Capítulo VIII

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Vladmir Gregorovitch

Sophia. Não.

Vendo ela se afastar cada vez mais, um turbilhão de memórias invade a minha mente.

Minha visão me trai e vejo, uma vez mais, meus amigos ardendo em chamas nas ruas de São Petersburgo.

***

- Gustav! Valentina! Não!

- Fuja, seu idiota! Não fique aqui, eles vão voltar!

- Eu vou tirar vocês daí, me esperem que vou quebrar o cadeado!

- O fogo já está muito perto, fuja enquanto ainda pode.- Disse Gustav.

- Vou apagar, pegar um pouco de neve!

- É gasolina, Vlad. Você sabe que não vai dar certo. - Valentina disse.

- Não vou deixar vocês morrerem. O que vai acontecer? Nós somos uma família.

- Sempre seremos. - Disseram em uníssono, com os olhos cheios de lágrimas.

- Procure a sua irmã, ela deve ter conseguido fugir. - Ele disse.

- Corra. - Ela completou.

***

Eu corri muito, não foi? Corri, corri e corri mais, achei minha irmã. Um tempo extra fora do pesadelo.

***

- Vlad.

- Oi, Natasha.

- Agradeceria se você me chamasse de irmãzona.

Dou uma risada leve.

- Ok, irmãzona.

Ela ri alto.

- Realmente, meu nome fica melhor. - Diz, rindo um pouco alto.

Olho para ela sem entender.

- O quê? Fica com medo que eu acorde os vizinhos? Como se nós tivéssemos vizinhos. - Ela fala, olhando através da janela para a cidade abandonada, coberta pela neve.

- Em breve eles virão atrás de nós novamente, Vlad. Vamos ter que continuar fugindo um pouco mais.

- Por que? Por que temos que fugir assim? O que fizemos?

- Não nós, nossos pais.

- Nos abandonaram e ainda nos deixam nessa situação, belos pais.

Ela me deu um tapa no rosto.

- Jamais. Jamais repita isso novamente. Nossos pais foram heróis, entendeu? HERÓIS.

- Mas... e se nos separarmos? E se ficarmos sozinhos?

- Vlad, nós somos uma família. Sempre seremos.

***

Claro que aquilo não duraria para sempre.

Minha irmã morreu, como todos os outros. A vida humana não significava muita coisa naquele lugar de frio, morte e sofrimento. Naquele lugar de inverno.

Claro que um dia o inverno voltaria para o meu interior, sem nada pra aplacá-lo.

Bernard está caído no chão, mas ele vai ficar bem. Corro na direção em que a levaram, apesar dos gritos dele, retiro o peso do meu corpo e pulo alto para tentar ver o grupo.

Sumiu.

Sumiram todos.

Como isso é possível?

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