Capítulo 30

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Stanley, Idaho - 12 de Janeiro de 2014.

Carl não viu quando o filho mais novo saiu do sobrado. A bebida já tinha feito a sua parte e o homem velho estava completamente adormecido em sua poltrona velha. O barulho alto que vinha da televisão não conseguia atrapalhar esse sono, até embalava.

Don saiu todo eufórico. Jennifer havia enviado uma mensagem de texto pedindo que a encontrasse na trilha atrás do colégio. O dia já tinha se despedido e a noite começava a tomar conta. O frio também estava de cortar, mas isso não preocupava Don. O que ele queria era estar com Jennifer e depois da última mensagem que recebeu mal conseguia acreditar que aquilo aconteceria.

— Jennifer? — Don chamava baixinho assim que chegou ao lugar indicado por ela. — Jennifer? — chama agora um pouco mais alto.

Nesse instante diversos faróis são acessos cegando Don de imediato. O menino assustado levou uma das mãos sobre os olhos tentando amenizar aquele incômodo e assim poder ver quem estava naquele local. Seu corpo congelou e não era pelo frio. Soube no momento em que aquelas luzes foram acessas que havia caído em uma armadilha.

A voz rouca do seu mais famoso perseguidor começou ecoar. De sua boca saia às mensagens que foram trocadas entre ele e Jennifer durante esses dias.

— O que você fez com ela?

Don sentiu uma dor no estomago. Stephen tinha encontrado o celular de Jennifer e leu as mensagens que havia trocado? Sentiu medo. Ou aquele cretino tinha feito a doce Jennifer lhe mandar a mensagem de texto? Pior! Ele mesmo poderia ter enviado se passando por ela.

— O que acha que deveria fazer? Fala pato? Se fosse você e pegasse sua namorada te traindo com um lixo o que faria?

— Cadê ela? —ainda cobria com uma das mãos a claridade tentando ver onde Stephen estava e percebe que o rapaz não estava sozinho. — Quem mais está aí com você?

— Algumas pessoas vieram ver o idiota completo que você é pato. Desliga essa joça! — Stephen fala com o rapaz no comando da caminhonete — Deixem que ele veja o quanto é burro!

Stephen pula da caminhonete assim que o farol é abaixado ficando mais fraco, apenas com luz suficiente para que Don visse que praticamente todo o colégio, inclusive Jennifer, estavam ali com Stephen rindo.

— Cara! Tu acreditou que Jennifer sentia algo por você? Para quem tira notas tão boas pensei que fosse mais esperto. — Stephen estava agora frente a frente com Don.

— Por que fez isso, Jennifer? — Don olhou para garota dos seus sonhos ainda não querendo acreditar no que ela tinha feito.

— Por que é divertido. — Jennifer responde sem hesitar.

— Ei! — Stephen chamou Don que fez menção em ir embora — Aonde pensa que vai?

— Embora. Você ganhou Stephen me fez ser motivo de zombaria novamente.

— Você não vai embora assim tão fácil. Não veio aqui pelo beijo que ela prometeu te dar?

Don vira de costas para Stephen tentando segurar o choro e a vergonha. É quando sente seu corpo ser lançado para longe. Stephen lhe defere um empurrão fazendo com que caia no chão coberto de neve.

— Seu filho de uma puta! Acha que pode ficar olhando para as namoradas dos outros e não ter consequências? E pior querer beijá-las! Levanta!

— Foi ela quem veio falar comigo...

Don não terminaria a frase assim que levantou. Apenas uma dor latente invadiu seu estomago fazendo seu corpo arquear para frente. Stephen puxa Don pela cabeça. Don conseguiu ver todo ódio nos olhos daquele garoto e novamente outro soco no estômago. Havia gritarias, risos, batucar de mãos sobre os carros diante daquela cena injusta e cruel.

Novamente um soco no estômago. Don cai no chão. Stephen avança agora lhe dando diversos pontapés. Jennifer se aproxima rindo, mas logo para percebendo que Don não se mexia.

— Para Stephen. — esse a ignora continuando a dar chutes em Don — Para! Stephen, para! — Jennifer grita e puxa o namorado pelo casaco.

— Que foi! — o rapaz volta-se para ela nervoso — Ele tem de aprender que você é minha!

— Ele aprendeu! Para, ele nem está mais se mexendo.

— É cara, deu. — um dos amigos de Stephen vem perto — Vamos embora daqui, senão isso ainda vai dar merda.

— Vem Stephen! — Jennifer puxava Stephen pelo casaco — Vamos embora.

— Isso é para você aprender seu idiota que ela é minha!

Deu mais um chute e volta para caminhonete. Os outros adolescentes que ali estavam também pararam de rir e correm para seus carros deixando Don estendido no chão duro e gelado sozinho.

Assim que o silêncio cobriu novamente à noite. Don mexeu e se permitiu voltar a respirar. A dor era excruciante. Stephen já havia lhe batido antes, mas não com tanta intensidade. Porém não era isso que o dilacerava e sim o que Jennifer havia feito. Como ela pôde ser tão cruel ao ponto de fazer com que ele acreditasse que os dois eram possíveis.

Levantou como conseguiu e caminhou devagar de volta para casa. Fazia aquele trajeto rápido, mas devido à dor demorou mais de uma hora em voltar e assim que chegou até o sobrado percebeu que seu pai não estava mais dormindo. Tentou passar despercebido, não conseguiu.

— Onde estava seu imprestável? — Carl estava em pé ao lado da geladeira pegando outra lata de cerveja.

Don passa por ele sem responder. Desejava subir para o seu quarto e ficar ali para sempre sem ter de ver o rosto de mais ninguém. Queria chorar. Precisava chorar. As lágrimas começavam a descer. Já não era possível controla-las.

— A mocinha está chorando? — o pai depois de muitos dias enfim olhou para o rapaz.

— Me deixa em paz! — Don não aguentou mais tanta humilhação e fala alto com o homem.

Vagabundo! Acha que é quem para falar assim comigo? Seu imprestável!

— Imprestável? O único imprestável que vejo é o senhor!

O tapa em seu rosto rosado veio seco e certeiro. Don que ainda tentava equilibrar-se de pé por conta da dor que sentia em seu abdômen não resiste e cai no chão de madeira.

— Sai daqui moleque! Vai embora daqui... Seu...

— Vai fala o que sou. Sempre quis dizer não é? Aproveita e diga o que sempre quis dizer que sou: um assassino! Que a culpa da mãe ter morrido é minha, vai, anda, diga!

Carl não falou, mas quis. Algo dentro dele fez com que controlasse esse impulso. Se tivesse feito nunca se perdoaria. Don levanta do chão ainda encarando o pai e sai do sobrado.

xXx

Já era madrugada de segunda-feira e Don caminhava a esmo por Stanley. Sua cabeça doía como o resto de seu corpo que praticamente congelava. Mandou algumas mensagens para o celular do irmão que não retornou. Tudo que passou na trilha e depois em seu lar não saia de sua cabeça. Não tinha para onde ir. Não tinha sentindo em viver. Não pretendia voltar para escola depois do que aconteceu. E não voltar significava em não ir para uma universidade. Don estava em completo desespero.

Quando o farol no fundo da ponte de ligação de Stanley com o resto do mundo apontou não pensou duas vezes e caminhou em sua direção de olhos fechados. Apertou os passos e os olhos e então tudo escureceu.

Seus olhos abriram novamente por um instante para logo em seguida fechar e nunca mais abrir. Quando fez isso pôde ver uma mulher bem próxima ao seu rosto. Seus olhos eram verdes, apenas viu isso, a cor daqueles olhos. Não sentiu quando ela lhe tocou a dor que vinha dentro de seu corpo não permitiu. Quis agradecer a mulher. Mas nenhuma palavra sairia daquela boca. Enfim fechou os olhos e a escuridão novamente o abraçou. 


xXx

E aqui termina mais essa parte. Os próximos capítulos são da parte final dessa três pessoas que se uniram através do inesperado, cada uma com a sua bagagem de dor. O destino de Don nós já sabíamos desde o começo agora nos resta saber como será o Lilian e Theodore. Encontro vocês no próximo capítulo. Beijos! 

Amargos Segredos [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora