(Tutorial: este capítulo contém flashback)
A quantidade de louça que Oliver sujou para fazer o macarrão foi grande o suficiente para fazer a mente de Sarah voltar para aquele ponto inevitável do passado. Ela bem que gostaria de saber como desarmar as armadilhas que ela que ela montava para si mesma. Só que às vezes as lembranças gritavam alto demais.
- Desquitado!
Foi a primeira coisa que ela ouviu quando ela entrou ali naquela casa, voltando das compras, para o que iria ser o primeiro e único final de semana que sua turma da escola se reuniria ali para o encontro anual deles.
Oliver veio ajudá-la com as sacolas do supermercado assim que ela parou o carro. Sorridente, como sempre. Ela não o via desde a reunião do ano passado. Era estranho que uma turma tão segregada em grupinhos no ensino médio fosse se tornar tão unida depois dele, mas foi isso que aconteceu.
Um falava com o outro, que se lembrava de mais um, que agregava aquele que foi esquecido. Oliver e Heloísa sempre estiveram entre as cabeças dessa união. E Sarah não sabia se era impressão dela, mas achava que os dois sempre davam um jeito de incluir ela no que quer que fosse. Com certeza ela figurava no grupo dos esquecidos.
Talvez não mais, agora que era dona da casa onde aconteceria a coisa toda.
Era verão de 2012, o ano que o mundo supostamente deveria acabar. Bem, o mundo de Sarah acabou mesmo. Pelo menos durante alguns meses.
- Deixa eu pegar essa? Tá pesada – Oliver pediu permissão ao mesmo tempo em que arrancava a sacola da da sua mão. – Por que você não avisou que ia parar no mercado no meio do caminho? Eu poderia ter ajudado, não quero dar trabalho.
- Desquitado! – uma voz gritou ao fundo.
Sarah deixou para rir quando estava virada para o porta-malas. Não queria dar trabalho... Essa era boa! A ideia de fazer a confraternização ali tinha sido dele e de Heloísa, depois que a ideia foi dada, tudo que ela teve foi trabalho.
Trabalho de fazer a turma mudar de ideia, trabalho de se convencer de que era capaz de organizar algo daquele calibre. Trabalho de arrumar a casa para comportar tanta gente. E, agora, trabalho de comprar um batalhão de comida para alimentar todas as quinze pessoas. Dezesseis com ela, ela sempre se esquecia dela.
- Quer saber? Larga tudo – Oliver se materializou atrás dela, mais uma vez tirando as sacolas da sua mão. – Deixa isso com a gente, eu e os meninos vamos descarregar as compras. É só você dizer onde que a gente coloca.
- Na cozinha – Sarah respondeu no meio do seu atordoamento quando outra série de "Desquitado!" começou a ser entoada pelos meninos.
Era melhor fingir que não ouviu.
Desquitado não poderia significar o que ela pensava que significava. Não naquele contexto. Ou, pelo menos, não no casamento que ela estava pensando. Que era o casamento perfeito, para ninguém botar defeito, apenas se contentar em invejar de leve. Não tinha mais ninguém casado entre o pessoal da turma. E ele estava mesmo sem o anel dele.
A melhor opção seria não entrar em detalhes.
Naquele final de semana especificamente, a melhor opção era madrugar e ir para praia cedo. Domingo foi o segundo dia consecutivo que ela acordou junto com os primeiros raios de sol, pulou dentro de um biquini e foi caminhar na praia. Ficava lá, olhando o mar, a areia sob seus pés, fugindo dos seus pensamentos até o sol ficar quente o bastante para que ela pudesse apenas deitar e relaxar, ler um livro, pular as ondas, ou colocar o sono em dia.
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O mundo dá voltas
ChickLitSarah Atteli está de bem com a vida. Dona do seu nariz, dona da sua pequena empresa, dona do seu corpo. E é assim que ela pretende permanecer. Não é nenhum Oliver Timber querendo uma vaga de emprego na Atteli Comunicações que vai mudar alguma coisa...