Capítulo XXV

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Anippe Mahlab

Que nos encontremos novamente.

À distância, Aisha, Akira, Bernard e eu ficamos parados em fila, observando a aeronave se erguer. Não sei o que se passa na cabeça dos outros que estão comigo, mas o que eu tenho é a sensação de estar sendo arrastada.

Arrastada por uma torrente de água gelada que me leva para profundezas densas e frias. Meu coração dói de tal forma, como se estivesse sendo partido em pedaços. E é como se uma parte dele estivesse dentro daquele avião.

Bem, talvez realmente esteja...

- Peraí. Cadê a Débora? - Bernard pergunta, e eu arregalo os olhos.

Não tinha percebido. Na divisão, havia sido decidido que ela ficaria no nosso grupo (para minha infelicidade), mas ela não desceu do avião conosco.

- A golpista passou a perna na gente... - Aisha diz, e eu dou de ombros.

- Pois eu até prefiro que ela fique com a irmã dela no quinto dos infernos. Não ia dar o que prestasse se ela realmente viesse conosco.

Tiro um aparelho eletrônico do bolso com as mãos levemente trêmulas, e ativo a tela. Vejo nossa posição, e, marcado em vermelho, nosso destino: a possível localização da civilização restante em Puerto de Santa Cruz.

Aponto para a direção que temos que ir e começamos a caminhada.

- Daniel que te deu isso? - Aisha pergunta, apontando para o aparelho, e aceno com a cabeça em afirmação. Permanecemos em silêncio, e minha mente me leva involuntariamente ao início da manhã de hoje.

**

Fiquei por longos minutos de pé ao longe, observando o jovem casal sorrindo em inocência. A luz da aurora riscava o céu, mas não me permiti olhar para o rubro que tingia as nuvens. Lembranças demais.

Mais algumas palavras trocadas, cabelos atirados para o lado, alguns sorrisos, e Malika se pôs de pé com a ajuda de Daniel, voltando para o interior do prédio.

Aproximei-me de Daniel lentamente, com toda a leveza de uma arqueira, e quando toquei no seu ombro, ele se sobressaltou, quase pulando para trás.

- Por favor - ele disse, arfando levemente -, não me mate do coração. Nem cheguei na metade da vida ainda.

Sorri, olhando para o céu. Meu sorriso se desfez lentamente, e ele continuou olhando para o meu rosto.

- A gente só se encontra e se despede, né, Ani? Isso é uma droga.

O vento gelado esvoaçou meus cabelos e me fez arrepiar, e ele sorriu. Disse:

- Não tenho nenhum sobretudo pra te oferecer hoje. Desculpe.

Ergui a mão e coloquei um dedo sobre os lábios dele. Daniel arregalou os olhos.

- Você vai fazer o quê? - ele falou com a boca parcialmente fechada, e acabei revirando os olhos e rindo.

- Cara, deixe de graça. Era só pra você calar a boca mesmo.

Ele sorriu de lado, e me ofereceu um abraço. Aceitei, e me senti envolvida por um corpo caloroso e cercada com uma esfera de carinho fraternal.

- Mas você tem razão - murmurei. - Isso é uma droga mesmo. Queria ter mais tempo com você.

Ele suspirou.

- Eu te chamaria para ir para a Áustria conosco, mas aí teríamos que mudar toda a configuração das equipes, desequilibraríamos tudo, pois você não viria sem o Akira, ele não viria sem a Aisha, e ela não viria sem o Bernard...

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