Capítulo 37

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Brooklyn, Nova York - 10 de Março de 2015.

A água descia límpida e cristalina da torneira de aço brilhante limpando as mãos sujas do médico após o termino de mais uma operação. Essa era a rotina do Dr. Isaac depois de ter abandonado Stanley.

Theodore estava novamente inserido ao caos controlado de sua cidade natal, aquela que nunca deveria ter saído. Quando seus pés tocaram novamente aquele asfalto e seus olhos avistaram os arranha-céus soube que pertencia aquilo. A paz que buscou em Stanley jamais poderia ser alcançada. A prova disso culminou a morte de Tim Campton.

Dr. Isaac, como vinha sendo chamado a mais ou menos oito meses em um hospital público do Brooklyn. Dessa vez caminhou com seus próprios pés. Eileen já havia ajudado além do necessário. Estava mais do que na hora de agir por conta própria. Enfrentar seus demônios de cabeça erguida e firme. Retornou ao antigo bairro em que viveu com Martin Brooks. O seu mundo era esse e não aquele que viveu por anos e que lhe roubou a sua essência. Agora Theo tinha a consciência de que um homem não precisa de muito para ter uma vida justa.

O vício precisava ser tratado. Tudo havia sido perdido com aquele gole de frustração por conta da atitude estúpida da mulher ruiva. Ou seria a sua própria estupidez de ter se deixado levado pela raiva eminente? Sabia que a culpa era mais dele do que a dela. Frequentava regularmente duas vezes na semana as reuniões dos alcóolicos anônimos.

Theo nesse meio tempo entre o último emprego e o atual foi voluntário em um desses abrigos espalhados pela cidade. Tentou repassar para aqueles jovens desacreditados o que um dia aprendeu. Gostou daquilo e sempre nos dias de folga se dedicava aqueles meninos que vieram do mesmo lugar que ele, mas que de alguma forma não tiveram a mesma sorte. O médico tinha um caminho longo pela frente e pretendia percorrer da melhor forma, a sua teimosia faria se manter reto nessa estrada repleta de desvios.

Lilian não teve a mesma força de vontade sobre sua vida. Sua alma não tinha nascido guerreira como a do menino órfão. As dificuldades em sua vida apareceram tarde demais. Uma infância protegida e uma adolescência facilitada não preparou Lilian para as diversidades da vida.

Como Theo, Lilian abandonou Stanley. Dias após o último encontro deles a ruiva daria adeus às belas montanhas cobertas de neve. Igual ao homem que havia lhe devolvido um pouco da vida que lhe fora arrancada retornou ao seu local de origem. E dessa vez fez o que deveria ter feito quando foi liberta para o convívio em sociedade.

Lilian caminhou por aqueles gramados secos e escorregadios por conta da água que descongelava. A morbidez era notória tanto pelo silêncio ensurdecedor quanto pelas lápides indicando que ali era a última morada do corpo físico.

O pequeno Jack Jr. foi enterrado juntos de seus ancestrais mais ilustres. Em sua lápide estava escrito em letras enormes "Amado Neto". Lilian passou seus dedos trêmulos sobre aquelas letras gravadas eternas no granito. Em seu coração pedia perdão. Por ter lhe dado vida e depois lhe arrancado daquela forma cruel.

Ao lado do seu pequeno e indefesso filho a sua amada mãe estava descansando. Como se velasse aquele pequeno ser que ficou entre os vivos por tão pouco tempo. Lilian sentou com as costas coladas naquela pedra imponente e também agradeceu por todo o amor e cuidado que recebeu daquela alma generosa que um dia atendeu pelo nome de Margareth.

O ar começou a incomodar seus pulmões. Estava na hora de ir para outro destino. Novamente dentro daquele fusca velho dirigiu-se até a casa de sua infância na rua mais importante de Florence. Lá estava à casa de três andares com as enormes árvores de carvalho a emoldurando. Não se atreveu descer do veículo que lhe protegia, mas pode ver a silhueta de um homem com mais de sessenta anos abandonar a imensa sacada voltando para o abrigo daquele lugar que um dia fora um lar.

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