Brooklin, Nova York – 08 de Fevereiro de 1988.
O despertador tocou apenas uma veze as cinco horas daquela manhã fria. Foi o que bastou para o senhor de cabelos bem brancos estender os seus braços para desligar aquele barulho irritante. Algo totalmente desnecessário; afinal, o sono já fora embora algum tempo. O despertador era apenas um alerta, uma precaução. Desde jovem o homem acordava nesse horário: o corpo e a mente estavam mais que acostumados com esse ritmo. Nem quando se aposentou conseguiu que essa rotina fosse esquecida, apenas incluiu aquele cochilo gostoso no meio da tarde.
Os pés buscavam os chinelos ao sair da cama e lentamente levaram o homem até o banheiro do apartamento minúsculo. Tomou o banho como de costume, fez a barba, escovou os dentes e ajeitou os cabelos ralos e totalmente brancos. Os olhos azuis estavam já em alerta no preparo do café da manhã, sua refeição mais valorizada. Aprendera assim com os pais desde a época em que morava em outro país, aquele de origem e ao qual nunca retornou, mas que nunca deixou de amar: a sua Inglaterra.
— Então é isso, Sr. Brooks! — olhou-se no espelho — Tentaremos ensinar algo para esses garotos que não querem aprender.
Martin Brooks, o nome do homem de cabelos brancos e olhos azuis com sotaque engraçado que as crianças imitaram durante sua vida inteira como professor. O começo da carreira foi formidável, mas no final o homem já havia perdido as esperanças nesses jovens que não queriam mais saber dos estudos e que apenas se preocupavam com a diversão. Seu método tradicional também não ajudava muito a entreter os alunos. Durante o longo período em que ficou sem trabalhar em escolas dava aulas particulares para quem precisasse, mas não era mesma coisa: gostava da sala de aula e agora, já no auge dos seus setenta e dois anos, estava sendo chamado de volta.
— Bom dia! — Martin Brooks entrou na sala de aula, e nenhum daqueles garotos pareceram muito dispostos a lhe dar a devida atenção — Eu disse bom dia!
Nada, nem um sinal de que parariam com algazarra. Um menino, entre todos, se destacava: era o maior e mais forte, a voz já havia mudado, vinha grossa e firme. O velho não se intimidou e caminhou até o rapaz, parando a poucos centímetros dele.
— A educação. Uma dádiva que nos foi dada como seres humanos, diz que quando alguém usa de expressões como "bom dia" deve receber uma resposta de igual teor, mesmo que o dia não esteja sendo bom para quem está respondendo.
Theo apertou os olhos para o homem de cabelos brancos e olhos azuis à sua frente. Na expressão do velho não havia medo – estava diante de um rapaz jovem, maior e muito mais forte que ele, mas sem medo nenhum. Alguns rapazes deram uma risadinha de deboche.
— Onde está a graça? — Theo olhou feio para o colega — Bom dia.
— Muito obrigado. — Martin deu as costas a Theo e retornou a seu lugar na frente da turma, que diante daquela cena havia ficado em silêncio. — Meu nome é Martin Brooks e serei o professor de vocês.
— O que aconteceu com a Senhora Alvarez? — uma das meninas que estavam na primeira carteira questiona o professor.
— Não tenho informações sobre a antiga professora de vocês. — Martin responde visivelmente sem se importar.
— Olha o que nos mandaram! A droga de um velho cheirando a naftalina. — o rapaz que antes fora repreendido por Theo reclama.
— Já estou até vendo o tipo de aula que teremos, a droga daqueles livros difíceis que ninguém entende nada o que está escrito. — o colega ao seu lado segue no coro.
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Amargos Segredos [Completo]
Genel KurguToda pessoa tem direito a uma segunda chance? Theodore Issac nasceu órfão ficando à mercê do mundo. Graças ao destino sua trajetória segue outro rumo. Consegue vencer os obstáculos e se torna um cirurgião famoso em Nova York, porém a vaidade e arr...