Quando cheguei a casa reparei que a minha mãe estava ao telefone com alguém, aproximei-me e reparei que falava em Inglês... Algo se passa na América. Procurei a Alice, mas ainda dormia e o meu pai fazia ainda pior! Ele estava a ressonar!
Quando a minha mãe desligou estava com um ar tão desiludido que eu corri para junto dela e ela simplesmente me abraçou.
-O que se passa? -perguntei realmente preocupada.
-Não comentes isto com a Alice... Recebi uma chamada da América. O teu tio foi preso...
-O quê?
O meu tio é das pessoas mais certinhas que eu conheço... Isto não encaixava com ele.
-O que é que ele fez? -perguntei pronta para matar a curiosidade.
-Ele foi apanhado a conduzir em excesso de velocidade com álcool no sangue.
-Não é muito grave...
-Isso não, mas ele estava com um carro roubado e transportava droga...
-Ele o quê?!
Não podia ser o meu tio. Aquele homem que foi preso por ser apanhado com drogas e carros roubados não pode ser ele...
-Sim, é verdade. Mas não comentes com a tua prima...
-Claro!
O telefone dela volta a tocar de um número americano.
-Vou falar com ele...
-Claro.
Ela levantou-se e foi até ao fim da rua ao telemóvel e quando voltou, ao fim de uma meia hora, eu ainda estava no mesmo sítio chocada.
Ela chegou a casa a chorar já depois de desligar a chamada e eu abracei-a.
Não era preciso perguntar nada... Eu tinha que a acalmar.
-Ele... Ele disse que estava envolvido num esquema de venda para obter dinheiro para consumir... O meu próprio irmão!
-Calma, mãe... Eu sei que é difícil de acreditar vindo dele, mas aconteceu ...
-Não estás a perceber... Ele disse que começou a consumir antes do divórcio. A tua tia apanhou-o e por isso é que se divorciaram. Ele explicou que desde que assinou a porcaria dos papéis do divórcio perdeu o controlo. Ela era o seu ponto de equilíbrio! Ela não tinha o direito de o deixar!!
-Mãe... Põe-te no lugar dela...
-Eu sei que não deve ser fácio, mas ele está preso na América, a milhares de quilómetros de mim! Eu devia de ir lá.
-E como vais fazer isso sem dar explicações à Alice...?
-Digo que tenho uma viagem de negócios.
-Mãe, ela devia saber. Eu sei que é muito mau, mas ainda é pai dela... Provavelmente, ela vai querer ir contigo a Nova Iorque e tu não a podes impedir... Pensa que se não autorizares ela foge. Sabes bem que ela era capaz disso.
-Eu sei... E já reparei que andas a falar pouco com ela... Não te esqueceste do que ela passou ao arranjar um namorado, pois não?
-Não venhas com sermões! Nem me fales de namorados! E também sabes que a minha prima é o meu bem mais precioso! Se ela for à América, eu acompanho-a. Podes estar descansada que a bebé vai estar bem protegida! -gritei por fim, expelindo toda a raiva que sentia.
-Sara... Tem calma! O que aconteceu?
Eu contei-lhe toda a história e ela, tal como eu, estremeceu quando ouviu o nome do João.
-Aquele... Arg! Ele não te pode estragar a vida de novo! Ele pensa o quê? Pensa que recuperaste de tudo o que ele fez? Por culpa dele, tu vais ter feridas sem cura que nunca vais esquecer!
-O que se passa, tia? -perguntou a Alice quando chegou à sala - Ouvi a Sara gritar e a tia está com uma cara!
-Não é nada, querida.-disse a minha mãe calmamente.
-Não e nada?! -disse depois de ter perdido a calma- Nada?? Alice, o teu pai é drogado e está preso! Se isto é nada não sei o que será uma $"'(@# de vida!!
-Sara!!! O que foi isso??? Tu não usas esse palavreado e muito menos contas coisas que não são da tua conta!!- berrou a minha mãe.
-Não são da minha conta?? Pois não, mas são da conta da minha prima! E ela é o meu bem mais precioso!
-Então porque lhe deste uma notícia tão delicada dessa forma bruta? Explicas?!?
-Explico!! Tu fazes-me perder a paciência!!! -berreu e fui para o meu quarto onde comecei a chorar.
Coitada da minha prima!! Eu fui uma bruta!
Ainda ouvi a minha mãe tentar consolar a Alice, mas parece que está complicado...
Olhei para o telemóvel e já era hora de almoço.
Deu-me um momento de loucura e agarrei numa mochila onde coloquei comida que fui roubar aos armários, roupa e dinheiro! Rebentei o meu velho mealheiro onde já devia ter dinheiro para um mês num hotel de luxo!
Era o maior ato de loucura que alguma vez cometi! Eu não estava a fugir para sempre, eu só queria refrescar as ideias longe de casa. Acima de tudo, eu tinha 19 anos, sou maior de idade! Trnho direito à minha liberdade, mas claro, deixei pistas em tudo...
Nos livros que leio... Nos livros da faculdade que foram colocados numa ordem específica... Tudo dava a entender o local onde me encontrava.
Comecei a andar até uma estação de metro onde saí numa paragem de uma rede nacional de autocarros... Eu vou para a terra da minha avó. Para uma aldeia onde só vivem tias minhas que adoram passar os dias a comentar a vida alheia! Lá ninguém tinha os números dos meus pais, mas lembravam-se de mim! Não há hotel, mas há a casa da tia Maria Esperança!
A tia Maria Esperança era a única com que eu mantinha um grande contacto. Ela deslocava-se muitas vezes à minha cidade para ver os familiares, mas era contra tecnologias! Lá não me iria faltar nada!
Apanhei o autocarro e cheguei passadas umas horas... Quando encontrei a casa da minha tia, ela fez uma grande festa e tive que lhe contar o motivo da minha fugida.
-Querida.. Os teus pais devem andar à tua procura...
-Mas eu sou maior de idade! Deixe-me ficar aqui, tia!
-Claro que ficas, mas devias de usar aquilo... O telefone para os avisar!
-Eu não posso usar o telemóvel... Eu deixei pistas... E uma carta, claro.
-Está bem, mas isso não quer dizer que eu concorde...
Será que isto é correto... E se os meus pais sentirem mesmo a minha falta? Será que além da pior prima também sou a pior filha?
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O Primeiro Amor
RomanceSara é uma rapariga de 19 anos que pensa ter encontrado a felicidade na sua popularidade, namorando com Miguel, um grande traidor! Decide então criar um plano com um amigo, o Santiago. Depois de se apaixonar e estar feliz com o Santiago e com a sua...