Quando Sarah achou que podia trabalhar em paz, se perguntou por que tinha achado uma coisa dessas. Visto que isso quase nunca acontecia.
Mas era sexta-feira, fim de expediente, e ela tinha ouvido passos. Quando ela se deu conta que os passos vinham em direção à sua sala já era tarde demais. Belize e seus novos cabelos banhados a brilho marchavam para dentro.
A menina se jogou na cadeira com sua habitual falta de postura. Depois mudou de posição. E mudou. E mudou mais uma vez. O que estava acontecendo? Sarah pensou com seus botões. Algum tipo de farpa na cadeira totalmente acolchoada? Aquilo excedia o comportamento peculiar dela.
E para comprovar a teoria de Sarah, Belize deu um duplo quique na cadeira. Tinha algo estranho no ar.
Sarah reconheceu os princípios de uma nova intervenção.
- Sabe, Sarah, eu vim aqui dar uma palavrinha com você.
- Não me diga.
Os olhos da menina olhavam para todos os cantos, menos o canto em que estava Sarah.
- É sério, presta atenção... Às vezes os problemas são grandes. E a gente se torna um recipiente pequeno pra guardar todos eles. Não tem problema nenhum precisar de um pouco de ajuda para lidar com tudo. Eu acho que você deveria procurar.
- Do que você está falando, Beli? Você tá querendo me ajudar? Quer que eu me abra com você? Isso é muito bonito. Mas você concorda que não dá pra eu ficar mais aberta do que eu já fiquei naquele dia que vocês me acharam no quarto, não concorda? Não tem o que falar, vocês viram tudo.
- Não! Eu não! Ajuda profissional, eu quiser dizer. Terapia, análise, essas coisas...
Sarah ficou dura na cadeira e estreitou os olhos.
- Você acha que eu sou maluca? – ela estava claramente ofendida, sem mencionar que um pouco assustada também.
- Maluca, não! – protestou Belize de olhos arregalados.
Suas bochechas ficaram rosinhas, Sarah sabia que ela odiava blush, sua maquiagem se restringia somente a cosméticos pretos. Ela deveria estar injuriada tanto pela vergonha que sentia quanto pelas mudanças que isso provocava no seu visual.
- Com problemas. Coisa que, aliás, todo mundo tem. Só que às vezes chega num ponto que a gente sozinha não dá conta. E não tem problema se não der. É pra isso que essas pessoas existem, pra ajudar as outras quando elas não podem sozinhas. Pelo menos eu penso assim.
- Você está mesmo me chamando de maluca!
- Eu não! – Belize negou. – Sarah, você pelo menos escutou o que eu acabei de dizer?
Sarah deu de ombros enquanto fingia analisar sua manicure malfeita.
Belize se sentou da melhor maneira que pode na cadeira. Ainda não era a maneira ideal. Nunca era. Ela não queria entrar nesse assunto. Não queria mesmo. Mas julgava necessário. Era importante para Sarah, assim como já foi para ela.
- Por um acaso você me acha maluca? – ela perguntou.
- Acho.
A sensação de chute na boca do estômago foi intensa. O que era esquisito, pois Belize, em condições de luta, nunca baixava a guarda. Um chute emocional a pegava de surpresa duas vezes, primeiro pelo golpe em si e segundo por conta da novidade que era ser atingida.
Belize prezava seus processos de defesa.
- Fique sabendo que eu seria muito mais louca do que você acha que eu sou agora se eu não fizesse terapia.
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O mundo dá voltas
Romanzi rosa / ChickLitSarah Atteli está de bem com a vida. Dona do seu nariz, dona da sua pequena empresa, dona do seu corpo. E é assim que ela pretende permanecer. Não é nenhum Oliver Timber querendo uma vaga de emprego na Atteli Comunicações que vai mudar alguma coisa...