Ruth abriu a porta de seu apartamento e sorriu de orelha a orelha ao se deparar com Beto.
- Bom dia. - ele gaguejou, precipitando-se para o interior da sala. - Bom, eu espero que você tenha mesmo um bom motivo para ter me chamado até aqui.
- Relaxa, Beto. - ela fechou a porta lentamente, mordendo o lábio inferior. - Você está em casa. Senta aí. Quer um suquinho, um biscoito de nata? Minha mãe deixou uma fornada pronta antes de sair.
- Eu só quero saber o que tá acontecendo. - Beto sentou-se, obviamente desconfortável. - Eu não avisei à Cindy que viria aqui.
- Quem precisa daquela patricinha? - Ruth riu com sarcasmo. - Você pode não ter avisado, mas está aqui, não é? Eu não me lembro de ter obrigado alguém a alguma coisa, portanto, você veio por livre e espontânea vontade.
- Ruth, eu tô falando sério. - ele segurou-se para não explodir. - Você está com problemas? Alguma coisa em que eu possa ajudar?
Ela não respondeu. Em vez disso, desabotoou a blusa até que seu colo magro e anguloso estivesse suficientemente exposto. Ignorando a expressão contrariada de Beto, Ruth tentou juntar os seios de maneira sutil, mas a cena só ficava cada vez mais grotesca. No desespero por chamar a atenção dele, ela sequer cogitou que estava parecendo exatamente isso: uma mulher desesperada.
- Você não consegue nem imaginar o que é? - ela perguntou, provocante, pousando ao lado dele.
Beto saltou para o lado instintivamente, desviando os olhos da pele nua de Ruth. Ele respirou fundo, escolhendo as palavras que diria em seguida, quando uma mão macia se fechou em torno de seu pulso.
- Eu preciso de você, Beto. - Ruth prosseguiu. Sua voz tinha um tom de súplica. - Me sinto meio idiota dizendo isso, mas... quando você aparece na minha frente, é como se tudo o que eu sentia quando te conheci voltasse de repente.
- Ruth, nós nos falamos pela internet há anos, e não me lembro de você ter tentado esse tipo de abordagem. Nem eu dei indícios de que algo mais aconteceria. - Beto segurou-lhe as mãos pacientemente. - Eu simplesmente não sei o que dizer.
- Diga apenas que a gente pode tentar. - um esboço de sorriso se abriu no rosto de Ruth, cujos olhos pareciam marejados. - Nós somos dois solteiros, desimpedidos e na flor da idade. O que a gente tem a perder?
Beto abriu a boca duas vezes antes de formular a resposta.
- Você já parou pra pensar que existem outros homens além de mim? - ele virou o rosto. - Alguns bem melhores do que eu. Ruth, eu detesto ver você assim, mas não tem nada que eu possa fazer além de desejar que seja muito feliz.
Quando ele olhou para ela novamente, a blusa já havia desaparecido. Seminua, com um sutiã pink de bojo a criar a ilusão de seios maiores, Ruth avançava lentamente sobre seu corpo. Beto não sabia se deveria sentir pena ou vergonha alheia. De uma coisa, porém, tinha certeza: a imagem de Ruth, por mais despida que estivesse, não iria causar-lhe cosquinhas.
- Pare. - ele levou as mãos aos ombros brancos de Ruth. - Isso não vai acontecer, ok? Eu amo a Cinderela, e nada vai mudar isso. Já estivemos separados por tempo suficente para que eu não estrague tudo. Sugiro que você procure um psicólogo.
Dizendo isso, Beto levantou-se e andou a passos largos em direção à porta, sem olhar para trás. No corredor, ele expeliu o ar dos pulmões demoradamente e sacudiu a cabeça. Era difícil acreditar que aquilo estava acontecendo.
Os raios de sol dançavam pelo torso nu de Júlio enquanto ele fitava a piscina do hotel, estendido na espreguiçadeira. Era uma maravilhosa manhã de sábado, e, apesar de ainda estar sob o efeito da incerteza a respeito do próprio futuro, poucas coisas afetariam seu humor. Nem mesmo o SMS inusitado que recebera momentos antes fora capaz disso.
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Gato Borralheiro
General FictionUma metrópole qualquer, 2013. Cinderela Ramos de Moraes - ou simplesmente Cindy - é uma jovem rica, linda e independente. Presidente da Cristal Calçados, a empresa da família, tem paixão assumida por sapatos e popularidade entre os funcionários. Pa...