Sarah tropeçou de novo. Ela podia culpar o salto. Podia falar que era por causa da irregularidade do calçamento. Ainda assim nada poderia justificar. Era a terceira vez que ela tropeçava. A terceira vez que Oliver a amparava.
Droga. Ela tinha perdido a habilidade de saber como fazer parar. Primeiro ele a pegou pela mão. Depois pelo braço. Na terceira vez ele teve o descaro de enlaçá-la pela cintura. Só faltava que ele a pegasse no colo. Na verdade, só o que faltava mesmo era ela ficasse pensando numa coisa dessas.
Olhou para os lados com a certeza de que a qualquer momento algo ruim iria acontecer. Viu que Oliver estava parado olhando para ela. Não podia ser tão bom quanto parecia.
Ela desesperadamente procurava por uma saída.
- É aqui – ele disse abrindo a porta do restaurante.
Tratava-se de um lugar chique, que tocava jazz e tinha um monte de gente circulando. No meio daquela gente toda, um homem levantou o braço e veio na direção deles.
A multidão era um aspecto positivo. Pessoas poderiam servir como válvula de escape. Mas Sarah estava ali a trabalho. Seria imprudente perder o foco. Até porque, nem sempre pessoas funcionavam do jeito esperado. Isso ela tinha aprendido. Era bom aplicar esse aprendizado.
- Lá está ele – Oliver se inclinou em direção a ela para dizer.
- Oliver, meu chapa! – ele disse enquanto terminava de se aproximar. – Não sou britânico nem nada, mas meia hora de atraso é dose. Dose de vodca. Melhor ter uma boa razão pra isso, ou vou ter que tomar outra.
- Raphael Balis, Sarah Atteli.
Raphael parecia ser um cara sorridente, pois sorriu para Oliver e agora estava sorrindo para ela. Ok, aquilo era uma reunião de trabalho e todos precisavam fingir que eram simpáticos. Mas o sorriso dele não parecia ser de mentira.
- Está vendo? Eu sou real.
Real e solidamente inconveniente. O sorriso falso de Sarah se desmontou. Ele ia mesmo ficar fazendo referência a um probleminha bobo desse? Aquilo já tinha sido superado. Bola pra frente! Eles tinham um negócio pra fechar.
- Vamos conversar de uma vez? – Oliver quis saber.
- É por aqui.
Eles começaram a seguir Raphael numa trilha entre as pessoas.
Sarah gostava de se intitular uma implacável mulher de negócios. E transmitia essa mensagem no barulho que fazia com seu salto ao caminhar. Mas verdade seja dita, primeiras reuniões a aplacavam um pouco. Era uma senhora responsabilidade convencer alguém de que você é capaz de desenvolver um trabalho que mereça o dinheiro dessa pessoa.
Quando a pessoa em questão a via como alguém que desconfiava da sua existência, pior.
Ela não tinha dúvidas de que era capaz de desenvolver o tal trabalho. Só não tinha certeza se conseguiria convencer alguém que já tinha uma primeira impressão deturpada dela de que ela era capaz. Uma questão que lhe ocorreu ali, naquele momento. Suas pernas perderam a força do caminhar, acarretando a diminuição do volume dos seus saltos no chão.
Um problema na sua representação de implacabilidade.
Para completar, Oliver andava nos seus calcanhares, prestando mais atenção no celular do que no caminho. O que podia ter de tão importante naquela merda de tela? Era mais importante do que o tremelique que atacava suas pernas?
- Belize te mandou alguma mensagem? Nem ela nem Alicia avisaram se chegaram em casa. A omelete vai ficar fria.
Sarah fez que não com a cabeça. Só por desencargo de consciência, checou seu celular. Não mesmo, ela virou para trás para reforçar. A testa dele estava franzida em três pontos diferentes. Existia coisa mais importante do que o tremelique nas suas pernas.
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O mundo dá voltas
ChickLitSarah Atteli está de bem com a vida. Dona do seu nariz, dona da sua pequena empresa, dona do seu corpo. E é assim que ela pretende permanecer. Não é nenhum Oliver Timber querendo uma vaga de emprego na Atteli Comunicações que vai mudar alguma coisa...