Capítulo XXVI

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  Akira Yamaguchi  

Sempre me disseram que nada nesse mundo foi feito para durar pra sempre. 

Meu avô me dizia que, anos atrás as pessoas podiam viver até os cem anos. E muitos, muitos mesmo, anos atrás, as pessoas viviam até os trezentos, se tivessem sorte.

Hoje em dia, chegar nos trinta já é muito.

Biologicamente falando, podemos chegar aos quarenta e cinco, ou quarenta e seis no máximo. Mas, a maioria das pessoas não nasce em famílias ricas. Não nasce em bairros bons. Não tem acesso ao mínimo de saneamento. Então não, a expectativa de vida não é de quarenta e cinco anos. E essa é só mais uma das mentiras que nos contam. Assim como, um dia, me disseram que amar era a melhor coisa do mundo. 

Quem, em sã consciência , diria que uma coisa que machuca tanto é a melhor do mundo? Eu consigo listar coisas bem melhores.

1- comer aquilo que mais gosta (ou beber, no meu caso)

2- Dirigir uma moto em alta velocidade sem estar sendo perseguido pela polícia

3- O sorriso de Ani...

Não, Akira, para!

Aqui, sentado no corredor, com a cabeça apoiada na parede, começo a lembrar de uma das vezes que eu e Anippe fugimos juntos.

***

Estávamos alojados na aldeia dos rebeldes, alguns dias depois do meu pedido de namoro. Eu e os meninos costumávamos explorar as redondezas, e em um desses passeios, encontrei um lugar magnífico, que merecia ser compartilhado com ela.

Então, preparei uma cesta repleta de guloseimas e deixei em um lugar para buscar quando estivesse a caminho.

Quando encontrei Anippe se preparando para ir dormir, puxei seu braço de leve.

— Ei — ela gritou em minha direção. — Akira?! Você quer que eu te mate?

Comecei a rir do seu rosto de assustada e disse:

— Preciso te mostrar um lugar — meus pequenos olhos olhavam diretamente nos dela. E a curiosidade dela era um dom.

— Onde? — Ela perguntou.

Então, tirei do meu bolso uma venda e mostrei para ela.

— Você confia em mim?

— Você só pode estar louco, querido.

— Então está bem... — quando comecei a dar as costas, ela segurou meu ombro e apontou um dedo em riste em direção ao meu rosto.

— Se isso for alguma brincadeira, Akira Yamaguchi...

— Dá pra confiar no seu namorado?

Então, ela tomou a venda da minha mão e, com sua independência, amarrou-a na cabeça.

— Me dê a mão.

— Não, eu sigo sua voz.

Uma risada descontrolada emanou de meus lábios e ela começou a rir também.

— Yamaguchi! Vou tirar isso do rosto!

— Não! — Gritei, agitando as mãos em frente a seu rosto.

Então ela me estendeu a mão, e eu a conduzi para o lado de fora.

A noite estava agradável. Passei no moinho, onde havia escondido a cesta e fui em direção às floresta.

— Se você me assassinar, Akira, eu volto pra te assombrar.

— Deus me livre — eu disse, dando um beijinho em sua testa. — Já me basta te aturar em vida. "Até que a morte os separe", lembra?

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