37 - O repensar das escolhas

5.4K 721 382
                                    


João e os outros caras tinham ido embora e as horas da tarde avançaram lentamente assim como o fim da produção. Só Oliver e Sarah ficaram para terminar. E quando de fato terminaram, demoraram a se acostumar com o fato de que aquilo tinha um fim.

- Missão cumprida – Sarah pegou uma pá que estava pelas redondezas e bateu no chão, como um cetro.

Ela ficava parecendo uma rainha daquele jeito. Ela ficava parecendo uma rainha de muitos jeitos.

- Precisamos comemorar – Oliver disse. – E eu tenho uma sugestão.

- Uma sugestão de restaurante, espero. Porque eu tenho fome. E não é pouca.

- Minha sugestão é outra, o restaurante fica por sua conta. Pode ser?

- Acho ótimo – disse Sarah. – Inclusive prefiro.

Sarah devolveu a pá para a parede que ela estava encostada, pegou uma das caixas com ímã de geladeira e saiu em direção ao carro. Oliver seguiu logo atrás, com um carregamento de caixa equilibrado nos braços.

Quanto mais caixas ele carregasse, mais rápido elas iriam acabar e quanto mais rápido elas acabassem, mais cedo ele chegaria ao lugar onde ele queria. Não sabia muito bem a que horas o lugar fechava, usou toda sua força de torcida interna para que o lugar estivesse aberto.

E não é que funcionou?

- Você me fez virar todas aquelas curvas e vir correndo numa velocidade maluca pra gente chegar num sebo? – Sarah saiu do carro olhando em volta, procurando outra localidade possível.

Mas não tinha, era aquilo mesmo. O exato sebo que ele tinha em mente.

- Nada melhor que livros para inspirar você a ler novamente.

- Mas eu tenho livros, uma cacetada deles, você viu ontem lá em casa – argumentou Sarah.

- É, mas também não tem nada melhor do que um livro novo para reavivar o processo.

- Com novo você quer dizer caindo aos pedaços e cheio de poeira?

- Isso aí – Oliver disse entrando na loja.

Ele ouviu os passos dela o seguindo logo atrás. Ufa. Por alguns momentos ele chegou a pensar que sua ideia não iria funcionar. Como tantas outras não funcionaram.

– O que você acha desse? – ela perguntou com um livro de capa verde na mão.

"Love Story" do Erich Segal. Oliver já tinha visto o filme e mal acreditou na sua sorte. Ela tinha pedido sua opinião e ele tinha algo a dizer sobre. Era a primeira vez na história deles dois que o timing tinha sido perfeito.

Aquilo era uma coisinha à toa, ele sabia. Ao mesmo tempo se perguntava: não era de pequenas coisas que a vida era feita?

Era sim.

- É tipo o "A Culpa é das Estrelas" da época das nossas mães. Aliás, eu vi esse filme com minha e foi ela quem fez o paralelo. Se você levar o livro, depois que ler pode comentar com ela, ela vai ficar tão feliz...

Sarah catou uns trocados na bolsa e pagou o livro, antes que ele pudesse se voluntariar a fazer isso por ela. Sua revanche foi correr na frente e pagar o salgado com caldo de cana que eles comeram logo depois. Sarah soltava ocasionais resmungos durante o caminho de volta, inconformada com a trapaça. A qual Oliver tentou justificar:

- Você pagou pelo livro e eu pelo jantar, direitos iguais.

- Quem disse que aquilo foi o jantar? – ela indagou sem tirar os olhos da estrada. – O sol ainda está no céu, se aquieta! Aquilo não passou de um lanche da tarde, para forrar o estômago enquanto a noite não cai.

O mundo dá voltasOnde histórias criam vida. Descubra agora