Capítulo 29

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Lá estava ela; cativante, atraente e irritantemente linda. Os cabelos loiros abaixo dos ombros dançavam com a brisa fria que vinha das montanhas. Os olhos azuis de Don perderiam horas ali apenas a admirando.

Don sentia-se tão inferior a ela que nem se permitia sonhar. Só de estar ali parado no vão das escadarias do colégio já seria considerado afronta. Jennifer era chefe de torcida. A garota mais popular da escola e sendo assim, era a namorada do capitão do time, Stephen.

Jennifer era o fruto proibido e Don o garoto invisível. Queria ser invisível, deseja por isso, mas não era. Don na realidade era aqueles garotos que são perseguidos, explorados, manipulados, insultados. Aquele usado por todos da forma mais cruel. Don queria deixar de existir. E agora estava ali observando a garota mais bonita que veria em toda sua vida.

— E aí, Pato! — Don leva um empurrão pelas costas — Ainda de olho na minha namorada?

Don não responde, apenas fecha os olhos em sinal de completo desespero. Afinal, todos em sua volta estavam apenas esperando o momento em que Stephen fosse lhe dar o soco.

— Que foi? Comeram sua língua? — Stephen empurrava Don com as pontas de seus dedos — Te fiz uma pergunta!

— A qual já sabe a resposta... — Don respondeu por entre os dentes e encolheu seu corpo ainda mais.

— Olha isso! O patinho anda respondão!

— Stephen... — Don virou e o encarrou — Vamos acaba logo com isso...

O rapaz forte e alto a sua frente segurou Don pela gola da camisa xadrez aberta. Don conseguiu sentir o hálito fétido tocando o seu rosto. Conseguiu também ver as machas encravadas em sua íris castanha. O corpo de Don apenas esperava pela dor já antes sentida diversas vezes. Não soube dizer se foi um alívio, mas a dor esperada não veio o que viu foi apenas nascer entre aqueles lábios grossos um sorriso cínico. Stephen o solta da mesma forma brusca que havia lhe pego antes e murmura:

— Pato... Aguarde!

Don acompanhou o corpo largo e atlético de Stephen descendo as escadarias e indo em direção a Jennifer ainda alheia ao que se tinha passado no andar superior. O menino pôde ver quando as mãos fortes de Stephen envolveram a cintura bem marcada da loira a trazendo de encontro ao calor de seu corpo. Viu quando aqueles lábios que há segundos estavam ali perto do seu rosto engolir o filete rosa da boca de Jennifer. Seus olhos azuis encheram de lágrimas e abandonaram aquela visão em busca de vazio. Guardou seu material sobressalente no armário e partiu para outro martírio: sua casa.

Deveria ser um alívio poder chegar até casa. Mas era exatamente o contrário. Em dias mais quentes Don se aventurava ficar entre as árvores perto da ponte principal na entrada da cidade. Agora no auge do inverno era quase impossível permanecer nesse refugio sem sentir o corpo congelar. Mas o quando ar lhe era todo roubado preferia ficar ali em estado de hipotermia do que ter de encarar seu algoz.

Esse último ano seu pai estava pior. A volta do irmão mais velho contribuiu para isso. Tim o grande orgulho de Carl. O seu filho desejado, seu filho perfeito, aquele que seguiu seus passos, aquele que não foi o responsável pela morte do grande amor de sua vida.

A segunda gravidez de Tina não estava nos planos. Dezesseis anos de diferença entre o primeiro e o segundo pesou para a pobre mulher já em idade avançada. Os médicos alertaram o casal sobre os riscos dessa gravidez tardia. Carl mostrava-se mais preocupado que a mulher. Tina tentou acalmar convencendo que haviam sidos abençoados com a vinda dessa segunda criança.

E assim Tina escondeu de Carl suas dores, enjoos e seus quase desmaios. O marido não poderia suspeitar que aquela gravidez estivesse lhe enfraquecendo a cada dia. Tina tinha convicção que quando nascesse tudo ficaria bem.

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