Incêndio Na Casa de Horrores

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Springtrap envergou a cabeça, como uma criança curiosa, fechando as mãos descascadas em punhos.

Uma mistura de pânico e espanto percorreu o corpo de Belinda, que não conseguia desviar o olhar do cadáver animatrônico defronte a ela.

Nenhuma análise dos parcos vídeos das câmeras teria preparado a guarda noturna para ver, pessoalmente, a encarnação do mal da qual se protegera por longas e torturantes seis noites.

Ambos se encaravam, como se esperassem que o outro desse o primeiro passo.

- È você – sussurrou Belinda, apertando ainda mais o bolso da roupa.

Imóvel, a mulher não se virou para trás, quando o guincho de Brandy ecoou em sua mente.

Deixe-a em paz, papai!

Belinda sentiu como se um balde de água fria tivesse sido despejado em sua cabeça;

Papai.

Ele era o pai de Brandy.

O horror fez Belinda ofegar, arrepiando-se.

Sim. As vozes de Brandy e Bart se uniram num dueto mórbido. Ele nos matou.

Ouvia um murmúrio baixo, como um rosnado rouco e sibilado, que ecoava da máscara do coelho esverdeado.

Dentro do traje, Purple Guy analisava a fraca e patética presa a sua frente, analisando que parte do corpo mirrado despedaçaria em primeiro lugar.

Por alguma razão, Belinda não conseguia, apesar de tudo, temer verdadeiramente o monstro diante dela. Observar, pela primeira vez, no que o corpo amaldiçoado se transformara, só a fez sentir um misto de pena, fúria e determinação.

O ar, frio e denso, envolveu-a ás suas costas. Pelo reflexo, atrás de Springtrap, Belinda viu todos os fantasmas em sua retaguarda, colando-se ao seu corpo, recobrindo-a com calafrios.

Num segundo, resolveu desviar o corpo ao recuar.

Foi neste exato momento que Springtrap avançou, sibilando, os braços circundando onde Belinda estava e, para seu azar, agarrando o ar, se desequilibrando por um breve momento.

Belinda tropeçou, caindo de joelho no chão. Impulsionou-se para cima, disparando escritório afora, apalpando febrilmente os bolsos. Puxou o isqueiro para fora, correndo ao longo do corredor, ouvindo os passos de Springtrap logo atrás dela.

Não teve coragem de olhar para trás, nem mesmo para checar onde o animatrônico estava.As luzes piscavam ao seu redor, e as sombras pareciam querer engolfá-la como feras inconsistentes.
Sabia que Springtrap conhecia todos os atalhos do local. E, mesmo tendo se familiarizado com as passagens,a través das câmeras, o pânico confundiu seus sentidos, fazendo-a se perder em meio ao labirinto de cômodos.

Qual é o seu plano?

Uma voz nova surgiu, sombria e preocupada, dentro de sua cabeça. Belinda olhou, de relance, o fantasma de Mangle encarando-a do teto mais próximo.

Enquanto olhava por qual direção prosseguiria, Belinda apontou pra o isqueiro em sua mão. Escolhendo o primeiro corredor á direita, continuou andando rapidamente, procurando algum lugar para se esconder ou fugir.

A voz de Lucy, resignada e profunda, voltou a vibrar em sua mente.

Faça. Faça agora. E fuja.

- Mas e vocês? – Belinda arquejou, os olhos saltando, quando percebeu que Springtrap sumira.

Um uníssono de vozes mergulhou da mente de Belinda.

Não se preocupe conosco! Faça!

Belinda engoliu em seco, contraindo o rosto.

Desesperada, sem saber onde seu perseguidor estava, e finalmente sem saber o que fazer á seguir, a mulher acendeu o isqueiro, e jogou-o na rede elétrica do corredor.

Os cabos e tomadas mais próximos se incendiaram, lançando chamas e fagulhas ao longo de toda a rede elétrica por dentro das paredes de madeira e plástico.

Atrás de si, Belinda viu o início do corredor ser engolfado pelas chamas, que já despedaçavam o fraco forro acima dela. O local inteiro iluminou-se com as luzes do fogo infernal, que começara a consumir a construção.

A fumaça tomou conta do corredor, fazendo Belinda tossir e seus olhos lacrimejarem. Continuou correndo, sem direção, sentindo as lagrimas banharem seu rosto, quando pensou no como aquilo provavelmente terminaria. Se o animatrônico não a matasse, o incêndio faria isso;

Arrependeu-se amargamente.

Não de ter tomado aquela decisão... sabia que fora a coisa certa a fazer.

Mas se arrependeu de não ter feito todas as coisas que devia antes de começar aquilo. Poderia ter pedido uma pizza de manhã, e dividido-a com John, ouvindo e rindo pela décima vez sobre a piada dele que explicava para que servia um óculos vermelho. Podia ter brincado uma última vez com a bolinha preferida de Luna, e rido quando ela tivesse descido a escada rolando feito uma bolinha felpuda, como sempre fazia. Podia ter ligado para os pais em Nova York, e dito que os amava, que sentia saudades, e que eram os melhores pais do mundo.

E, agora, tinha certeza que nunca mais teria outra chance.

Você ainda tem uma vida. A voz de Bart ecoou em meio ás chamas. Você quer nos devolver nossa liberdade. Podemos lhe dar uma única chance. Precisa aproveitá-la.

O teto forrado atrás de Belinda despencou, caindo com um estrondo atrás dela. A explosão mais próxima a fez desabar no chão, com som surdo, sentindo os ossos do braço se quebrarem.

Choramingando de dor, continuou a se arrastar em frente, a cabeça entorpecida e a visão anuviada pela fumaça, que começava a intoxicá-la,

A ventilação.

Belinda ofegou, focalizando, de olhos cerrados, a abertura ao lado, que levava á ventilação do prédio.

Era a única forma de sair.

Com o fogo se alastrando pelo chão, Belinda não teve escolha. Arrancou a grade que recobria a ventilação, entrando dentro dela e recolocando a tampa atrás de si.

Começou a engatinhar, soluçante, pela tubulação. A fumaça do incêndio começara a entrar pelos dutos, entupindo suas vias respiratórias. A tosse aumentou, e Belinda sentiu seu corpo fraquejar, entorpecido.

Via uma nesga de luz mais adiante, diferente da luminosidade das chamas, provavelmente vinda do estacionamento.

Você está perto. Continue.

O duto estremeceu quando Belinda voltou a se arrastar, aflita. A tontura recobria sua mente, fazendo com que a mulher mal conseguisse sustentar a cabeça.

Faltando ainda alguns metros para o fim do duto, porém, sentiu seu tornozelo ser agarrado violentamente por uma mão pontiaguda, cujos dedos fincaram-se em sua carne como navalhas.

Belinda girou de dor, tentando desvencilhar-se dos dedos engatilhados de Springtrap.

Olhou para trás, apavorando-se ao ver a máscara chamuscada e demoníaca do animatrônico, que a fitava cinicamente por trás do sorriso deteriorado.

Usando as poucas forças que lhe restavam, Belinda impulsionou o pé livre contra a cabeça de Springtrap, que soltou sua perna, sibilando violentamente.

Continuou esgueirando-se pela ventilação, desesperada, á poucos centímetros da abertura que levaria para fora de Fazbear's Fright, sentindo Springtrap atrás dela.

Foi quando a ventilação, subjugada pelo peso dos materiais em combustão, cedeu.

Uma pancada forte poupou Belinda de mais sofrimento, e, ao seu redor, imperou a escuridão.



Five Night's At Freddy's: A OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora