23 - Borboletas No Estômago

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Gigi encarou o irmão com uma mistura de incredulidade e raiva. Seu primeiro impulso - e desejo - foi partir para cima dele e cobri-lo de bofetadas, até que implorasse clemência. Mesmo que os olhos dele aparentassem culpa e remorso, agredi-lo era exatamente o que Gigi iria fazer se a campainha não tivesse rompido o silêncio do corredor.

Lúcia surgiu da copa em instantes, e, quando atendeu à porta, qual não foi a surpresa de todos. Um rapaz alto, forte e bronzeado exalava um perfume amadeirado, com um enorme buquê de petúnias nas mãos.

- Com licença. - Jim falou, a voz suave, fingindo ignorar o fato de que Lúcia se abanava diante dele. - A senhora deve ser dona Gilda Taveirós, não é?

- Senhora, não. Senhorita. - hipnotizada, Gigi avançou de braços abertos em direção ao buquê. - Esqueça isso. Pode me chamar de Gigi.

Tonta diante do buquê, ela pode ouvir a voz de Lucas às suas costas, perguntando o nome do visitante inusitado.

- Jim Williams. - o modelo respondeu, estendendo-lhe a mão. - Você deve ser Lucas Taveirós, não é? Não se lembra de mim? Já fui citado na sua coluna social.

 - Ah, Jim Williams! - Lucas abriu um sorriso sincero enquanto chacoalhava a mão dele. - A campanha beneficente na África do Sul! Como pude me esquecer? A que devemos a honra desta visita?

- Na verdade, eu vim em nome de um amigo. O Júlio. - Jim sorriu discretamente com as carrancas de desgosto que tomaram os rostos de todos os presentes. - Se não estiver incomodando, eu gostaria de ter uma conversa particular com a Gigi.

Gigi prendeu a respiração com o olhar penetrante que o rosto anguloso de Jim lhe dirigiu. O aroma das petúnias e do perfume dele se misturavam, assim como a realidade e o absurdo.

- Hum, que cheirinho bom! - Manuel pôs os pés no Alma Boêmia, fazendo sua voz ecoar até os ouvidos de Regiane, que anotava alguns pedidos. - Eu confesso que já estava com saudades da comida do tio Sérgio.

Ele abriu um sorriso enorme quando a irmã gritou seu nome sem o menor pudor, correndo em sua direção. O abraço dela quase esmagou-lhe os ossos. Assustado com o grito, Sérgio surgiu do interior da cozinha, e petrificou ao dar de cara com o sobrinho.

- Vejam se não é o Príncipe Encantado! - Sérgio ironizou, jogando um pano de prato por sobre o ombro. - O que aconteceu? Sua Bela Adormecida não acordou pra vida?

- Na verdade, é Cinderela. - Regiane finalmente libertou o irmão de seu abraço de urso. - E, pelo sorriso do Manuel, acho que temos boas notícias.

- A boa notícia é que eu estou aqui, não é? - ele riu, arrastando a mala de rodinhas enquanto avançava para o interior do bar. - E, sem querer faltar com educação, morrendo de fome. Qual é o cardápio do dia, tio Sérgio?

- Virado à paulista. - respondeu ele, num lampejo de simpatia. - Espera aí, que eu vou servir. Quanto a você, Regiane...

Manuel e a irmã se entreolharam por um instante. Ela engoliu em seco.

- Pausa pro almoço. - Sérgio sorriu, apreciando o alívio que tomou conta da sobrinha. - É, hoje é um dia especial. Vocês merecem.

Assim que o tio se recolheu para a cozinha, Regiane aproximou-se de Manuel e o cutucou de leve.

- E então... - ela esboçou um sorriso malicioso. - Quando vai ser o casório?

Manuel girou na banqueta alta e, apoiando os cotovelos no balcão, encarou a irmã nos olhos.

- Eu não vou me casar com a Cinderela. - ele disparou com suavidade. - É uma longa história. Talvez um dia você entenda.

Gato BorralheiroOnde histórias criam vida. Descubra agora