41 - Altos e baixos da esperança

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- Então...

- Então o quê? – Sarah perguntou, seguindo em frente, sempre em frente.

Uma pergunta tão genérica quanto aquela não requeria uma olhada para trás, muito menos uma interrupção no seu caminho.

- Posso saber onde estamos indo? – Belize perguntou caminhando nos seus calcanhares. – O que tem para ser resolvido num sábado à tarde no centro da cidade?

Sarah se perguntava a mesma coisa. Quase não tinha nada aberto por ali, assim ficava difícil colocar as pendências em dia... Mas, de qualquer forma, era bom estar do lado de fora, ao ar livre, colocando a respiração em dia.

Os incomodados que se mudem.

- Ninguém te obrigou a vir comigo, você poderia ter ficado lá. Tenho certeza que seria muito mais divertido.

- Eu vim porque eu quis – Belize disse, tendo que dar uma corridinha para alcançar Sarah. – Mas se eu soubesse que seria um treino sem propósito para os Jogos Olímpicos, pensaria duas vezes.

- Só estou apertando o passo porque estou... – Sarah diminuiu o ritmo e olhou o horizonte a sua frente – Com medo da livraria fechar.

- Sua perna é muito maior que a minha – Belize protestou alcançando-a. Não é justo você correr desesperada desse jeito, a extensão do meu desespero não consegue competir com o seu.

Sarah diminuiu o passo, sua amiga tinha razão. O desespero dela era muito superior. Tanto em comprimento de pernas quanto em sentimentos propriamente ditos. Além do mais, a livraria se encontrava a apenas um quarteirão de distância. Não tinha razão para tanta pressa, tudo estava sob controle.

- Desculpa – ela disse para Belize.

Às vezes ela era assim, dura demais, sem necessidade. Herança de quando ela teve necessidade de endurecer. Aliás, era por essas e outras que os beijos que ela dava em Oliver não iam fazê-la perder a cabeça, ela sabia da extensão da merda que aquilo podia dar. E não deixaria nada daquilo se repetir.

Afinal, beijos não eram nada. Sexo poderia ir pelo mesmo caminho. Não seria primeira vez que ela usaria um homem como objeto. Ajudaria se o sexo entre eles não fosse tão bom... Mas não se pode ter tudo.

- Não é culpa sua que você tenha nascido com pernas longas. Pelo menos a natureza compensou a falta de tamanho das minhas pernas na cor dos olhos – Belize comentou.

E ela tinha razão. Os olhos castanhos claros de Sarah ficavam parecendo pântanos enlameados perto do azul-mar-caribenho dos olhos de Belize. Sorte que elas não estavam ali para comprar resultados da loteria genética.

- O que a gente veio procurar aqui mesmo? – Belize perguntou enquanto elas subiam as escadas rolantes da livraria.

- Livros de arte, tenho que aprender mais sobre o assunto. Não posso ficar por aí dependendo de ninguém, tenho uma empresa pra tocar. É altamente recomendável que eu domine todos os processos.

- Dependendo de Oliver, você quer dizer.

Não existia ninguém como Belize para ir direto ao ponto. Ainda que o ponto nem sequer viesse ao caso.

- Dele muito menos! Péssimo histórico – Sarah achou pertinente relembrar.

- Por quanto tempo mais você vai ficar se baseando nos erros do passado do cara? – Belize quis saber, não que fosse da conta dela.

Sarah se ocupou em olhar as estantes. Tinham inúmeras opções para quem queria saber mais sobre arte. Ela mal sabia qual escolher.

- Hein! – Belize indagou batendo o pé no chão, uma típica garotinha mimada de Copacabana que não nega suas origens.

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