- Nossa convivência está te transformando numa pessoa das trevas. Quer umas roupas pretas emprestadas? – Belize perguntou a Oliver assim que ele chegou em casa daquele jeito cabisbaixo que estava se transformando em rotina.
- Belize, por favor... – ele sentou no sofá ao seu lado e ficou olhando para a televisão, como se prestasse mesmo atenção no que acontecia na tela.
- Por favor digo eu! Eu hein, que saco! Vai fazer duas semanas que você fica se arrastando pelos cantos, igual uma lesma cabisbaixa. É minha última semana de férias e eu queria me divertir com meu amigo, se não fosse pedir demais.
- Você fala como se eu fosse seu melhor amigo.
- E é – Belize confirmou. – Pelo menos aqui dentro dessa casa.
- Só tem eu e você nessa casa.
- Pra você ver como eu estou debilitada de opção! – ela reclamou. – Você tinha que trazer Alicia pra passar o comigo o último fim de semana. Ela é bem mais alto astral.
- Tenho umas pendências da gráfica para resolver esse final de semana, mal vou ter tempo para voltar aqui para dormir.
- Tá vendo? Vai ser péssimo! Vou ter que fazer amizade com gente da minha idade pra passar o final de semana – Belize desligou a televisão com um toque enérgico no controle e ficou olhando para ele, nada escapava ao seu olhar de fúria. – Afinal, o que aconteceu? Sarah não gostou da gráfica que você montou pra ela? É por isso que você voltou do Rio emo desse jeito?
- Ela gostou – Oliver disse, encolhendo os ombros. – Afinal, salvou a vida dela e da empresa com a encomenda do Raphael, não é? Deus a livre de fazer algo errado justamente com o projeto de Raphael!
- Ah, então é só ciúme... – disse Belize.
- Não é bem isso.
Oliver não via sentido em explicar. Era claro que também era ciúme. De novo. Mas não era só isso. Era desesperança. Era incerteza. Era não saber mais o que fazer. E achar que realmente não tinha mais nada para ser feito.
- Vai mentir para sua melhor amiga? – Belize perguntou, cruzando os braços enquanto armava sua expressão de mal-encarada.
- Minha melhor amiga é Sarah – Oliver disse. – E eu não sabia que ela tinha ficado, ou quase ficado, ou quase casado com meu amigo Marcos. Isso foi demais pra mim, sabe? Quanto mais eu acho que a entendo, mais vejo que eu não sei de nada.
- Oliver, eu odeio ser a pessoa que vai te dar essa notícia, mas Sarah já ficou com uma grande quantidade gente, pensei que você soubesse.
- Eu sei.
- Pensei que você aceitasse. Visto que você não pode fazer nada pra mudar.
- Eu aceito! – Oliver chegou até a se ajeitar no sofá. – Eu só não queria ser mais um. Ela me trata como se eu fosse.
- Sorte a sua, né, queridão? Quando eu te conheci ela te tratava como menos um. E você não ficava dando esses chiliques pra cima de mim. Talvez porque ainda não tínhamos intimidade. Época da qual sinto saudades agora! Mas deixa te falar uma coisa, a responsabilidade de se transformar em mais que um na vida dela é toda sua. Porque se tudo que ela me contou que você fez for verdade...
- É verdade – ele confirmou encolhendo os ombros, e querendo se encolher inteiro. – Eu dei minhas mancadas.
- Mancadas? Há! Se fosse comigo, eu te finalizava no caratê. Mas isso é porque eu sou violenta. Sarah não é. Você deve saber mais sobre como ela é ou deixa de ser, já que ela é sua melhor amiga.
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O mundo dá voltas
Literatura FemininaSarah Atteli está de bem com a vida. Dona do seu nariz, dona da sua pequena empresa, dona do seu corpo. E é assim que ela pretende permanecer. Não é nenhum Oliver Timber querendo uma vaga de emprego na Atteli Comunicações que vai mudar alguma coisa...