Woody Allen disse uma vez num filme que relações são como tubarões, tinham que constantemente andar para frente caso contrário morria. Sarah adorava esse filme, fazia tempo que ela não sentava e simplesmente assistia alguma coisa.
Mas ela exportou o ensinamento de Woody para o campo dos negócios, e resumindo, ela precisava de novos clientes. Urgente.
A busca pela expansão de horizontes era mundialmente reconhecida como um desafio. E na semana após o carnaval Sarah entrou de cabeça nele. Cabeça, ombro, joelho e pé, segundo o discurso inflamado de Kellen naquela manhã de quinta-feira.- Vai me pagar hora extra pelo tempo de sono perdido? Para de ficar me mandando mensagem de madrugada, a não ser que seja fofoca. Não sou obrigada a ficar lendo sobre o trabalho fora do expediente, tá legal? Na primeira semana eu aturei. Na segunda eu fiquei calada. Mas daqui a pouco vai fazer um mês que você ta nesse ritmo frenético! Baixa um pouco a bola aí, amore, ninguém vai morrer se você não achar mais duzentos clientes novos.
- Por um acaso isso é TPM?
- Não, Atteli, minha irritação é 100% inspirada na noite mal-dormida que suas mensagens fora de hora me causaram.
- Ué, mas não era só desligar o som das notificações?
- E o que eu faço com as vibrações? Porque são as vibrações que me tiram do sério! Suas más vibrações de trabalho, trabalho, trabalho. Parece que eu estou indo tirar um cochilo dentro da música da Rihanna! Eu nem sei cantar em inglês.
- Quanto a isso eu não posso fazer nada. Minha intenção é que você fique sabendo das novidades assim que acordar, não no meio a noite. Só estou fazendo o melhor que posso pela empresa, você tinha que me entender.
- A quem você está querendo enganar mesmo? A mim? Que estou aqui há anos vendo você fazer essa mesma palhaçada toda vez que sua vida pessoal não vai bem? A mim?! Que passei uma semana inteira fazendo e refazendo curativos nessa bundinha? Que sei exatamente o que está acontecendo? Que estou mais do que ciente que o melhor que você está tentando fazer é manter sua cabeça longe do problema? Você acha que isso é jeito de resolver, Sarah?
Eram muitas perguntas de uma vez, as quais Sarah só podia responder com outra.
- O que você quer que eu faça, Kellen? Estamos em crise! O país e eu! Tento focar nas prioridades.
- Já experimentou se olhar no espelho, então? Acho que seria um choque de realidade.
Sarah instintivamente ajeitou os óculos na ponte do nariz. E daí que ela estava de óculos? O que que tinha? Às vezes ela usava óculos para trabalhar e não se lembrava de ter ouvido nenhuma reclamação antes. Ora essa...
Ok, podia ser que seu cabelo também tivesse sido um pouco negligenciado nos último dias, mas existiam boas justificativas. Naquele dia, por exemplo, não deu para pentear porque tinha passado a noite anterior ali no escritório. O que explica também a falta de banho. E possivelmente as olheiras. Se ao menos Kellen tivesse visto suas mensagens logo pela manhã e tivesse ido buscar uma muda de roupa na casa de Sarah a situação não estaria no pé que estava.
- Aparência não é tudo – Sarah rebateu apenas pela necessidade de dizer alguma coisa.
- Mas também não é nada – comentou Kellen, que se encontrava no ponto alto de sua beleza, seu cabelo estava bastante colaborativo naquele dia específico. – Mas esse nem era o assunto que eu vim falar.
- Quer dizer então que eu levei todo esse sermão em vão?
- Não é como se você não estivesse merecendo. Belize e eu combinamos de tentar novas abordagens de chamada para a realidade com você. Já que as da semana passada claramente não surtiram efeito.
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O mundo dá voltas
ChickLitSarah Atteli está de bem com a vida. Dona do seu nariz, dona da sua pequena empresa, dona do seu corpo. E é assim que ela pretende permanecer. Não é nenhum Oliver Timber querendo uma vaga de emprego na Atteli Comunicações que vai mudar alguma coisa...