17 - Rota de fuga

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Quando Sarah achou que podia trabalhar em paz, se perguntou por que tinha achado uma coisa dessas. Visto que isso quase nunca acontecia.

Mas era sexta-feira, fim de expediente, e ela tinha ouvido passos. Quando ela se deu conta que os passos vinham em direção à sua sala já era tarde demais. Belize e seus novos cabelos banhados a brilho marchavam para dentro.

A menina se jogou na cadeira com sua habitual falta de postura. Depois mudou de posição. E mudou. E mudou mais uma vez. O que estava acontecendo? Sarah pensou com seus botões. Algum tipo de farpa na cadeira totalmente acolchoada? Aquilo excedia o comportamento peculiar dela.

E para comprovar a teoria de Sarah, Belize deu um duplo quique na cadeira. Tinha algo estranho no ar.

Sarah reconheceu os princípios de uma nova intervenção.

- Sabe, Sarah, eu vim aqui dar uma palavrinha com você.

- Não me diga.

Os olhos da menina olhavam para todos os cantos, menos o canto em que estava Sarah.

- É sério, presta atenção... Às vezes os problemas são grandes. E a gente se torna um recipiente pequeno pra guardar todos eles. Não tem problema nenhum precisar de um pouco de ajuda para lidar com tudo. Eu acho que você deveria procurar.

- Do que você está falando, Beli? Você tá querendo me ajudar? Quer que eu me abra com você? Isso é muito bonito. Mas você concorda que não dá pra eu ficar mais aberta do que eu já fiquei naquele dia que vocês me acharam no quarto, não concorda? Não tem o que falar, vocês viram tudo.

- Não! Eu não! Ajuda profissional, eu quiser dizer. Terapia, análise, essas coisas...

Sarah ficou dura na cadeira e estreitou os olhos.

- Você acha que eu sou maluca? – ela estava claramente ofendida, sem mencionar que um pouco assustada também.

- Maluca, não! – protestou Belize de olhos arregalados.

Suas bochechas ficaram rosinhas, Sarah sabia que ela odiava blush, sua maquiagem se restringia somente a cosméticos pretos. Ela deveria estar injuriada tanto pela vergonha que sentia quanto pelas mudanças que isso provocava no seu visual.

- Com problemas. Coisa que, aliás, todo mundo tem. Só que às vezes chega num ponto que a gente sozinha não dá conta. E não tem problema se não der. É pra isso que essas pessoas existem, pra ajudar as outras quando elas não podem sozinhas. Pelo menos eu penso assim.

- Você está mesmo me chamando de maluca!

- Eu não! – Belize negou. – Sarah, você pelo menos escutou o que eu acabei de dizer?

Sarah deu de ombros enquanto fingia analisar sua manicure malfeita.

Belize se sentou da melhor maneira que pode na cadeira. Ainda não era a maneira ideal. Nunca era. Ela não queria entrar nesse assunto. Não queria mesmo. Mas julgava necessário. Era importante para Sarah, assim como já foi para ela.

- Por um acaso você me acha maluca? – ela perguntou.

- Acho.

A sensação de chute na boca do estômago foi intensa. O que era esquisito, pois Belize, em condições de luta, nunca baixava a guarda. Um chute emocional a pegava de surpresa duas vezes, primeiro pelo golpe em si e segundo por conta da novidade que era ser atingida.

Belize prezava seus processos de defesa.

- Fique sabendo que eu seria muito mais louca do que você acha que eu sou agora se eu não fizesse terapia.

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