Jim olhou para Cinderela, depois para a ruiva atônita e, novamente, para Cindy.
- Eu... eu posso explicar. - ele gaguejou.
- Não precisa. - Cindy ergueu os cantos dos lábios de maneira sarcástica. - Eu tenho inteligência o suficiente para entender o que está acontecendo aqui.
Ele engoliu em seco e correu os olhos automaticamente por Manuel e Beto. Não pode deixar de notar a satisfação latente em seus rostos.
- E é evidente que as coisas não vão ficar por isso mesmo. - Cinderela prosseguiu. - Jim, considere-se eliminado.
Àquela altura, a ruiva fatal já havia desaparecido. Jim até pensou em argumentar, mas sabia que seria inútil. Então, quando Beto deu um passo à frente, uma faísca pareceu ter se acendido dentro dele.
- Eu aposto - Beto disse, com um sorriso. - que você não vai querer discorrer sobre as regras do jogo e dar lições de moral agora. Ou vai?
- Você não vai durar muito, Roberto. - Jim não fez questão de evitar um riso debochado. - Mesmo que a Cindy te escolha (o que eu, particularmente, duvido), vocês dois vão acabar da mesma forma que aconteceu anos atrás. Se eu fosse você, deixaria o jogo enquanto me resta um pouco de dignidade.
- É engraçado te ouvir falar sobre dignidade, Jim. - o outro retorquiu, provocativo. - Vindo de um gigolô sem escrúpulos, isso soa, no mínimo, hipócrita.
E, num piscar de olhos, Beto se viu interrompido por um soco certeiro no rosto. Caído no chão, ele ainda se recuperava do choque quando Jim se lançou sobre si com sangue nos olhos.
Tomado por uma fúria súbita, Beto retribuiu o ataque com uma série de socos e pontapés. O rival defendia-se, para em seguida agredir novamente. Os baladeiros haviam se reunido, todos, em torno da pancadaria. Cinderela, desesperada, afastou-se do local em busca dos seguranças.
Cindy espreguiçou-se, emergindo de baixo do edredom. Meio zonza, ela piscou umas três vezes para certificar-se de que o que estava ali, diante de sua cama, não era uma alucinação.
- Bom dia, Cinderela. - Beto sorriu, equilibrando uma bandeja farta. - Hora do café da manhã!
Ela não pode evitar um risinho quando o rapaz sentou-se no colchão macio, enumerando todos os itens da bandeja como se ele próprio a tivesse preparado. Granola, iogurte natural, barrinhas de cereal, pão com geleia, uma maçã reluzente. Cindy, no entanto, não conseguia desviar os olhos de Beto.
- É um ótimo pedido de desculpas. - ela disse. - Mas não posso esquecer tão rápido o incidente da noite de ontem. Cheguei a ter pesadelos.
- Cindy, você viu perfeitamente que foi o Jim quem começou tudo. Eu apenas me defendi.
- Sei disso, mas você precisava provocar? - Cindy mordeu a fatia de pão. - Aliás, o senhor pareceu confiante demais para o meu gosto. O que te faz pensar que eu vou, de fato, escolher você para ser meu marido?
- Eu sinto isso. - ele sorriu. Seu sorriso era o mesmo dos tempos de colégio. - Do contrário, você não acha que já teria se livrado de mim na primeira oportunidade, como fez com os outros?
Uma expressão contrariada tomou o rosto de Cinderela.
- Não seja por isso. - ela elevou a voz. - Posso te por para fora hoje mesmo!
- Você não vai fazer isso. - ele riu com gosto. - Porque você me ama. E eu também te amo. Não é incrível como, depois de tantos anos, um sentimento possa voltar dessa forma? Pra que resistir, hein, Cindy? Está tudo conspirando a nosso favor.
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Gato Borralheiro
General FictionUma metrópole qualquer, 2013. Cinderela Ramos de Moraes - ou simplesmente Cindy - é uma jovem rica, linda e independente. Presidente da Cristal Calçados, a empresa da família, tem paixão assumida por sapatos e popularidade entre os funcionários. Pa...