Capítulo 10

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Manhattan, Nova York – 25 de setembro de 2010.

A claridade que entrava pela fresta da persiana começa a incomodar os olhos pesados do médico. Aos poucos aquela luz insistente vem lhe arrancando do mundo dos sonhos e trazendo para a realidade.

Tentou se espreguiçar,  esticar, algo o impediu. Havia um peso estranho sobre seu corpo. À medida que ficava mais desperto notou que estava nu e do seu lado esquerdo da cama havia outra pessoa, soube disso no momento em que tocou seus cabelos.

Os olhos negros como as noites mais escuras, aquelas onde até as estrelas se escondem, se abrem e contemplam uma bela jovem de cabelos castanhos claros longos dormindo nua ao seu lado.

Mais uma vez tentou virar e novamente aquele peso sobre suas costas o impediu, com cuidado e devagar foi se virando para ver o que era, a cabeça doía, havia um gosto ruim na boca e viu a loira de cabelo cacheados adormecida sobre seu dorso reluzente.

Conseguiu se desvencilhar fazendo que a moça que caísse do seu lado direito praticamente desmaiada. Levou seu corpo pesado até aos pés da cama. Permaneceu sentando assim com o rosto entre as mãos por alguns instantes. Esfregou suas grandes mãos sobre os olhos e sem alternativa dirigiu-se até o banheiro: uma ducha se fazia necessária. No caminho encontrou as roupas jogadas entre as garrafas de bebidas consumidas.

Cenas como essa vinham acontecendo na vida de Theo a mais ou menos um ano após a separação com Eileen. Mergulhou fundo em uma vida de esbornia para esconder a sua real condição, sentia falta da mulher. Estragou tudo e para esquecer as merdas que fez, as que resultaram nesse rompimento e mergulhava cada vez mais em seus erros.

Saiu do banho ainda com o gosto ruim em sua boca, esse gosto nunca saia apenas era camuflado pelo whisky, vodca e o que estivesse ao seu alcance. Num gesto brusco abre as persianas.

— Vamos! — Theo falou tão alto que até sua cabeça doeu com o som emitido — Vamos, precisam ir embora, tenho que ir trabalhar. — bateu as mãos e puxou os lençóis embaixo delas.

— Para que fazer isso? — a moça morena o olhou com cara feia.

— Não deviam nem ter ficado. Vamos! Passou da hora. — Theo abriu a porta do guarda-roupa e começou a se vestir.

— Babaca! — sussurrou a morena para a loira — Ele já te pagou?

— Sim. Foi à primeira coisa que fiz quando chegamos receber, lembra? Ele já estava alterado então garanti. – murmuram indo em direção ao banheiro recolhendo pelo caminho suas vestes.

— As moças vão demorar muito? — Theo estava impaciente.

Era sempre assim o dia seguinte em que se deixava levar por essas noites. Queria se ver livre o mais rápido possível. Geralmente as dispensava antes, não as deixava dormir, ontem extrapolou seus limites chegando a perder a consciência.

— Já estamos indo. — ambas saem exacerbadas do banheiro, Theo estava de costas olhando pela janela recém-aberta do flat que morava após a separação. — Até nunca mais, babaca! — a morena antes de deixar o quarto mostra-lhe o dedo e bate a porta com toda a força que tinha.

Assim que elas deixou sozinho, ficou contemplando toda a bagunça que ali estava. Não era apenas a do local e sim a bagunça interna a que estava lhe tirando o foco daquilo que lutou para conquistar e poderia perder em um estalar de dedos, melhor dizer em apenas um gole.

Amava ser médico. Foi algo decidido desde muito cedo e também frustrante durante anos, sendo um garoto que vivia em um orfanato sabia que isso jamais aconteceria até que um senhor de olhos acolhedores viu nele potencial para ser uma pessoa melhor, se o visse hoje sentiria repulsa.

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