50 - A impraticidade poética [FIM]

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Oliver podia ser muitas coisas boas nesse mundo, mas prático ele não era.

A bicicletinha rosa estava ali para comprovar.

Os joelhos dele batiam no guidão, ele tinha que se curvar para se segurar nele, mas mesmo assim ele pedalava, uma perna após a outra. Um esbarrão a cada pedalada.

A iniciativa de ir consertar o carro foi para último plano na mente de Sarah, ela mal conseguiu sair do veículo sem tropeçar.

Ele parecia o mesmo Oliver de sempre. O Oliver que a amava. E que ela amava também. Era difícil pensar em outra coisa com a imagem dele avançando lentamente em sua direção daquele jeito.

Dava vontade de correr até lá, mas ela estava congelada ali, acompanhando cada movimento dele, sem saber como proceder.

Porque por menos prático que fosse, tinha sua poesia.

Oliver numa bicicletinha rosa vindo resgatá-la era  um verso que bateu forte no seu coração. Nenhum pedido de desculpas, por mais bem-sucedido que fosse, não superaria aquilo que acontecia diante dos seus olhos.

E quanto mais ele se aproximava, mais Sarah se agitava. Não podia ficar simplesmente parafusada ali, tinha tido tempo de sobra para concatenar um plano, onde estava a porra do plano agora? Ela não sabia. Nem do  plano nem de nada. Mal Oliver parou a bicicleta e ela se agarrou no seu pescoço.

- Desculpa! – ela disse, talvez mais alto que o necessário, principalmente se fosse levado em consideração que o rosto dela estava enfiado no pescoço dele. – Eu estraguei tudo.

- Calma, Sarah, relaxa. É um carro velho, é natural que dê problemas. Ele tem umas manhas, faz parte, peraí que já vou consertar.

Oliver segurou o ombro dela de leve para puxá-la um pouco para o lado, assim liberava seu caminho. Ele se esticou até o carro, pegou a chave e andou até o porta-malas, levando a bicicleta à reboque.

Sarah o observou enquanto ele guardava a bicicleta na mala, não podia negar que estava estupefata. Ele tirou do compartimento uma garrafa pet com água e uma mangueira de borracha, passou por ela para chegar até o capô do carro sem dar o menor sinal de reconhecimento ao seu pedido de desculpas.

Chocante.

Tudo bem, ela tinha que admitir, não tinha sido o melhor pedido do universo, mas agora ele estava lá, flutuando no ar, igual um balão de gás hélio que se solta da mão de uma criança. Indo para longe, mas sem deixar de ser notado.

De repente ele estava apenas processando.

Mas os cinco minutos seguintes foram passados com ele completamente imerso no que acontecia dentro das engrenagens do carro. E quando por fim decidiu falar foi:

- Dá partida no carro pra ver se vai.

Com medo de dizer qualquer outra besteira que seria ignorada por ele, Sarah entrou no carro e girou a chave. A Variant pegou no tranco depois de um ruído sofrido. Oliver fechou o capô com uma força que fez o carro todo tremer. Deu a volta e entrou no banco do carona, a batida da porta foi tão forte quanto à do capô.

A ação mais recomendada seria Sarah colocar o carro para andar, oferecer uma carona para onde quer que Oliver estivesse antes de chegar ali e fazer o caminho de volta para casa.

Porém, o que ela fez foi ficar segurando forte o volante e nada mais. O problema era que apenas segurar o volante não fazia carro nenhum andar, muito menos um carro tão temperamental quanto a Variant.

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