Prólogo

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Stanley, Idaho - 13 de Janeiro de 2014.

A neve caia fina e intensa naquela madrugada. A escuridão e o silêncio eram cortados apenas pelos faróis baixos do Fusca velho e barulhento. Uma pena, pois durante o dia a vista que teria era uma das mais belas do mundo. Aquele vale se encontrava rodeado por montanhas cobertas de neves, até durante o verão era possível vê-las. Agora só o que se podia observar eram pequenos flocos de neve que caíam insistentemente.

Os olhos verdes e fundos da pessoa que conduzia o fusca foram tirados por alguns instantes da estrada e, ao olharem para o retrovisor, a visão que teria a faria perder totalmente o controle da direção.

Aconteceu tudo muito rápido. Apenas um estrondo e o carro desgovernou, sendo lançado alguns metros à frente pelo deslizar na neve que cobria todo o asfalto.

Com muito medo e hesitação conseguiu novamente olhar no retrovisor, e fixou os olhos verdes na imagem ali refletida. A primeira coisa que pôde ver foi o sangue que escorria de sua testa; depois, alguma coisa que realmente lhe intrigou.

Havia algo estendido no chão alguns metros atrás do seu carro. Permaneceria ainda alguns instantes dentro do calor do carro, observando atentamente aquilo escuro esparramado no asfalto coberto de neve. Não havia movimentos visíveis, pelo menos de onde estava não conseguia notar.

Respirou fundo, pegou seu casaco pesado no banco de trás. Tornou a olhar no retrovisor, observando a estrada deserta. Naquele momento, a tontura por conta da batida já havia passado e pôde perceber que não se tratava de um animal e sim uma pessoa. Suas mãos suavam frio. O medo foi invadindo e consumindo ainda mais seus sentidos. Aos poucos, até o efeito do álcool foi ido embora.

A tremedeira que tomava conta agora de seu frágil corpo, vinha do medo de ter deixando outro ser humano gravemente ferido ou pior, de tê-lo matado: outra culpa como essa a pequena ruiva não aguentaria.

Deixou enfim o calor do carro e pôde sentir todo o frio daquele lugar lindo e mágico tomando conta do seu corpo. O medo era tanto que não era pelo frio que tremia e sim pelo que tinha causado. Olhou ao redor mais de uma vez, se certificando de que estava completamente só naquela madrugada fria e escura, rodeada pelas montanhas de Stanley.

Caminhou devagar, como se assim não fosse afugentar aquele pequeno corpo estendido alguns metros a sua frente. Ele estava preso contra as grades da ponte estreita que ligava a cidade à rodovia interestadual. Não fossem elas provavelmente o corpo teria sido levado pelas águas congelantes do rio que fazia a divisa entre os municípios.

O coração da ruiva acelerava e bombeava rapidamente o sangue para suas extremidades, que ficavam cada vez mais frias à medida que se aproximava. Quando ficou bem próxima e viu o ferimento do rapaz desacordado, não conseguiu conter a sua ânsia e vomitou. Não havia praticamente nada em seu estômago, mal conseguia comer nesses últimos dias. O que saiu de seu corpo pequeno fora apenas bílis e os comprimidos que havia ingerido há cerca de meia hora.

Com muito esforço, conseguiu retomar o controle e finalmente chegou bem perto do corpo retorcido do rapaz. Era tão jovem, tinha uma vida inteira pela frente, e agora estava ali jogado no asfalto frio coberto pela neve branca, naquela imensidão escura, sendo observado por olhos verdes quase sem vida.

Verificou se o rapaz respirava, torcia dentro de si para que ele ainda respirasse. Aproximou seu rosto alvo, que agora estava rosado por conta do ar gelado e cortante, e sentiu um leve calor vindo do rapaz. Foi então que, nesse momento, o terror a tomou quase por completo.

Ele ainda vivia! O que fazer? Se perguntava, andando de um lado para o outro sem saber como proceder, não conseguia raciocinar, sabia que tinha que fazer alguma coisa, mas não conseguia lembrar o que era. Seu inconsciente fez que levasse uma das mãos até os bolsos da calça jeans escura que usava. Naquele momento lembrou o que deveria fazer: buscar por ajuda.

Amargos Segredos [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora