40 - Palavras que não querem ser ouvidas

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O resultado do trabalho ficou tão incrível quanto ambos desconfiavam que fosse ficar. Por mais ressalvas que Sarah tivesse quanto a Oliver, a qualidade do trabalho dos dois nunca foi afetada.

Antes, nos tempos de idealização da Atteli Comunicações Sensatas, ela tinha as ideias e ele as executava. Agora, ela a execução da arte ficava por conta dela, ele só oferecia a consultoria, ela mesma aplicava as melhorias, de modo ela continuava com todo o controle sob o que produzia e o cliente recebia o melhor resultado possível.

Um sistema viável, muito profissional.

- Tem mais? – ele perguntou mudando o cabelo dela de lado.

- Tem – ela abriu uma pasta cheia de arquivos.

- Isso é o tanto de trabalho que a gente tem pela frente? – ele perguntou, se ajeitando na cadeira.

- Você não é obrigado a fazer – Sarah disse ao se sentar mais empertigada na cadeira. Ou tão empertigada quanto possível, levando em consideração que estava apoiada nas pernas dele, não na cadeira propriamente dita. – Não está sendo pago para isso.

- Dinheiro não tem nada a ver com isso – ele disse aproximando seu tórax das costas dela. – É sempre um prazer trabalhar com você.

Uma ótima maneira de cortar o assunto foi abrir o próximo arquivo. Ele olhava a arte com atenção enquanto ela aguardava com uma encenação de paciência a instrução para a próxima alteração.

Subiu seus pés para o braço da cadeira, girou um pouco sua posição. Tinha que dar indícios de que estava relaxada. Oliver se ajustou embaixo dela. O braço dele, de alguma forma, meio que apoiava às suas costas e segurava no mouse ao mesmo tempo. Talvez ela estivesse mesmo relaxada, independente de qual alteração ele sugerisse, seria para melhor.

Ela podia não confiar nele, mas conhecia seus desenhos e o tanto que ele entendia de arte.

- Diminui o contraste um pouco – ele disse de onde estava, com a boca quase na altura da testa dela.

Ela esticou o braço e mexeu nos níveis de contrate, dava para fazer as alterações com a cabeça ainda apoiada no ombro dele.

- Tem como aumentar a espessura do traço? – os pelinhos da barba por fazer dele de vez em quando roçavam na testa dela.

Sarah não se incomodava, continuava alterando o que ele falava para alterar. Às vezes sua cabeça subia e descia com o ritmo da respiração dele, mas não chegava a atrapalhá-la. Ela tinha instruções para seguir. Nem mesmo a mão, que Oliver tirou do mouse e colocou de leve por baixo da barra da sua camisa, desviava-a de suas tarefas. Eram apenas três dedos dele que descansavam em sua cintura, de maneira quase que acidental, ela não iria se estressar por coisa pouca.

Ele falava tudo em voz baixa, perto de um sussurro. Eles estavam perto um do outro, não precisava ser mais do que aquilo. Ele dizia:

- Troca de roxo para rosa – e ela trocava.

- Um rosa mais suave – e ela suavizava.

- Pode tentar com o fundo branco? – e ela tentava.

- Acho que ficou melhor com o bege mesmo – ela achava a mesma coisa.

- Também acho que fiquei com ciúme de você com o Marcos – ele estragou o clima de alterações colaborativas sem o menor aviso prévio.

- Isso não tem nada a ver com o que a gente tá fazendo – Sarah disse sem dar nenhuma importância ao assunto, ainda governando o mouse pela extensão do desenho, na tentativa de preservar o processo de produção.

O mundo dá voltasOnde histórias criam vida. Descubra agora