6 - O mínimo de detalhe possível

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Ela não queria nem saber. O alojamento irregular de Oliver podia esperar, desde que ela não estivesse dentro de casa para ter que olhar para a cara dele. Tinha tantas outras pessoas para serem olhadas ali naquela cidade. Ela tinha certeza que muitas delas pessoas eram tão bonitas quanto, se não mais que o invasor de domicílio.

Muito chamariam o movimento de Sarah de fuga, mas ela preferia nomear como saída estratégica. E muito bem maquiada, diga-se de passagem.

- Pra onde você vai tão bonita assim? – Sarah quase despencou do seu salto quando identificou a presença malígna sentada no seu sofá, como se a casa fosse dele.

A única resposta cabível era:

- Não é da sua conta – e evitar contato visual.

- Eu sabia que você ia falar algo do gênero, eu só queria mesmo era encaixar a palavra "bonita" numa frase.

Aquilo não tinha graça, apesar de ela achar ter ouvido alguma risadinha dele logo após a frase. Ela mal podia esperar para tê-lo logo longe dali, ou, só por aquela noite, se ter longe dali. Para poder estabelecer contato visual com outras pessoas livremente.

- Você quer uma bebida – era uma constatação, passou longe de ser uma pergunta.

Mesmo assim a resposta era sim.

- Cerveja? – ele perguntou indo até onde ela estava, quase na porta da cozinha.

- Tequila – Sarah respondeu tomando as rédeas da situação, indo até seu aparador de bebidas no canto da sala e se servindo de um copinho.

Enquanto isso ela podia ouvir o barulho dele abrindo a geladeira na cozinha e tirando alguma coisa de lá. Ele estava mesmo muito à vontade... Ela não parava de se espantar. Mas amanhã ela resolveria isso. Aquele era um ótimo momento para ela escapulir pela porta da sala sem nem precisar dar tchau. Bastava tomar a tequila primeiro, também não ia desperdiçar. Ela pegou o copinho e virou pra dentro.

- Você nem esperou pra brindar! – de um segundo para o outro Oliver já estava na sua cola.

Sarah quase levou um susto, mas não o bastante para deixar transparecer. Ela se limitou a olhar para ele com cara de nada-me-abala, o que já foi um erro. Ele estava muito perto mesmo. Com aqueles olhos que você não sabia se era castanho ou verde. E aquele cabelo que ela sabia que dava a sensação de grama recém-cortada, caso alguém fosse passar a mão na cabeça dele.

Não que ela fosse passar. Longe dela. Ela estava de saída. Prestes a encontrar uma enormidade de homens por aí, vários mais bonitos que ele.

- Mais uma dose? – ele perguntou com a garrafa à postos, pronto para servi-la, como se ela tivesse pedido sua ajuda.

- Não força a barra, Oliver – Sarah resgatou a garrafa da mão dele, tomando cuidado para para não esbarrar nas mãos dele no processo.

- Você tem esse jeito de falar meu nome que só você tem. Eu gosto.

Sarah desistiu de colocar a tequila no copinho, bebeu direto da garrafa. Foi uma atitude um pouco drástica, que Sarah só se deu conta quando sentiu o gosto ardido preenchendo sua boca. Mesmo assim ela engoliu, precisava mesmo de alguma coisa forte para encobrir aquela informação.

Definitivamente iria evitar chamá-lo pelo nome. Ao mesmo tempo, era um pouco tarde demais na história deles dois para começar a chamá-lo de Senhor Timber. Em especial porque ele era cinco meses mais novo que ela.

- Para de agir como se estivesse tudo bem entre a gente, porque não está. Nem vai ficar.

- Vai sim, Sarah. Um dia – ele rebateu logo em seguida, com uma espécie de desespero no olhar. – Eu espero que seja em breve.

O mundo dá voltasOnde histórias criam vida. Descubra agora