Outra tentativa frustrada. Oliver saiu da sala in-ju-ri-a-do.
Repetia pra si mesmo que tinha continuar tentando, que não tinha sido nessa, mas em alguma ele acabaria acertando. Tinha que acertar. Ele não sabia o que faria se não acertasse. Era muita coisa em jogo.
Ele caminhou pelas ruas do Centro com a cabeça fervilhando, não tinha nada a ver com a alta temperatura. Sarah o tirava do sério. Às vezes de um jeito bom. Porém na maioria delas de um jeito péssimo. Como tinha sido naquela manhã.
O que ela fazia questão de não entender era: eles tinham era o que eles tinham, não dava para explicar, ao mesmo tempo em que não dava para acabar assim. Não podia acabar. Porque mal teve a oportunidade de começar. Ao mesmo tempo ele estava tão no meio daquilo.
Avistou sua Variant, entrou nela com a energia de um touro e meio, totalmente sem necessidade, quase selando a porta pra sempre no meio do processo. Em sua defesa, ele estava com pressa.
Aquilo tinha sido uma perda de tempo. Ele ter ido ou não ao escritório não fazia diferença nenhuma no que dizia respeito a opinião de Sarah. A qual ele tão desesperadamente queria mudar.
Esmurrou o volante só para demonstrar o quão insatisfeito estava. Ainda que não tivesse ninguém com ele para registrar sua insatisfação. O ciúme era uma coisa feia e despropositada, nada mais natural do que uma reação feia e despropositada em resposta.
Oliver era a pessoa que estava mais ciente no mundo de que Sarah não pertencia a ninguém, muito menos a ele. Mas isso não o impedia nem por um momento de se sentir inteiramente pertencido a ela.
Ele dirigiu o mais rápido que sua Variant permitiu. Era complicado ter pressa e não ter condições de acelerar mais. O carro era velho e tinha suas limitações, ele tinha que entender. Acontecia algo parecido com Sarah. A história deles também tinha certa idade, ele passou anos tendo limitações, mas agora ele estava melhor, ela tinha que entender.
Oliver conhecia Sarah o suficiente para entender que ela não acreditaria em suas palavras. Era por isso que ele andava querendo dizer as coisas com ações.
Ele chegou ao lugar que dizia: me desculpa por ter abandonado nossa empresa quando você mais precisava.
Era hora de colocar tudo aquilo pra funcionar. Mesmo que ela não quisesse saber de nada. Ele iria ajudar. Até porque, era a única alternativa que eles tinham para salvar o projeto a tempo. Sarah com certeza não ia querer ficar mal com Raphael.
Ela ficaria agradecida. Ainda que não fosse pelos motivos que Oliver ansiava.
Talvez fosse hora de Oliver ter que se conformar em vê-la feliz. Mesmo que não fosse com ele.
Não era isso que os ideais do amor pregavam?
Ideias como essa o faziam entrar em negação. Batia nele um tremendo desespero. Para se desviar de pensar sobre o assunto, ele começou a trabalhar.
Coisa para fazer era o que não faltava.
Ele se manteve ocupado a tarde toda, até o início da noite. Quando a luz do sol deixou de iluminar o local, ele teve que deixar o que estava fazendo de lado.
Tudo tinha acontecido às pressas. Ele ficou tão preocupado com as máquinas que nem passou pela sua cabeça a questão da iluminação. Ali, no meio da penumbra, não dava para fazer nada. A melhor opção seria voltar para o Rio, para o apartamento dos caras, em Botafogo, e dormir.
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O mundo dá voltas
ChickLitSarah Atteli está de bem com a vida. Dona do seu nariz, dona da sua pequena empresa, dona do seu corpo. E é assim que ela pretende permanecer. Não é nenhum Oliver Timber querendo uma vaga de emprego na Atteli Comunicações que vai mudar alguma coisa...