Cindy surgiu no interior do elevador, bela e radiante, mais ainda que de costume. Seus cabelos castanhos, presos num elegante rabo-de-cavalo, evidenciavam-lhe o rosto extremamente feminino. Mesmo que alguém lhe abordasse com a típica pergunta "viu-um-passarinho-verde?", com possíveis conotações maliciosas, ela não se importaria. Um misto de ansiedade, divertimento e poder pulsava dentro de si.
Ela deslizou suas pernas longilíneas até o balcão, de onde Ruth a observava com cara de paisagem.
- Bom dia!
- Bom dia. - Ruth forçou um sorriso. - Acho que reconheço esse ar de triunfo, a sobrancelha arqueada, o sorriso fatal...
Cindy a interrompeu com um riso espontâneo, que desarmou-lhe por um momento a aura de femme fatale.
- Posso saber o que a minha amiga tá planejando?
- Pode. - Cindy respondeu depois de hesitar. - Vou confiar em você, mas não conta pra ninguém. - e aproximou-se, sussurrando. - Eu vou me casar!
O mundo parou para Ruth. Ela fitou o vazio, realmente espantada, enquanto tentava digerir a nova informação.
- Enlouqueceu?! - ela deixou escapar. - Você?...
- Eu sei. - Cindy só conseguiu rir. - Parece um absurdo. Mas não, eu não estou embriagada, possuída e muito menos doida. Foi uma decisão bem pensada.
- C-como assim?
- Concluí que a minha vida anda um tanto vazia ultimamente. - Cindy analisava as pontas do cabelo despreocupadamente. - Um marido viria bem a calhar.
- E... será que eu posso saber o nome do felizardo?
- Não. - a empresária sorriu. - Quero dizer, por hora. Afinal, eu também preciso descobrir.
Ruth engoliu em seco.
- Quer dizer que você vai se casar e nem sabe o nome do noivo? É isso?
- É. - Cindy se divertia a cada sentença. - Mas tenho algumas opções. Júlio, Fernando, Jim, Manuel...
Ruth não desviou o olhar inquisidor.
- São meus "ex". Ex-noivo, ex-namorado, ex-peguete, ex-"amor da vida"... Todos nessa ordem. Eu criei uma disputa, a qual prefiro chamar "jogo". Será uma segunda chance pra cada um deles. Os bofes vão passar um tempinho na minha casa, sem contato algum com o mundo exterior, e aí eu poderei descobrir afinidades, divergências, detalhes que eu possa ter deixado passar batidos... E, no final, restará apenas aquele com quem pretendo trocar alianças.
- Uau... - Ruth visualizou tudo numa nuvem imaginária diante de si. - Um reality show, não é? "Um Príncipe Para Cinderela"?
Cindy se deliciava.
- Conto com a sua discrição. - ela finalizou a conversa, entrando em sua sala.
Ruth ficou ali, pensativa. Ignorava a tudo e todos ao redor. O dia estava apenas começando. Ela precisava colocar seus neurônios em ordem.
- Júlio, nós precisamos ter uma conversa.
O rapaz ignorou Gigi, como de costume, enquanto abarrotava uma mala com suas camisas de marca.
- Quer me explicar o que é isso?
Ele imediatamente parou o que estava fazendo.
- Primeiro você.
Gigi respirou fundo e, usando de um raro tom de voz mais suave, prosseguiu.
- Eu sei que não estamos passando por nenhum tipo de necessidade, e não estou reclamando, mas é que as coisas não podem continuar desse jeito, entende? Você vem me prometendo que vai sair pra procurar emprego e, até agora, nada. Eu te amo, te banco com o maior prazer, mas promessa é sempre dívida.
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Gato Borralheiro
General FictionUma metrópole qualquer, 2013. Cinderela Ramos de Moraes - ou simplesmente Cindy - é uma jovem rica, linda e independente. Presidente da Cristal Calçados, a empresa da família, tem paixão assumida por sapatos e popularidade entre os funcionários. Pa...