Epílogo

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Brooklyn, Nova York - 10 de Março de 2015.

De mãos lavadas e jaleco trocado o médico olhou para o relógio colocado de forma visível a todos no corredor azulado do hospital. Seguiu em direção ao quadro de aviso desviando das pessoas que lotavam aquele lugar.

Observou a tela branca repleta de escritos e seu nome não constava mais entre os colegas. Theo poderia dar-se o luxo de fazer uma pausa. Ansiava por um cigarro. Vício maldito que não conseguia largar e que de certa forma nunca se esforçou em perder.

— Amor da minha vida... – Theo brinca com a enfermeira chefe. Uma mulher que lhe lembrava Clair do seu tempo de garoto e só por esse fato gostou dela assim que a viu na primeira vez – Vou fazer uma pausa, qualquer coisa me bipa.

— Tudo bem, Dr. Isaac. – a enfermeira suspira – Um dia ainda irei acreditar no que me diz.

— Ainda duvida? Devo estar fazendo tudo errado! – Theo caminhava de costas em direção à saída dando para a enfermeira o seu melhor sorriso.

— Sai daqui! – a mulher lhe acena sem conseguir disfarçar sua alegria.

Theo em pouco tempo havia se tornado um dos médicos favoritos daquele hospital. Um médico com todo aquele talento e ainda humano era algo de se admirar. Geralmente se colocam acima dos outros menosprezando os cargos menores, Theo se mostrava diferente dava a mesma importância a todos. Mas isso acontecia agora, se a enfermeira soubesse tudo que ele havia sido e passado entenderia que aquele comportamento era a forma encontrada de se redimir.

O ar gelado de sua saudosa Nova York invadiu seus pulmões que logo seriam preenchidos pela fumaça preta e quente do cigarro recém-aceso. Tragou como se fosse fazer aquilo pela última vez. E enfim veio o alívio que buscava.

Não era apenas de cigarro que Theo procurava. Precisava também de um café quente para lhe dar animo e assim seguir com o seu plantão. Atravessou a rua e caminhou algumas quadras até a cafeteria mais próxima. Antes de entrar deu a última tragada e apagou a butuca do cigarro quase imperceptível.

Não conseguiu evitar o suspiro de desânimo que emitiu ao constatar que o café demoraria a invadir seu paladar por conta da fila de pessoas que aguardavam serem atendidas. Precisava daquele café e sendo assim, resignou-se a encarrar aquele mísero obstáculo que comparado a tantos outros que havia enfrentado em sua vida era apenas um grão de areia.

— Meu Deus! Theodore Isaac! – uma voz completamente desconhecida tomou conta da audição de Theo. – Não acredito! É você mesmo! – a voz insistia e Theo virou-se para encarar a sua dona.

— Desculpe... Nós nos conhecemos?

Havia um enorme ponto de interrogação no rosto de Theo. Não fazia ideia de quem era aquela mulher de tom de pele igual a sua. Aqueles olhos negros fitavam ávidos os seus. Trazia consigo um sorriso largo naqueles lábios grandes e pintados de vermelho – lindamente pintados de vermelho – Theo fez questão de reparar nesse detalhe.

— Sim. – ela respondeu mantendo o sorriso – Mas sei que não se lembra de mim. Não teria como, apesar de termos crescidos juntos no St. Thomas.

— Tem uma memória incrível! – Theo ficou impressionado com o fato de ela ter se lembrado dele. Ele por outro lado não fazia ideia de quem seria aquela mulher linda em sua frente – Isso faz o que... Uns vinte anos mais ou menos.

— E você não mudou quase nada.

— O que deseja senhor? – pergunta o balconista tirando os dois daquela viagem ao passado.

Amargos Segredos [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora