Terrence suava frio, quando relembrava de quando a assistente social o levava para a Casa Social de Austin, o maior abrigo para crianças da cidade.
Naquele dia, ainda não haviam contado ao garoto, mas as tentativas do psiquiatra para acalmar o surto do pai não haviam surtido efeito.
Após levantar as fichas médicas de Vincent Mills, o juizado de menores, diante da internação do pai na Saúde Mental, a ausência de outros parentes, e na suposta incapacidade de cuidar das crianças, em algumas horas, decidiria tirar-lhe a guarda de Martha, Terrence e Jason.
Com isso, o rapaz fora encaminhado para o abrigo, assim como a prima, e impedido, por alguns dias, de visitar o irmão no hospital.
Mantinha-se inquieto, sem querer interagir com outros jovens do local. Em menos de algumas horas, desde sua chegada, já havia fugido dos cuidadores várias vezes, procurando por algum lugar em que pudesse ficar sozinho e em paz.
Tampouco conversara com Martha, que ainda não fazia a menor idéia do por que homens estranhos a haviam tirado da casa da coleguinha, sem dar satisfações, e por que a haviam trazido ate ali.
Por fim, depois de vários dias sem conseguir uma única palavra de Terrence, a diretora do abrigo pediu para que finalmente dessem um tempo para o garoto se acalmar.
Mas esta calmaria nunca aconteceu.
Por que, de noite, desde o primeiro dia, e pelo resto da vida, Terrence Mills viveria mergulhado no mesmo pesadelo, do qual só conseguia acordar quando o despertador digital dos quartos soava.
Como se sua mente estivesse decidida a castigá-lo, criou demônios que ele jamais poderia vencer.
Aparecia em seu próprio quarto de casa, despertando á meia-noite.
Era tal real, tão nítido, quase impossível de ser identificado como um sonho.
A lanterna, sustentada em sua mão, tremia. Tudo era escuro, exceto onde o feixe de luz brilhava.
Suas pernas disparavam, dobradas, para as portas que ladeavam os corredores. Ouvidos atentos, tentando identificar o ruído de quaisquer respirações. Brandia a lanterna, iluminando os locais. Voltavas para trás, verificando o armário e a sua cama.
Quando viu o primeiro deles, o pânico o inundou, embora não parecesse o suficiente para retirá-lo do pesadelo.
Andando pela casa como uma matilha de lobos selvagens, cercando-o e acossando-o, como perceberia com o passar do tempo, estavam versões demoníacas dos personagens que ele e os amigos, maldosamente, haviam usado contra Jason.
Não se comparavam, porém, nem mesmo á animatrônicos assombrosos. Fileiras de dentes afiados, luzes diabólicas nos olhos, e garras ferozes de metal. Nunca vira nada tão aterrorizante na vida.
Depois de tudo, Terrence agora passava por tudo que Jason sofrera em suas mãos.A primeira vez que viu a versão aterrorizante de Freddy, percebeu o como este o lembrava de Ralph, o amigo que usara a máscara do urso, com sua mania de se enredar pela cama á noite. Bonnie e Chica, máscaras de Justin e Scott, que sempre fizeram tudo em sincronia. A pequena e assustadora pelúcia de Plushtrap, e o aterrador cupcake dentado, prováveis representações da amargura de Heloise, a amiguinha do irmão.
Sabia que o animatrônico ameaçador no armário, Foxy, era sua representação demonizada, uma versão infernal de seu próprio ego maldoso e insensível, agora se voltando contra ele mesmo, usando as mesmas artimanhas que usara para afligir Jason.
Havia, naturalmente, Nightmare, o horripilante urso negro. Tinha certeza que era a versão rancorosa de Jason, procurando se vingar pelo que Terrence lhe havia feito, assombrando-o como punição pelo seu terrível erro.
Mas, de todos os horrendos pesadelos de seu martírio, nenhum o horrorizava mais do que Fredbear, o homônimo letal e cruel do animatrônico que mordera Jason. Este se arrastava pelos corredores e pelo quarto, por vezes fitando brevemente o garoto com seus olhos incandescentes e vis.
Terrence, antes o líder da turma de valentões, agora se encontrava sozinho, acuado e apavorado pelos próprios monstros que havia criado, sofrendo a mesma coisa todas as noites.
Embora nada fizessem além de rugir e gritar angustiosamente, quando era apanhado durante seus pesadelos, Terrence tinha idéia do que queriam lhe dizer.
Você é o culpado.
Você nos criou.
Não há perdão para o que você fez.
Você é o único monstro aqui.
Sabe que merece sofrer.
Merecia castigo pior.
Morrer não vai ser o bastante.
As crianças não sabiam explicar a agitação noturna do colega, nem o despertar gritante de Terrence, suado e ofegante, todas as manhãs. Muitas, assustadas com os gemidos e berros do garoto, tinham implorado para trocar de quarto.
Ainda assim, todos tentavam auxiliar Terrence. Uma vez por semana, podia visitar Jason no hospital.
Com o tempo, um vazio cada vez maior cresceu dentro de Terrence. Ele já não reagia á mais ninguém, exceto quando estava ao lado do irmão, na UTI do hospital. Nunca mais interagiu com outras pessoas, nem mesmo com os ainda traumatizados amigos, que ainda tentavam visitá-lo no abrigo. Não deu nem um único sinal de preocupação, quando anunciaram a morte do pai, que, num novo surto, tentara assassinar um dos enfermeiros, e fora alvejado por um dos seguranças.
Os pesadelos pioraram com o passar das semanas, e, ao mesmo tempo, uma angústia crescente o preenchia, toda vez que via o rostinho inconsciente do irmão.
Não há perdão para o que eu fiz com você. Não há perdão.
Finalmente, depois de três meses, suportando a culpa durante o dia, e sobrevivendo aos demoníacos pesadelos ás noites, Terrence Mills decidiu que não podia mais suportar o peso de sua punição mental.
Exatamente no dia de seu aniversário, que não se deu o trabalho de recordar á ninguém, o garoto foi encontrado no parquinho, pendurado pelo pescoço nas correntes quebradas do balanço.
Os cuidadores, horripilados, tentaram impedir as crianças de se aproximarem da cena. Gritos e choramingos podiam ser ouvidos em todo o abrigo, quando a notícia se espalhou.
Um deles, porém, se aproximou, aflito, da trave onde balançava o corpo de Terrence.
Jazida no chão, quase enlameado pela terra, havia uma pequena folha dobrada, provavelmente caída do bolso do menino morto.
Um bilhete macabro de suicídio, diferente de qualquer um que pudesse ter visto, foi recolhido em suas mãos.
Porém, para a surpresa de todos, como lido no exterior do bilhete, o desejo póstumo de Terrence era de que só duas pessoas deviam saber de seu conteúdo.
E assim foi feito.
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Five Night's At Freddy's: A Origem
FanfictionVocê acredita no sobrenatural? Sabe, nem sempre o sobrenatural vem de lugares mal assombrados, mansões abandonadas ou criaturas geradas por encarnações do mal. Às vezes, o sobrenatural surge na inocência, das risadas, do som da alegria infantil. Sur...