1983
5 DIAS ATÉ A FESTA
Jason Mills olhou para cima, soluçante.
- Terrence! Me deixa sair!
Uma risada alta e deliciada ecoou do lado de fora de seu quarto.
O garoto sacudiu a maçaneta da porta, sem conseguir abri-la.
Os olhos castanhos se arregalaram de angústia. Jason começou a chorar.
Odiava quando tinha de ficar com o irmão em casa, enquanto o pai trabalhava naquele restaurante horroroso. Terrence sempre o maltratava quando o pai não estava ali para defende-lo.
Ouviu os passos e a risada se distanciarem.
O menininho soluçou, olhando para sua cama.
Ali, sentindo-se um pouco menos apavorado, viu seu melhor amigo, aquele que só Jason conseguia ver, seu único companheiro desde que se entendia por gente.
A pelúcia amarelada virou os olhos negros na direção de Jason, baixando o olhar.
"O que ele fez dessa vez?"
O menino apontou para a porta, guinchando.
"Ele te trancou no seu quarto de novo." O ursinho suspirou. "Não tenha medo. Eu estou aqui com você."
Com as lágrimas escorrendo pelo rosto, Jason não respondeu ao seu amigo imaginário. Começou a perambular pelo quartinho, cuja única porta, trancada, era a passagem para o restante de sua casa.
Aproximou-se das quatro pelúcias jazidas no chão do quarto. Jason baixou a cabeça, encarando-as, afagando a orelha felpuda de uma delas.
Lembrava-se de ter sido a primeira coisa que pedira ao pai quando o desenho de que tanto gostava estreara na TV. Fredbear e Seus Amigos era sua programação predileta.
O desenho, produzido pelos mesmos responsáveis que gerenciavam a Fredbear Family Diner, o local de trabalho de seu pai, trazia um urso, uma galinha, uma raposa pirata e um coelho como personagens. Também havia Freddy Bear, o urso amarelo, cujo homônimo animatrônico existia no restaurante.
Dos cinco, Jason só não tinha a pelúcia do líder da banda. Então, naturalmente, o amigo em sua cama tinha as mesmas características do único boneco que faltava.
Olhou para a pelúcia de Freddy Fazbear, o ursinho marrom, com cartola e gravatinha pretas, segurando um microfone felpudo. Chica, amarela, tinha um cupcake de algodão costurado á asa. Bonnie era azul, embora seu personagem na televisão fosse roxo.
A única pelúcia que destoava dos demais era a de Foxy. Do boneco, só havia sobrado o corpo. A cabeça, arrancada numa das travessuras de Terrence, havia desaparecido alguns dias atrás. O tecido peludo e macio parecia muito arredio, como se tivesse sido esfregado contra a parede.
Jason sempre se pegara, desde então, imaginando, com um humor angustiado, Foxy escondido em seu cobertorzinho de estrelas, com uma plaquinha de papelão escrita "DESCULPE, FORA DE ORDEM". Vira aquilo uma vez no restaurante do pai, quando o grande coelho amarelo ficara temporariamente desativado, por algum problema que tivera.
Todos tinham um odor de mofo, por que Jason não suportava a ideia de tirar seus companheiros do quarto.
- Estes são meus amigos - Jason falou para Golden Freddy, choramingando.
Virou-se novamente para a porta., e correu até ela, na esperança que Terrence a tivesse largado aberta quando se afastou.
Bateu várias vezes, aflito, recomeçando a chorar.
Por fim, abalado e apavorado, jogou-se no chão, encolhendo-se em posição fetal.
Sabia o que ia acontecer. Ficaria ali, preso, até que o pai retornasse do trabalho.
Golden Freddy fitou Jason chorando, sem esboçar reação.
"Ah, Jason." suspirou. "Amanhã é um outro dia."
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4 DIAS ATÉ A FESTA
Golden Freddy parecia triste, pelo menos quando Jason o olhava.
Antes de sair, o pai deixara um bilhete em sua cama.
"Sete anos, hein, campeão? Uau. Adivinha só onde será sua festa de aniversário? Você vai se divertir muito. Eu prometo.
Com amor, papai."Jason sufocou o choro.
Odiava a Fredbear Family Diner. Morria de medo daquelas coisas enormes, que faziam sons estranhos e muito altos. Não acreditava que o pai realmente faria sua festa de aniversário ali, naquele lugar assustador.
Saiu do quarto, andando pelo corredor afora, abraçando o próprio corpo.
- Terrence?
Ninguém respondeu.
Jason, trêmulo, continuou andando, olhando de esguelha para o quarto do irmão. Sabia que ele tinha a mania de se esconder naquele armário do closet. Ou atrás do gaveteiro, oculto pelo ventilador roxo que Terrence ganhara no último Natal. Sempre invejara o tamanho do quarto do irmão, o único caminho que havia para atravessar o corredor seguinte, ou chegar á cama do garoto.
Desviou sua atenção do telefone de brinquedo de Terrence, andando adiante. Entrou no quarto de Martha, sua prima, que viera morar com eles no verão anterior. Órfã de pais, mortos há pouco tempo num acidente de carro, se mudara para Austin e, desde então, ficara com a única família da mãe.
Fitou o bonequinho quebrado ao lado da cama dela. A garota havia comprado um brinquedo de plástico de Foxy, e, com seu kit de pintura, fizera uma verdadeira reforma nele. Agora, a raposa de brinquedo era branca, de focinho rosado, e jazia desmontada no chão, desde que Martha o quebrara sem querer na semana passada.
Jason balançou a cabeça, saindo dali.
Sabia que Terrence deveria estar planejando outra forma de acuá-lo, mas, impotente, só podia evitar que o irmão o encurralasse outra vez em seu próprio quarto.
Por fim, chegou perto da sala de estar, onde encontrou Golden Freddy, sentado em cima do relógio de pêndulo no corredor.
O ursinho apontou para a sala, onde Jason entrou á seguir.
- Terrence... - soluçou.
A televisão estava ligada, reproduzindo o desenho de Fredbear e Seus Amigos.
- Terrence... responde...
Aproximou-se da TV, erguendo o braço para desligá-la.
Foi quando, subitamente, Terrence surgiu, sibilando, do lado esquerdo do aparelho.
Jason caiu no chão, chorando alto.
No rosto do irmão, viu onde a cabeça de sua pelúcia fora parar.
O rapaz gargalhou maldosamente.
- Você é mesmo um bebê chorão, Jason.
O menino não ergueu a cabeça. Viu Terrence deixar a sala, ainda rindo, deixando o irmão caçula, soluçante, caído na sala.
Golden Freddy apareceu no sofá, as pupilas brancas viradas para a direção de onde Terrence partira.
"Sinto muito, Jason. Eu sinto muito mesmo."
Jason fungou, desejando, por um momento, que preferia trabalhar eternamente como segurança naquele restaurante, á suportar mais um dia as humilhações do irmão.
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Five Night's At Freddy's: A Origem
FanfictionVocê acredita no sobrenatural? Sabe, nem sempre o sobrenatural vem de lugares mal assombrados, mansões abandonadas ou criaturas geradas por encarnações do mal. Às vezes, o sobrenatural surge na inocência, das risadas, do som da alegria infantil. Sur...