O vento batia, o sol ardia e o pensamento ia longe. Era o que costumava acontecer quando a linha do horizonte se consistia em mar.
Oliver ia tão perdido em seus pensamentos que chegou a achar que o que acontecia ali fosse fruto da sua imaginação. Sua imaginação conseguia ser bem fértil quando o assunto era ela.
Ela caminhava pela areia, não dava para ver seus olhos, que estavam encobertos pelos óculos, mas ele podia imaginar.
Imaginou que ela tinha avistado seu guarda-sol, ela caminhou em sua direção daquele jeito dela. Decidido, nenhuma-criança-fazendo-castelinho-de-areia-vai-me-atrapalhar que ele admirava tanto.
Quanto tempo faltava para os cientistas inventarem a máquina do tempo?
Ela estendeu sua canga do lado da capa de prancha que ele estava sentado. Ele olhou para o lado, Alicia pulava ondas com uma menina chamada Lara. Ele voltou a olhar para o lado direito e Sarah continuava sentada lá, espanando grãos de areia para fora de sua canga.
Então era verdade mesmo.
- E aí? – ele perguntou a título de confirmação.
- É aí – Sarah respondeu daquele jeito dela quando falava com ele.
Distante, contido, que ele queria tanto que voltasse ao normal.
Ele lembrava muito bem como era o normal dela. Porque também era o mais próximo que ele chegava da normalidade desde a morte do seu pai.
Mas Normalidade era um conceito muito subjetivo, não dava para ele se fiar nisso. Em contra partida, podia ver Sarah sendo a Sarah de sempre quando estava com suas amigas. Ficava feliz por ela. Ao mesmo tempo ficava sentido por não fazer parte do grupo.
Só queria estar com ela.
Querer não é poder era uma máxima que o fazia se sentir feito merda.
Com tantos avanços na tecnologia, como é que os cientistas ainda não inventaram aquele diacho de máquina do tempo? Oliver estava ficando sem opções para reconquistar a confiança dela. Voltar no tempo foi uma das poucas que sobrou.
Como seria sua vida agora se ele tivesse passado o resto da sua noite de formatura com ela no banheiro? Às vezes ele ficava pensando...
Alicia ainda existiria. Era impossível mudar o fato de que ela tinha sido concebida minutos antes de Sarah ter entrado bêbada naquele banheiro para mudar completamente sua visão de mundo. Se ele tivesse ficado, será que Sarah teria aceitado? Ele tinha quase certeza que sim.
Uma quase-certeza que o corroía por dentro toda vez que ele a via.
Ela fez uma cara de tá-olhando-o-que e ele encolheu os ombros. Seu olhar focava nela sem que ele tivesse a intenção. Ela era tipo um norte. Ele se sentia meio perdido.
Dava para ver que os olhares a deixavam desconfortável, ele tinha que se policiar. Não era como se ela estivesse em plena forma depois do que aconteceu. Mesmo por trás dos óculos escuros e chapéu dava para ver que algo nela tinha perdido o movimento.
De tempos em tempos ele se perguntava se não havia nada que ele pudesse fazer para colocá-la em ação.
- A água está numa temperatura ótima, não muito fria, do jeito que você gosta.
- Daqui a pouco eu vou, só vou esperar o sol me esquentar.
Verdade. Ela estava toda arrepiada, muito embora ele não soubesse como isso era possível, estava um calor de rachar. E independente de estar calor ou frio, será que ela não tinha ideia do que iria acontecer?
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O mundo dá voltas
Literatura FemininaSarah Atteli está de bem com a vida. Dona do seu nariz, dona da sua pequena empresa, dona do seu corpo. E é assim que ela pretende permanecer. Não é nenhum Oliver Timber querendo uma vaga de emprego na Atteli Comunicações que vai mudar alguma coisa...