia de mim... Eu tinha apenas três anos quando ela nasceu, mas sempre tive aquele instinto protetor!
Sempre fomos muito próximas porque ela vivia na mesma rua que eu e adorávamos brincar juntas.
Sempre que alguém na família fazia anos ou era necessário comemorar alguma data especial, eu e a Alice organizávamos um pequeno espétaculo.
Estes teatros tinham cerca de quinze minutos, isto porque acabavamos sempre por desistir de o fazer devido às risotas dos outros membros da família.
Juntavamos os primos todos que estavam lá e começavamos a distribuir papéis. Ensaiavamos toda a tarde para depois dar em nada! Mas tinhamos sempre paciência para os fazer! Depois de o Simão começar a andar ele era a nossa pequena cobaia... Tinha que fazer os piores papéis... Eu tinha sete anos nessa altura e a Alice tinha apenas quatro... Eu corria para o armário e arrancava os vestidos mais cor de rosa que encontrava e punha na Alice o mais pequeno de todos.... Eram momentos fantásticos!Flashback on:
Corri para o armário, como sempre e vesti um vestidinho cor-de-rosa que era meu à Alice e para mim fui buscar um da minha mãe... Claro que arrastava pelo chão e caía a toda a hora, mas nâo me importei!
-Simão! Anda cá à prima!! -ordenei.
Nesta altura ele ainda não sabia andar, coitadinho, apenas gatinhava.
Veio ter connosco com um sorriso querido que todos os bebés sabem fazer.
-Ahh... Mamã! -disse e voltou para trás.
-Simão!! Tens que fazer de príncipe encantado!! -peguei nele ao colo com todas as minhas forças da altura e sentei-o no tapete da sala.
-Sara, não te esqueças de nada! És a princesa e eu também! O Simão vem salvar-nos do dragão! -disse a Alice.
Era dona de um vocabulârio exemplar para uma menina de apenas quatro anos! Toda a gente dizia que já se notava que ia gostar de representação e, hoje em dia luta por uma faculdade de representação...
-Eu sei! Só quero saber quem vai ser o dragão mau! -exigi.
Já se notava nessa altura que o meu único dom era ser uma grande mandona...
-Venho já! -foi a correr para a sala de jantar onde estavam todos os adultos a conversar e voltou com o meu pai.
-Tio! -respondeu a Alice.
-Perfeito! Pai, és o dragão... -informei-o.
-Claro, claro... - disse o meu pai.
Se nessa altura eu soubesse o que era a ironia tinha tido um ataque de histeria...
-Só tens de lutar contra o príncipe! -expliquei-lhe eu.
-E quem é o príncipe?
-Ora, é o Simãozinho!
-Hum... Achas que ele consegue lutar com um terrível dragão? -pegou em mim e a minha prima e pôs-nos no sofá e começou a fazer-nos cócegas.
-Paii!!! Para!!!
Ele parou.
-Temos muito que fazer...- explicou a Alice recompondo-se como uma "menina crescida".
-Mas espera, Alice... O meu pai tem razão! Mudança de planos! O meu pai vai ser o príncipe e só tem de fazer cócegas ao Simão! É mais fácil porque o dragão não fala português!
-Eu não falo português! A mamã diz que eu falava muito bem chinês! -disse a Alice em pânico.
-Hahaha! Quando eras bebé! Agora, e desde muito cedo, falas muito bem o português! -disse o meu pai.
Decidimos obrigar o meu pai a ensaiar toda a tarde e depois fomos até à sala das "pessoas crescidas".
-Boa tarde senhores e senhoras! -disse eu.
-Viemos apresentar mais um espetáculo! -disse a Alice.
-Desta vez apresentamos... O Dragão lindo e as princesas!
Todos os nossos titulos eram muito sugestivos... Hahaha
-Desliguem os telemóveis e matenham a sala limpa! -disse a Alice copiando todas as palavras que ouvira no cinema na semana anterior.
Começámos o nosso teatro e a meio a minha tia diz:
-Alice, vai tirar o vestido. Está na hora de ir embora!
A Aloce revirou os olhos e continuou a sua fala.
-Lindo príncipe! Salva-me do dragão!
-Alice! Vamos embora!
O mei tio vestiu o casaco e passou mesmo à nossa frente levando a Alice pelo braço, que começou de imediato a chorar...
-Eu sou a princesa!!! -gritava enquanto a minha tia lhe tirava o vestido.
-Tem calma... - disse o meu pai à minha tia.- Deixa a menina acabar o espetáculo! Não falta assim tanto...
A minha tia respirou fundo e voltou a pôr-lhe o vestido.
-Cinco minutos! -disse rigorosa, como sempre.
-Obrigada, mamã! -disse a Alice já a sorrir de novo.
Acho que este foi o único espetáculo que nós terminámos!
Tenho tantas saudades destes momentos...Flashback off:
Fechei o meu album de fotografias e o Santiago abraçou-me por trás.
-A recordar? -disse baixinho.
-Sim... Olha aqui! -mostrei-lhe a foto do final do espetáculo.
-És tu? -disse apontando para mim- E esta a Alice? -disse apontando para ela.
-Sim... -deixei cair uma lágrima de saudade.
-Ela já adormeceu... -disse ele calmamente obrigando-me a voltar à realidade.
-Finalmente... Duas horas de descanso!
Beijei-o e ficámos assim sozinhos durante mais... Uma horinha....

VOCÊ ESTÁ LENDO
O Primeiro Amor
RomanceSara é uma rapariga de 19 anos que pensa ter encontrado a felicidade na sua popularidade, namorando com Miguel, um grande traidor! Decide então criar um plano com um amigo, o Santiago. Depois de se apaixonar e estar feliz com o Santiago e com a sua...