Stanley, Idaho - 20 de Janeiro de 2014.
Lilian há muito tempo não se importava com sua aparência. Seu brilho esvaiu no dia em que perdeu o filho a última coisa que se interessava nesse momento era como o seu cabelo estava e dessa forma os prendeu como fazia todos os dias. Colocou seu uniforme de garçonete, meias calças grossas, a galocha, seu casaco pesado, cachecol e gorro e saiu para rua enfrentando a neve e seus fantasmas.
Chegou um pouco atrasada. Ainda não estava habituada aos horários do transporte público, uma vez que seu carro permanecia retido pela polícia desde o acidente. Correu até o fundo da loja trocou os sapatos, guardou o casaco junto com sua bolsa, não entendia porque a carregava. Talvez mais pela força do hábito do que uma necessidade.
Arrumou o rabo de cavalo que havia se desfeito pelo uso do gorro, respirou fundo como sempre fazia e adentrou o salão. Instantaneamente um meio sorriso apareceu em seu rosto, pegou o bule de café e começou a servir as mesas. Definitivamente esse não era o seu turno.
— Querida, devia colocar ao menos um batom nesses lábios o seu rosto é tão pálido. — Lilian ouviu a voz irritante da funcionaria mais velha da casa reclamando novamente sobre a sua aparência.
— Hábito noturno, Doris. — Lilian responde tentando se controlar ao máximo — É melhor trabalhar da forma menos atraente possível na madrugada para evitar investidas desnecessárias. — seguiu com sua explicação para com a outra que não lhe deu ouvidos.
Lilian detestava essa intromissão de Doris sobre a sua aparência e também sobre a forma como trabalhava. Desde que chegou a esse turno a mulher olhou Lilian de cara feia e não dava trégua.
— Apenas lembre-se: Não está mais no turno da noite.
— Sim senhora.
Doris não gostou da vinda de Lilian para o seu turno, já o comandava a tempo demais. As outras garotas já estavam dentro de seus moldes fazendo tudo da forma como ela gostava e já no primeiro olhar que deu em Lilian há dois dias sentiu que com esta não seria da mesma forma.
— Respira Lilian e não discute que o dia passa logo e enfim vamos para casa. — Maggie a garçonete mais jovem da casa tinha apenas vinte anos. Lançou um sorriso acolhedor para Lilian e correu atender o Sr. Walter um dos clientes mais antigos e habituais da lanchonete.
E foi o que Lilian fez, respirou fundo, não queria arrumar confusão principalmente com a funcionária mais antiga e também seria por poucos dias logo seu caro seria liberado e poderia voltar para o esquecimento e escuridão de sua madrugada.
Aquele sol todo chegava a lhe dar ânsia de vômito, pois podia ver a felicidade fingida nos rostos das pessoas. A noite não era assim. Nela podia ser visto as verdadeiras faces que aqueles raios de sol camuflavam.
Já estava próximo do final de seu turno quando o barulho daquele sino irritante tocou e pela porta passou um homem que sempre destoava dos outros. Não era apenas por causa do seu tom de pele, o que chamava atenção naquele homem era seu jeito altivo e onipresente.
Todas as três garçonetes o avistaram procurando um local para sentar. Maggie estava mais próxima, porém entendeu a olhada de Doris e a deixou que o atendesse. Lilian que estava atrás do balcão permanecia imóvel com seus olhos verdes retidos naquele homem que a intrigava.
— Acorda! — Doris estala seus dedos e tira Lilian do transe — Anda logo com esse pedido não faça o homem esperar!
Lilian corre para fazer o que havia sido solicitado, algo bem simples, apenas um pedaço de torta de frango. Cortou e colocou com todo cuidado no prato. Quando ia fazer menção para Doris servir viu que estava entretida em uma mesa, então muda de estratégia.
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Amargos Segredos [Completo]
General FictionToda pessoa tem direito a uma segunda chance? Theodore Issac nasceu órfão ficando à mercê do mundo. Graças ao destino sua trajetória segue outro rumo. Consegue vencer os obstáculos e se torna um cirurgião famoso em Nova York, porém a vaidade e arr...