13 - O que os ouvidos não ouvem

6.9K 762 381
                                    

Tampões de ouvido. Coisinhas maravilhosas. Geralmente vendidos em pares. Com uma ampla variedade de cores.

Oliver comprou os seus em azul, na cor do mar, numa loja para turistas na Rua das Pedras naquela mesma tarde. Eles eram a garantia de que finalmente ele teria uma boa noite de sono.

Ou pelo menos essa era a intenção.

Assim que Sarah bateu o portão do quintal, os participantes remanescentes da discussão trocaram olhares. Todos de preocupação. No de Belize ainda um pouco de raiva.

- Pelo menos você não vai ter que ir à boate só para agradá-la – disse Kellen para Belize, que tinha se encolhido no canto do sofá.

- Pensei que você também gostasse das boates – comentou Oliver, cada vez mais interessado pela dinâmica daquele grupo de amizade.

- Não dessas! Aqui as pessoas veem com maus olhos as minhas coreografias. E quando Sarah sai atrás de homem, que é a cada minuto, não sobra ninguém com coragem suficiente para acompanhar os meus passos.

- Eu acompanharia se Fábio não risse tanto da minha cara – Kellen parece contrariada ao fazer a confissão. – Mas início de relacionamento, aquela chatice de sempre, ter que impressionar o sexo oposto...

- Por falar nele?

- No quarto, provavelmente jogando pétalas de rosas vermelhas sobre a cama. Mal sabe ele que me impressionaria mais se jogasse M&M's.

Oliver riu disso. Ele sabia que era impossível prever seres humanos. E tinha horas que isso era bom, era legal  ser surpreendido.

- Moedas... – confessou Belize. – Quem me dera na minha cama jogassem moedas de diferentes países.

- Anti-higiênico  – era a opinião de Kellen. – É melhor eu ir lá dentro supervisionar a surpresa. É muito mais interessante quando eu chego no meio e estrago tudo.

Oliver desejou boa noite, coisa que ele tinha certeza que ela iria ter. Mas era uma pena colocar fim num papo que ele queria que entrasse noite a dentro. A perspectiva de passar as horas seguintes se perguntando o que Sarah estava aprontando era desanimadora. Ele se sentiu reconfortado ao perceber que ele não era o único insatisfeito no cômodo. 

- Tá vendo? Se eu tivesse um carro agora eu iria lá no bar de rock ouvir uma seleção de músicas velhas com os tiozões.

No seu caminho de saída Kellen balançou a cabeça junto com toda a extensão do seu cabelo, ela não podia fazer mais nada a respeito. Oliver, por sua vez, podia. E já revirava o conteúdo do seu bolso atrás da chave do seu carro.

- Pode ir com o meu – ele jogou a chave no ar, Belize a alcançou com sucesso. – Só cuidado para não arrastar a parte debaixo no quebra-molas, tem um particularmente ardiloso perto da entrada do condomínio a seguir. Eu dei um polimento bacana hoje.

Belize, encolhida no sofá como estava, olhou para ele, perplexa. Oliver ficou sem saber se era por causa da oferta ou do polimento.

- É bem gentil da sua parte. Principalmente levando em consideração a pessoa sem escrúpulos que você é – ela falava enquanto rodava o chaveiro dele no dedo. – Mas se você quiser mesmo me emprestar o carro, vai ter que dar uma de supervisor. Porque, assim, eu meio que já sei dirigir, porque já vi um milhão de vídeos na internet. Eu só nunca treinei num carro real. – ela girava cada vez mais rápido o chaveiro no dedo. – Mas sabe de uma coisa? Eu tenho uma ótima imaginação e eu treinei tanto no meu carro imaginário que é quase como se eu tivesse dirigido de verdade. Tenho certeza de que sou muito melhor motorista do que muita gente que você vê por aí. O que você me diz?

O mundo dá voltasOnde histórias criam vida. Descubra agora