Capítulo 18

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    - Olha Tiago. Eu já estava planejando terminar com a Alice essa tarde. Eu não vou continuar namorando ela, não faz sentido. E mesmo assim, ela nunca aceitaria fazer isso, como eu iria explicar isso pra ela ow?

E isso era verdade mesmo, eu estava armando o melhor jeito de terminar com ela e já tinha planejado tudo pra hoje.

- Nem pensar bambi, Eu te proíbo de terminar com ela. Como você vai conseguir isso é problema seu, pensa num bom plano – Tiago disse.
- Você não pode estar falando sério. – eu falei
- Não? Eu não posso? – ele perguntou fazendo voz de criancinha. – Foda-se, eu já falei e não quero nem saber.
- O que você ganha com isso ow? – eu perguntei
- O seu sofrimento. Agora anda logo, sai da minha frente, eu fico com dor de cabeça quando fico muito tempo conversando com gays.    


Sai dali (da conversa com Tiago) com a cabeça mais que estourando. Será que eu teria coragem de pedir pra Alice pagar um boquete pro Tiago?

A resposta era claro que não! Óbvio que não! Eu não tinha coragem para ser tão otário assim.

A minha vida estava acabada. Eu não sabia o que fazer. Eu tinha sido muito idiota naquela festa da Ana Luisa, como pude deixar Tiago ficar com minha câmera, eu tinha sido um jamanta. E agora minha vida estava ferrada com pressão!

Eu estava enganando Alice e estava enganando Igor. Parecia que cada passo que eu dava, era um passo errado.

Fui visitar Alice. Acabei ficando na casa dela pra jantar. O pai dela era da polícia militar e adorava tirar onda pra mim sobre a profissão dele. 

    Em respeito a Alice eu ficava quase sempre quieto e só concordando com o pai dela. Mas às vezes eu soltava umas ironias, era inevitável. Ele não era uma má pessoa, mas a metidês dele me irritava ao máximo quando eu estava de mau humor, e hoje era um dia que eu estava de ULTRA mau humor. Isso não ia dar certo (não ia prestar, como o pessoal costuma falar).

Estávamos nós na mesa de jantar. Uma agradável refeição feita pela dona Fátima, mãe de Alice. E aí finalmente veio o papo, sabe que eu até achei que demorou pra vir, cheguei a ter esperanças de que não viria, mas veio e veio bonito.

- Gustavo, eu já te falei quais são as qualidades para se ser da polícia? – ele me perguntou.

Ele já tinha falado isso umas 10 vezes (no mínimo). Eu não sei por que, mas isso me irritava demais. Uma coisa boba, eu sei, mas sempre ficava irritado com esse papo dele, sei lá.

- Na verdade, já. – eu respondi ao senhor Hélio, pai de Alice.
- Ahh, mas é sempre bom relembrar né. Principalmente pra você que sonha em ser da polícia. – ele disse.

Eu, sonhar em ser da polícia? Só se for no sonho dele. Só que nem adiantava dizer o contrário, ele tinha isso na cabeça e pronto e eu sempre acabava me submetendo a ele. Mas hoje não, hoje eu estava ULTRA mal humorado e estava a fim de encher o saco.

- Nunca sonhei. - eu falei.

Todo mundo parou. Seu Hélio fez cara de "An?".

- Nunca sonhei em ser da policia. – eu reafirmei seguro.

Pra quê... seu Hélio agora não ficaria mais quieto até que conseguisse me convencer que eu queria, sim, ser da polícia. Mas ele não ia conseguir, eu estava disposto a ir até as últimas conseqüências.

- Rá, você não sabe o que está falando filho. – ele disse tentando transparecer calma. – Ser da policia é o que há.

Eu só mexi negativamente com a cabeça. 

    - Prefiro ser médico e salvar vidas. – falei.
- Policia também salva vidas. – ele disse rápido.
- A policia hoje é uma vergonha pro país. Bate em gente inocente, é corrupta, eu não quero fazer parte disso.

O clima foi só esquentando. Alice e sua mãe começaram a ficar preocupadas, tentaram jogar panos quentes, vãs tentativas.


- Eu teria nojo se meu pai fosse da policia. – (acho que agora eu tinha apelado).

Seu Hélio se levantou da mesa e foi lá pra dentro. Ficou todo mundo quieto se entreolhando, alguns segundos depois ele voltou carregando uma arma na mão.

Achei que ele ia me dar um tiro. Ele se aproximou de mim sério e disse.

- Você não sabe, você é muito novo, mas não é fácil usar uma arma, nunca é. Tirar a vida de outra pessoa, ainda que seja um criminoso, é uma vida e pesa na consciência.

Eu fiquei quieto. Eu não tinha o que dizer, ele tinha razão. Senti-me pequeno naquela hora.

- Você teria sangue frio para usar uma arma e atirar em alguém? – ele me perguntou.

Eu gaguejei, nem conseguia responder ao pai de Alice. Será que eu seria capaz de usar uma arma?

A mãe de Alice resolveu interpor.

- Hélio, guarda essa arma antes que alguém saia machucado.

Depois do jantar fui pro quarto da Alice. Ficamos eu e ela namorando um pouco. Eu não conseguia parar de pensar em como Tiago poderia estragar a vida de Igor. Eu não podia deixar isso acontecer.

Eu amava o Igor mais que tudo. Mas como eu poderia evitar que Tiago fizesse algo? Minha cabeça doía.

- Eu te amo Gustavo. – disse Alice enquanto fazia um carinho no meu rosto. – eu estou percebendo que tem algo te afligindo.
- Não é nada demais Alice. – respondi.
- Pode confiar em mim amor. – ela disse.
- Posso? E você? Você confia em mim? – eu perguntei
- Poxa, mas é claro que eu confio em você Gustavo!

Nesse momento comecei a chorar, agarrei Alice num abraço apertado e desesperador.
- Me desculpa Alice, me desculpa, por favor.
- Calma Gu, está tudo bem. – ela dizia. – o que está acontecendo?

Eu não queria sair daquele abraço. Ali, sentindo o perfume da Alice, parecia que estava tudo bem.

Eu enxuguei minhas lágrimas e me recompus.

    - Amanhã eu vou precisar de um favor seu, Alice. Não me pergunte o que é, nem o porquê. Apenas confie em mim. Você confia em mim?
- Sim Gustavo
. – ela me respondeu    

Chantagem e Consequência...Onde histórias criam vida. Descubra agora