Capítulo XVIII

1.7K 182 167
                                    

Aisha Radjaram

Fomos ingênuos. Claro que era uma armadilha! Vejo Bernard usar de suas últimas forças para abrir um segundo portal para a clareira, onde o helicóptero estava escondido.

— Vão! — Akira grita em nossas mentes, e paraliso ao ver Anippe ficar presa no portal.

— Aisha, vá — ele insiste. Olho em seus olhos e vejo sua súplica, mas não tenho tempo de protestar.

De repente, o helicóptero explode, começando um incêndio. É tudo muito rápido. Ouço um baque e Bernard desmaia ao lado do corpo frágil de Anippe, os outros caem também, o barulho é alto, e assustador. Tento correr para aparar Bernard, mas o fogo vem chegando até nós. Com um olhar rápido, Malika se levanta e me ajuda. Me concentro para tentar controlar o fogo, que está se alastrando rápido demais.

Um helicóptero sobrevoa a área. "É o fim. Eles nos vão nos pegar".

Começo a ver manchas em minha vista; o fogo está fora do controle. Eu o empurro para longe e Malika o apaga, mas o combustível do helicóptero parece não ter fim. O motor da aeronave explode e somos arremessados para longe. Daniel carrega o corpo caído de Bernie, eu e Malika caímos de exaustão e Vlad ajuda Akira a levar Anippe para longe do fogo. A fumaça pode acabar matando todos nós.

— Estão todos bem? — grito.

— Temos que dar o fora daqui, as meninas não podem controlar isso sozinhas!— Akira diz, tossindo.

— Eu sei de um lugar onde podemos buscar refúgio. Aisha, você consegue levantar? — Daniel estende sua mão e eu a pego.

— Tem certeza que é seguro? — Malika questiona, ignorando sua mão estendida. Acho que ela acreditou no que a vaca ruiva disse.

— Absoluta. O lugar foi apagado do radar há algum tempo por Ashley. — Ele parece não perceber a mudança súbita de humor de Malika.

— Ótimo. — ela encerra a conversa  cravando sua lança no chão.

Daniel olha para ela sem saber o que dizer, pega sua mochila e passa o braço ao redor de Bernard, e eu corro para ajudar. Caminhamos em silêncio em uma parte da floresta que parece que nunca foi tocada.

***

Depois de muitos galhos que nos espetavam e árvores caídas, conseguimos chegar a uma clareira mínima, suficiente apenas para abrigar um pequeno bunker. Nos instalamos nele à espera do regaste de Daniel. E, apesar da aparência decrépita por fora, por dentro é muito bem conservado, com água fria saindo das torneiras, um rádio, alguns equipamentos, medicamentos e duas camas.

Deixamos Anippe em uma e Bernard em outra. Akira permanece ao lado de Anippe o tempo todo, e eu ao lado de Bernard. Ele suava muito, mas parecia que dormia profundamente. Já Anippe acordava em vários momentos e voltava a dormir novamente. Para amenizar os ânimos Daniel nos fazia perguntas.

— Aisha, onde está Carl? — Ele tenta me fazer falar já que, entre todos, eu sou a que parece mais distante.

— Deixei com uma amiga. Não poderia correr o risco de trazê-lo. 

Dizer isso em voz alta me faz cair em uma tristeza novamente. Quando achei aquele cachorrinho, prometi nunca o abandonar. E ele nunca me abandonou. Deixá-lo para trás talvez tenha sido uma das coisas mais difíceis que já fiz na vida.

— Daniel, quando ela vem nos buscar? — Akira pergunta, depois de alguns minutos em silêncio.

— Quando tiverem certeza que morremos na explosão. Ou pararem de nos procurar por aqui. Até lá, temos que ficar escondidos — ele diz, pesaroso.

WantedOnde histórias criam vida. Descubra agora