Capítulo XII

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Cela 0709

Me contorço na cama, mais ainda do que pensei ser possível, ficando numa posição fetal. Logo me sento. A dor no abdômen é intensa, mas suportável. Daniel continua aqui, sua expressão é de pena e quando a vejo reviro os olhos, fazendo uma lágrima cair por causa do inchaço de meus olhos.

— Você está bem? — Ele pergunta com um brilho preocupado nos olhos.

— Não, mas vai passar, é apenas momentâneo... — abaixo a cabeça, e acabo olhando para os hematomas roxos e verdes em diferentes tonalidades, que colorem minha pele branca em quase toda a extensão do meu corpo. Volto a me concentrar em Daniel que coloca as mãos no bolso de sua blusa.

— Você devia parar de provocar a Mederi. Ela te mata sem hesitar. Você não era assim, e devia voltar a ser mais cautelosa.

Eu realmente não era assim. Era cautelosa, mas também insegura, e agora sou mais confiante em mim mesma. Essa é só alguma das mudanças que o tempo e as circunstâncias me causaram.

— Talvez eu devia ser mais cautelosa mesmo, mas a ver irritada sem conseguir o que quer me diverte um pouco. Sei que é errado, mas eu já estou numa cela sendo torturada de qualquer modo. — dou de ombros — Tem alguma notícia que possa me contar? — falo baixo para me precaver. Há um pouco de ânimo em minha voz.

Ele ri, mas seu semblante se torna sombrio em seguida. Ele balança a cabeça tristemente. 

— Não consigo contato com eles. Desculpe. — ele toca em meu braço levemente. — Aliás, como você conseguiu? Tô admirado.

Dou um sorriso levemente ensanguentado.

— Eu não sei. Foi sorte. O desespero me deu inteligência. — Rio fraco devido a dor.
Ele acena com a cabeça levemente. 

— Espero que eles tenham como vir. Mederi está louca pela sua cabeça, e não aguento mais ver você sofrendo desse jeito nas mãos daquela mulher.

Ahhh! Nem eu sei como ainda estou aguentando as torturas. Se continuar deste jeito, em poucos dias morrerei, mas o segredo morrerá comigo.

— Espero também, e caso eles não cheguem, teremos que dar um jeito de fugirmos daqui. — digo com o rosto sério — Não quero morrer nessa espelunca! 

Daniel olha para o chão.

— Já perdi uma amiga aqui, não quero perder outra. Aquela que você viu sendo baleada e morta... Não vou permitir o que o mesmo aconteça com você, devo isso a eles.

— Não sei o que dizer nesse momento... meus pêsames?! Ela parecia ser tão inocente, como se estivesse ali por engano. Argh, eu odeio falar disso!

— É... enfim. — um sorriso brilha em seus lábios. — Vai dar tudo certo. Vou ver o que posso fazer por você.

Ele se abaixa e da um beijo em minha testa, como se eu fosse sua irmã mais nova a quem ele deve proteger. E com isso sai da cela, a trancando e me deixando sozinha com meus hematomas.

Lembro muito bem de quando comecei a adquiri-los. Foi logo após eu me contatar pelo rádio com eles, e a memória deste dia se estilhaça em minha mente como se fosse presente.

***

Escuto barulhos , passos de várias pessoas atrás da porta. Estão todos a minha procura, e provavelmente já sabem onde estou. Coloco o capuz da blusa que tomei do guarda, ela fica larga em mim, mas é perfeita para o que eu quero.

O rádio está na bancada e ouço novamente a estática e ruídos. Essa conversa não está valendo o risco que corro.

Os ruídos do lado de fora aumentam e falo uma última vez, torcendo para que me escutem.

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