The Puppet

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"Eu vou ser sincero, eu nunca gostei dessa marionete. Estava sempre... pensando, e pode ir em qualquer lugar... " — Cara do Telefone, descrevendo The Puppet, Noite 2 (FNaF 2)

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Will despertou.

Estava mergulhado da mais completa escuridão, embora pudesse ver vagamente a forma de um teto sobre sua cabeça.

O garoto suspirou, assustando-se com o som seco e estridente que saiu de algum lugar abaixo dele.

Tentava se lembrar do que havia acontecido, mas sua mente estava demasiada entorpecida, para que pudesse se recordar de qualquer coisa.

A única coisa que lembrava era de um homem de uniforme roxo.

E de sentir dor. Muita dor.

Ergueu-se, novamente confuso com o barulho ensurdecedor de algo metálico girando velozmente em alguma base mecânica. Não havia sinal de ninguém por perto.

O menino arfou, emitindo aquele guincho estranho, quando finalmente se recordou de tudo.

Estivera vendo a festa... o homem havia lhe dado comida... vira um brilho prateado, a dor de algo triturando seu pescoço por dentro, cortando-o em pedaços, fazendo algo quente espirrar para fora de seu corpo...

E então, a escuridão.

Will era jovem, mas, mesmo com a mente embaraçada e instável, tinha quase certeza absoluta que o homem de roxo o matara.

Mas então... por que ainda estava vendo e ouvindo tudo ao seu redor? Por que ainda parecia que estava vivo?

Baixou o olhar, pousando-o em suas mãos.

Sentiu um assomo de terror, ao se deparar com dedos negros, compridos e pontudos, que se mexeram quando gesticulou uma das mãos.

- O que... o que... aconte...ceu... comigo...?

Sua voz era pouco mais do que um sussurro rouco, uma freqüência de rádio formando palavras distorcidas.

Passou os estranhos apêndices em volta do pescoço, numa tentativa de sentir o ferimento que a faca lhe causara.

No lugar do corte, porém, sentiu apenas uma superfície amassada sobre um metal fino, que aparentava sustentar sua cabeça.

Will colocou-se de pé, ofegante e incrédulo.

Sentia-se dentro de uma carcaça estranha, como se tivessem transplantado seu cérebro para um cadáver feito de ferro.

Procurou, em meio á penumbra, algum lugar que o refletisse. Tendo vivido a maior parte do tempo nas ruas, era esperto o suficiente para supor uma explicação do por que ainda não morrera.

Mas se negava a acreditar. Tão absurdo... tão horrendo. Impossível.

Por fim, descobriu um espelho empoeirado, perto de um dos corredores em que entrara, apalpando, ás cegas, o ar ao seu redor.

Ergueu os olhos para o vidro, trêmulo.

Primeiramente, viu apenas dois pontos claros emergindo das trevas, onde deveriam estar seus olhos. Quando se aproximou, conseguiu ver o corpo magro, pintado como uma fantasia, e os braços que terminavam em longas garras, onde os dedos de Will deveriam estar.

O rosto, suavemente encovado e corado, agora era uma máscara, pálida de morte, com bochechas estilizadas e um grande sorriso aberto. o Rosto de um clássico pierrô.

Will reconhecia aquela figura.

Só não reconheceu as duas trilhas de lágrimas pintadas na máscara, que desciam de seus olhos vazios, em direção aos lábios vermelhos da marionete.

Sombras das que havia derramado, quando sua vida lhe fora roubada.

- Não... não, não, não... – ecoou outra vez a voz metálica, embora a boca da máscara não houvesse se mexido – is...so... não pode... aconte...cendo...

De uma coisa Will sabia. O corpo que tomara era de um dos animatrônicos da Fredbears.

Estava dentro do restaurante.

Ele pousou as mãos no espelho, parecendo se contorcer com o soluço que nunca conseguiu emitir.

O rosto do animatrônico jamais poderia traduzir o que Will sentiu naquele momento, paralisado para sempre, num sorriso maldito que nunca pretendera abrir.

Os joelhos robóticos do boneco cederam, fazendo com que o garoto ajoelhasse no chão, pousando a cabeça de metal no vidro do espelho.

Uma música soou perto dele, vinda de uma das salas próximas. Ela entorpeceu seus membros metálicos, parecendo dissipar toda a angústia e terror que o assolavam. Uma sensação estranha de conforto embalou Will, que virou a cabeça animatrônica em direção ao som, dando um suspiro rouco, e levando-o a se levantar e ir na direção da música,

Embora a escuridão imperasse, achou uma pequena salinha, decorada com objetos e decorações que Will nunca havia visto na Fazbears Family Diner. Entre elas, havia uma grande e colorida caixa de presente azul, de laço lilás, aberta com as abas para cima, como se esperasse ser preenchida por alguma coisa.

O menino envergou-se dentro da caixa, e focalizou a pequena caixinha de música, que parecia ter sido ativada ao cair da prateleira próxima.

Entrou na caixa de presentes, encolhendo-se em posição fetal, acariciando a pequena caixinha com os longos dedos.

As recordações das últimas palavras que ouvira, porém, o trouxeram de volta ao horror que experimentara há pouco.

Não se preocupe, garoto.

O garoto se encolheu.

Não se preocupe, garoto. Você nunca mais sentirá fome.

Will gemeu, estremecendo.

Eu prometo.

Ele era o culpado.

As mãos do animatrônico se contraíram, arranhando o fundo da caixa.

Tinha achado que a vida que havia levado nas ruas fora o pior castigo que poderia ter suportado.
Agora via que estava enganado.

Você nunca mais sentirá fome.

O homem roxo se enganara. Havia despertado uma nova fome em Will. Tão voraz e muito mais violenta do que qualquer uma que ele já sentira durante sua vida.

Havia condenado Will á ter uma sobrevida naquela carcaça mecânica. Era tudo culpa do guarda de segurança da Fazbears.

Prometeu á si mesmo que, um dia, se visse o maldito guarda outra vez, faria com que ele se arrependesse amargamente.

Quando tivesse a chance, faria de sua morte a dele.

Mais tarde, assim como ninguém percebera o desaparecimento de Will, ninguém notaria que a marionete animatrônica da Fredbears Family Diner poderia estar agindo diferente do habitual.

Ao menos naquele tempo, não havia motivo que justificasse alguém para vigiar o lugar. Ninguém se importaria em deixar um inofensivo animatrônico perambular á noite, sem machucar ninguém.

Talvez tivesse sido o pior erro.

Naquele momento, as amarras que ligavam Will á sua humanidade se soltaram, desconectando-o de toda e qualquer sensação humana, e fazendo-o assumir sua nova vida. E suas ações fariam com que Fazbears nunca mais fosse a mesma.

Á partir daquela noite, Will Stuart se tornou Puppet.



Five Night's At Freddy's: A OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora