Capítulo XVI

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Akira Yamaguchi

O helicóptero começa a se aproximar da praia, após tanto tempo sobrevoando o mar.

- Estamos próximos, crianças - a voz de Débora é insuportável por esses autofalantes. - Lembrem seus papéis hoje. Ani, querida. Sua vez.

Anippe se solta do cinto de segurança da poltrona ao meu lado e se levanta. Pego seu pulso antes que ela saia.

- Só gritar, se precisar de ajuda.

- Obrigada, meu amor. Mas não vou precisar, sou mais forte do que você imagina.

Ela vai até um ponto específico e tudo vai desaparecendo na minha frente. A funilaria. Os motores. As poltronas. E, finalmente, nós mesmos.

Não me enxergo e começo a dar risada lembrando do café da manhã nada fácil que passamos.

- Vamos logo com isso - comecei a rir enquanto tacava um naco de pão na boca. - Vou começar com Aisha e Bernie, e vou adicionando todo mundo à rede. Por favor, não vamos nos sobrecarregar. Não sei quanto tempo eu aguento com isso.

- Ah, por favor, vamos sobrecarregar - Anippe disse, suplicante. - Eu ia amar ver sua cabeça explodir.

Não respondi. Apenas fechei meus olhos e me conectei com Aisha, que sempre foi a mais rápida e fácil. Bernard também foi adicionado à conexão e pisquei os olhos para eles

'Uau' - a voz do Bernard era bem diferente na conexão, mais tranquila, sem nenhuma carga emocional. - 'Se eu pensar em qualquer coisa, vocês saberão? Mesmo que inconscientemente?'

'Exatamente. Tome cuidado, garoto.'

Ele arregalou os olhos e soltou um sorriso torto.

'Vou tentar.'

- Vlad, sua vez. Tenta não pensar em nada agora - eu disse, mesmo sabendo que, quando você diz isso para uma pessoa, ela começa a pensar mais ainda.

'Já está funcionando? Estou aqui. ' - ele disse.

'Ótimo, está funcionando. Bernie, fale com Vladmir. ' - eu falei, para testar até onde conseguíamos ir.

'Tá bom; Vladmir por favor pare de fazer essa cara que está me deixando nervoso. '

'Não posso mudar minha fisionomia tão fácil assim, cara. '

'Já chega' - interrompi-os - 'Sem sobrecarga. '

- Anippe, está pronta?

- Nasci pronta, amor, você sabe disso.

Fecho meus olhos e me concentro na mente da garota, e nada. Ela me olha fixamente e levanta uma sobrancelha como se questionasse algo.

- Sério? - eu disse.

- O quê? O que foi agora?

- Tenta me ajudar, por favor - suspirei para não perder a paciência. - Não consigo enfiar você na conexão. Parece que há uma barreira em você.

'Oi?' - a voz dela surgiu em minha cabeça.

'Eu sabia que conseguiria entrar na sua cabeça, mais cedo ou mais tarde. ' - pisquei para ela e dei um leve sorriso.

'Você pode se surpreender com o que vai escutar, gatão. ' Ela piscou de volta.

'Malika?' - chamei sem avisar, e ela me olhou com olhos assustados. A risada de Anippe ecoou em minha cabeça.

'Você se acostuma, Mali' - Aisha disse, tranquilizando-a.

'Tá, eu posso me acostumar com isso. ' - ela deu uma risadinha tímida, e então nós começamos a conversar durante alguns minutos.

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