Mike Schmidt

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MARÇO DE 1988


"Blá. Blá. Blá, Blá. Blá. Esse anúncio não tem nada a ver com qualquer coisa relevante. Blá. Blá. Blá. Blá. Blá. As chances são de que você não vai passar nem de três noites. Blá. Blá.Blá. Blá. Essa provavelmente não é a melhor escolha para emprego de verão, já que você provavelmente não vai sobreviver a semana. Eu recomendo você ser um caixa, ensacolador ou trabalhar num armazém. Eles são todos trabalhos muito responsáveis, e provavelmente você não morreria neles. Bem, você poderia. Mas seria muito improvável. Blá. Blá."

Mike Schmidt estreitou os olhos, relembrando os aconselhamentos que havia lido no anúncio de seu novo emprego.

Alternou as câmeras diante de si, observando cada divisão da pizzaria. Nas primeiras duas horas de sua primeira noite, já decorara as câmeras da área de refeições, corredor leste, corredor oeste, banheiros, bastidores, cozinha, depósito, Enseada do Pirata e palco, e revezava, entediado, a visão chuviscada de cada uma.

Irritava-lhe pensar em que situação financeira o estabelecimento se encontrava para fornecer um suprimento tão escasso de energia. Mal dera uma olhada no painel, e já tinha menos de oitenta e sete por cento de capacidade.

Manteve-se de olho na cortina estrelada da última, observando a pequena placa de "DESCULPE! FORA DE FUNCIONAMENTO!" que decorava a frente das cortinas.

Havia sido previamente avisado do comportamento dos animatrônicos durante a noite, e não se surpreendeu muito quando viu Bonnie descer do palco em sua respectiva câmera.

Porém, os sussurros inaudíveis no Escritório ameaçavam berrar alguns metros adiante.

Há outro! Ecoavam as vozes, preenchendo a área de refeições.

Como é possível? Alfred garantiu que se livrou do guarda noturno!

Ele está de volta. De algum modo, ele voltou

Impossível.

Não importa quem seja! Exclamou Frederick. Se está aqui, é para nos vigiar, como fez o último. Pode ser um amigo ou qualquer outra coisa dele. E com certeza quer nos assombrar outra vez!

Ele não vai nos deixar em paz. Brandy soluçou. Nem mesmo... nem mesmo agora.

Não vamos deixar mais ninguém invadir nosso abrigo. A voz de Golden Freddy chiou. Sendo ele ou não, essa pessoa não quer nos ajudar. Não devia estar aqui.

Mas Alfred, sussurrou Oliver. E se fizemos tudo errado? E se o guarda noturno... o de antes.. e o de agora... e se eles queriam realmente saber o que está acontecendo com a gente?

Eles não são amigos, Oliver! Eu vi, quando o coloquei lá. Sabia que ia morrer, e não se importou nem em se desculpar! Provavelmente não gostou de ser enfiado num traje, como fez conosco! E este novo não será diferente!

Nenhum deles se atreveu a discutir. A convicção, vinda do espírito mais atormentado, pareceu extrair quaisquer dúvidas. Se Golden Freddy tinha tanta certeza, quem eram eles, cujas mortes foram tão rápidas e invisíveis, para protestar contra sua certeza?

Chica baixou a cabeça.

Está bem. Frederick finalmente se rendeu. Mas com uma condição. Você não irá mais até lá. Não vai interferir. Já fez isso uma vez, e não precisa fazer novamente.

O silêncio de Golden Freddy soou aos demais como uma concordância.

Mike não partilhou de nenhum movimento dos animatrônicos durante a oculta e despercebida conversa.

Sem Golden Freddy para invadir o escritório, os outros quatro animatrônicos usaram os mesmos esquemas que haviam angariado contra Howard Mabel, mantendo as mesmas abordagens.

Porém, a despeito da decisão de Alfred, pensaram em apenas apavorar o novo guarda de segurança, o suficiente para que este não retornasse novamente, caso não conseguissem atacá-lo. Por algum motivo, Chica e Foxy não se sentiam á vontade com a perspectiva de conseguir matar o novo guarda noturno, embora Alfred tivesse jurado que aquele homem, assassino ou não, queria lhes prejudicar.

O que os espíritos não desconfiavam era que Alfred, depois de tanta amargura e sofrimento, elevara seu conceito de vingança á um nível bem maior do que imaginavam. Mesmo que o homem que matara fosse mesmo o assassino, sua angústia com aquela semivida o fazia querer mais. Queria que todos os funcionários da Fazbear sentissem a dor que havia sentido, e tivessem a morte a qual Purple Guy o condenara.

Sua relação parasita com a carcaça dourada se sincronizara de tal modo que a fantasia de Golden Freddy fundiu-se ao seu espírito, perdendo sua forma física e tornando-se sua aparência incorpórea.

Podia muito bem ir pessoalmente ao escritório e massacrar o novo guarda. Mas o apelo de Frederick parecia prendê-lo á Safe Room. A súplica do irmão parecia ter resgatado um pouco da sanidade e conforto que perdera em todo aquele tempo. Respeitaria a vontade dele.

Mas suas idéias reverberaram nos outros, e, agora, quatro estariam no encalço de Mike Schmidt.

Foi uma péssima semana para o novo guarda.

Ouvira mensagens arrepiantes do guarda anterior, que deixara mensagens para o ajudar a trabalhar durante aquele período. Teve que alternar entre ouvir as palavras chiadas da gravação, checar todas as câmeras e sentir sua pressão baixar, cada vez que via um dos assustadores animatrônicos aproximando-se do escritório.

Alucinações terríveis o assolavam, fazendo seu sangue gelar. Via, diante de seus olhos, flashes de bonecos, distorções e sombras assustadoras. A frase imaginária SOU EU parecia piscar diante de sua retina, aumentando ainda mais sua paranóia. Começara a ver coisas onde elas não existiam, e sentia sua mente e corpo enlouquecerem de aflição.

Na quarta noite, logo após agarrar a borda da mesa, depois de fechar a porta que Foxy começara a socar, ouviu um eco igualmente perturbador na gravação do telefone.

Uma risada ecoante e lenta atravessou o corredor da porta que fechara, enquanto, para seu horror, ouvia o desespero na voz de seu mentor eletrônico, antes de um grito diabólico cortar sua ligação.

Pensara em desistir após aquela noite, tendo acabado de sobreviver á mais uma abordagem dos personagens de Freddy Fazbear's Pizza. Mas teria de trabalhar até o fim, se quisesse receber o parco dinheiro que precisava para auxiliar a mãe doente.

Sem a voz recentemente familiar do último segurança – que suspeitava ter tido azar de não sobreviver aos animatrônicos – Mike se sentiu cada vez pior, perto de ter um colapso nervoso, quando chegou á sua sétima e última noite na pizzaria.

Foi assim que Mike se apresentou á chefia no dia do pagamento, o olhar nervoso traçando cada centímetro do cômodo, tão agoniado que nem trocara suas roupas de trabalho, molhadas de transpiração.

Num desespero imenso, chegara mais cedo ao expediente na noite anterior e mexera nas conexões doa animatrônicos, tentando impedi-los de agir anormalmente.

Após receber o cheque de cento e vinte dólares, saltou o olhar ao encarar uma nota rosada, abaixo do cheque.


NOTA DE DEMISSÃO

(Está demitido)

RAZÃO: Interferir nos animatrônicos, falta de profissionalismo em geral, odor.

Atenciosamente, mnmgt


Com o dinheiro necessário em mãos, e apenas uma observação sarcástica sobre o último item, engasgada na garganta, Mike Schmidt teve que refrear um sorriso de alívio.

E, distante do escritório central, alienados do que acontecia, Freddy e seus amigos não suspeitavam do evento catastrófico que viria a ocorrer em breve.

Five Night's At Freddy's: A OrigemOnde histórias criam vida. Descubra agora