34 - Muito botão pra pouca casa

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Acordar sem saber onde estava era uma especialidade de Sarah aos finais de semana. Era assim que ela descobria que era sábado.

Naquele sábado específico tinham algumas coisas faltando. A dor de cabeça característica da ressaca não martelava, por exemplo. Outro sinal alarmante era a falta de um homem seminu desacordado ao seu lado. Ela lembrava qual homem deveria estar ali, ainda melhor do que se lembrava de que hoje era sábado.

Em contrapartida, para balancear, não tinha ideia de qual foi última vez que tinha dormido com a lente de contato. Nem do quanto aquilo era incômodo.

Sua bolsa, de alguma maneira, tinha se materializado em cima da mesinha de cabeceira ao seu lado. Sarah não se questionou como, só se concentrou o conteúdo lá dentro até achar o pequeno recipiente onde guardava as lentes, junto com o liquido para lubrificá-las. Tirou as lentes, pingou o líquido nos próprios olhos e sentiu o alívio de uma pequena vitória.

Mas uma vitória, por menor que fosse, não podia ser aproveitada plenamente quando ela não conseguia enxergar dois palmos a sua frente. Sendo assim, seu próximo desafio naquela manhã peculiar era encontrar seus óculos dentro do caos da bolsa, sem nem sequer ter certeza de que eles estavam lá.

Ela torcia que estivessem, seria infinitamente mais fácil se ela desse no pé podendo enxergar o caminho de saída.

Afinal de contas, não conhecia o apartamento tão bem. Da outra vez que esteve ali acabou não ficando muito tempo. No fundo da bolsa, abaixo dos papeis de bala, ela tateou a caixa dos seus óculos.

Vitória!

Colocou o seu tíquete de saída no rosto e o ambiente entrou no seu devido foco. Ela pode ver muito claramente Oliver entrando no quarto com duas sacolas na mão.

Droga. Tão perto e tão longe.

- Bom dia. Você tá de óculos – ele constatou o óbvio com o maior sorrisão.

- Pois é, eu dormi de lente e... – Sarah se viu embarcando no óbvio antes que pudesse se policiar.

- Tá bonita – ele disse largando as sacolas na mesinha de cabeceira que tinha do lado dele da cama.

Não que o outro lado fosse de Sarah, mas era bom ressaltar a distância de uma cama de casal inteira que existia entre eles. Era uma distância segura, apesar de Sarah não se sentir assim.

- Deixa de besteira – ela afastou o elogio com a mão e chegou os óculos mais para perto do nariz.

- Trouxe aquele café com espuminha de leite que você gostava – Oliver disse ao mesmo tempo em que remexia o conteúdo da sacola. – Depois pensei que você poderia ter mudado seu gosto e também trouxe um café preto. Se você quiser, tem leite sem espuma na cozinha.

- Eu mudei – Sarah disse do lado oposto da cama. – Café preto tá ótimo, obrigada.

- Às ordens – ele se inclinou por cima da cama para lhe entregar o copo.

-Vou bebendo pelo caminho – ela anunciou dando início aos seus passos, tentando fazer com que eles fossem os mais largos possíveis.

Como gostaria que seus saltos fossem mais discretos! Parecia que ela tinha se tornado uma corrida de cavalos em somente três passos. Uma corrida de cavalos em fuga, para ser mais específica.

- Sarah, espera – Oliver se colocou no meio do caminho entre ela e a porta.

- Oliver, não dá, eu tenho que voltar pra casa pra me arrumar.

O mundo dá voltasOnde histórias criam vida. Descubra agora