Capítulo 32

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Lilian desceu ligeira do carro de Doris. Queria sair o mais rápido possível de  sua presença, apenas aceitou a carona porque queria sair de perto de Theo. Subiu as escadas até seu apartamento no terceiro andar rapidamente. Queria livrar-se daquelas roupas e comer alguma coisa. Assim que abriu a porta jogou sua bolsa e seu casaco sobre a mesa que ficava próxima a porta de entrada.

Esse comportamento desleixado de Lilian veio junto com a sua desistência de vida o que piorou muito nesses últimos meses. Lilian já foi uma mulher extremamente organizada, asseada e vaidosa, hoje não havia nem um lampejo da mulher que um dia foi.

Foi até a cozinha intransitável que era separada do resto do apartamento apenas por um balcão. Quando começou a trabalhar na lanchonete sempre se alimentava por lá, mas agora mal conseguia sentir o cheiro do café que servia.

Abriu a geladeira e dessa vez a luz não a incomodou, a claridade do dia já estava fazendo esse papel. Encontrou a geladeira praticamente vazia. Continha nela apenas uma garrafa de leite já pela metade, um pedaço duvidoso de queijo e a caixa de pizza do dia anterior. Essa seria a sua escolha, pegou um pedaço do que havia sobrado e come frio. Fez o caminho de volta para a sala agora livrando de suas galochas sujas de lama e seguiu até o seu quarto.

Se a sala estava uma bagunça o quarto de Lilian superava. Era praticamente inóspito até para os insetos. Suas roupas estavam jogadas por todos os lados, nunca se preocupou em comprar guarda-roupas, continuou com a arara improvisada e ali deixava pendurado algumas camisas e vestidos que nunca eram usados. Lilian usava basicamente apenas o seu uniforme de garçonete, afinal quando não estava vestindo ficava em casa dormindo a maior parte do tempo.

Jogou-se na cama como estava, ajeitou o travesseiro terminando de comer o pedaço de pizza. Tentou se afundar em meios a suas cobertas, mas aquela claridade irritante de fim de tarde não a deixou dormir. Esse era o horário em que Lilian estava saindo para ir trabalhar e agora fazia o oposto. Sua cabeça latejou. Foi quando lembrou o contato mesmo que sutil da mão de Theo em volta de seu rosto.

— O que está fazendo com você mesma? – Lilian falou alto ainda deitada em seu colchão – Não percebe que isso não irá acabar bem? Nada termina bem com você Lilian Stall! Nem as porcarias de suas tentativas de suicídio são eficazes! É uma inútil, nem bonita é mais. Está com quase quarenta anos e o que fez da vida? Uma grande merda!

Lilian jogou para o lado as cobertas e foi para o banheiro. Precisava de um banho. Quem sabe assim a água levasse embora um pouco dessa dor que crescia em seu peito.

— Ele parece ser um homem bom. – Lilian falava ainda sozinha agora em um tom mais baixo – Afinal te salvou de ir presa de novo, dessa vez iria para o local certo e não para onde lhe mandaram da outra vez. – olhou-se no espelho assim que terminou o banho, seus cabelos ainda estavam encharcados, as gotas de água se acumulavam ao redor de seus pés – Tem que o afastar. Chega de estragar vidas. Chega de ser esse câncer descontrolado nas pessoas, a única droga de vida que merece ser destruída é a sua e está na hora de ser competente pelo menos nisso! – e torna a alterar o tom de sua voz.

No dia seguinte após o trabalho como prometido Lilian foi até o hospital para que Theo olhasse o seu ferimento. Sentia completamente desconfortável naquela sala de espera. Estava revivendo o tinha acontecido naquele dia do atropelamento.

— Senhorita Stall, pode entrar o Dr. Isaac a aguarda. – a enfermeira que anunciou era diferente daquele dia fatídico, de alguma forma sentiu-se aliviada.

Lilian caminhou devagar até a sala no final do corredor. Pelo caminho passou pela sala em que viu a vida do rapaz indo embora, sentiu seu estômago embrulhar e apertou o passo, queria sair daquele local o mais rápido possível.

Amargos Segredos [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora