Dê Presentes, Dê Vida

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Puppet parecia desligado, dormindo numa espécie de transe animatrônico, sem se importar com o que acontecia ao seu redor.

Já havia pegado o jeito de fazer aquilo. Tivera muito tempo para aperfeiçoar aquela pequena habilidade nos últimos dez anos.

Abraçado á sua caixinha de música, que tocava quase inaudivelmente dentro da caixa de presentes, não se interessou muito pela gama rouca de sons que ecoavam do lado de fora. Deveria ser algum funcionário estúpido xeretando a Safe Room outra vez.

Duas luzes brancas e minúsculas surgiram nos olhos vazios da marionete, indicando que Puppet acordara.

As mãos compridas tatearam a aba da caixa de presentes, guinchando o corpo magro para fora de seu cubículo. Não teria saído, se não fosse a vontade de pregar um susto em quem quer que estivesse ali, para que a pessoa voltasse a deixá-lo em paz, embora suspeitasse que já tivesse saído há um bom tempo.

No entanto, quando os dedos pontudos ligaram o interruptor da sala, Puppet finalmente vislumbrou o que causara tanto barulho.

Depois de tantos anos, quase não se podia dizer que a marionete – ou o espírito dentro dela - sentia alguma coisa. Mas o terror dominou cada dobradiça, cada viga e cada mola do corpo de metal, quando os olhos imateriais focalizaram as cinco figuras caídas no chão.

Não. Outra vez não!

Ele saiu da caixa, as longas mãos cobrindo a boca estilizada de sua máscara.

Via a obra de Purple Guy na morte daquelas cinco crianças.

Brandy ainda ostentava um olhar de surpresa, que contrastava terrivelmente com a garganta dilacerada. A cabeça de Bart havia ido parar tão longe de seu corpo, que Puppet mal reconheceu as duas partes como sendo da mesma pessoa. Oliver, o pescoço e o crânio rachados, parecia ser a única sem ferimentos, aparentando dormir serenamente, de braços abertos no chão da sala, o corpinho sujo do bolo que se despedaçara. Alfred e Frederick, caídos lado a lado, ainda tinham lágrimas escorridas nos ombros ensangüentados.

Ah, não. Ele arfou mentalmente. Tenho que salvá-los.

Recuou, surpreso, quando mais cinco formas surgiram no ar, imateriais, embora as vozes no local fossem claras e inconfundíveis.

Ahh... o... o que... o que aconteceu comigo?

O que está acontecendo?

O que... o que eu sou?

M...mamãe!

Um brilho de compreensão surgiu nos olhos brilhantes de Puppet.

Eles também estavam presos. Ficariam presos ali.

As sombras se tornaram mais nítidas, finalmente tomando uma forma mais humana. Embora todos com a mesma fisionomia que tinham em vida, os pequenos espíritos tinham uma cor acinzentada, com cicatrizes profundas no lugar dos ferimentos de seus corpos. A menor delas, de Brandy, ainda estava com o rostinho encolhido, voltado para o chão.

Todas as sombras estremeceram ao reconhecer seus antigos corpos. Um grito que mais parecia um uivo veio da sombra de Oliver, ao ver o cadáver de Bart ao seu lado.

Eu não entendo. Frederick guinchou, olhando atonitamente para a sombra de Alfred. O que aconteceu? O que houve?

Pela primeira vez desde sua morte, Will interagia com quem quer que fosse, sem intenção de matar ou assustar. Via, nos olhos sem vida daquelas crianças, a sombra de seu próprio martírio.

Five Night's At Freddy's: A OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora