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Termino a ligação com meu pai e ouço batidas na minha porta. Porra, é véspera de Natal, será não poderiam me deixar em paz? Evitei ao máximo ter que me enfiar em Bibury para o fim de ano - o que seria extremamente depressivo - e mandei meu pai de volta para Cheshire para ficar com meus avós e me deixar sozinho mas aparentemente a vizinhança não sabe disso.
As batidas se repetem e desisto de fingir de morto dentro do quarto.
-O que? - abro e tento fechar no mesmo instante mas Zayn coloca o pé no batente - Isso não me impede de fechar essa merda no seu pé.
-Me deixe entrar, Harry.
Largo a porta e deixo que ele entre, não faz diferença alguma, de qualquer forma. Me sento na poltrona e ele fecha a porta, me observando.
-É véspera de Natal - diz.
-Oh, precisou de um calendário para perceber isso? - ele revira os olhos e suspiro irritado. Quando é que ele vai embora?
-Para de ser um babaca, cara. Devia desejar feliz natal à sua mãe.
Franzo o cenho e rio de forma sarcástica. O que esse babaca acha que está fazendo aqui, tentando me dizer o que fazer com a mulher que eu algum dia chamei de mãe? Ele acha mesmo que pode vir até aqui e me falar algo?
-Acho que você pode dizer isso à ela por mim. Era só isso? Pode ir agora - me levanto e seguro a porta aberta para ele.
Seu olhar está fixo no corredor e demoro para entender onde estava olhando. Anne está no meio do corredor, o olhar receoso e as mãos entrelaçadas. Seu rosto continua o mesmo de anos atrás. Porra, ainda é a minha mãe. Esqueça isso, Harry, ela foi embora.
-O que vocês dois estão fazendo aqui, afinal? - falo mais alto, irritado o bastante para bater a porta na cara dos dois - Querem um feliz natal, bem, feliz natal, podem ir agora.
-Harry, podemos conversar? - a mulher de cabelos escuros pede se aproximando da porta.
-Conversar? Teve muitos anos para conversar comigo eu não... - passo a mão no cabelo e olho para Zayn - Você a fez vir até aqui? Você nem devia estar aqui, seu merdinha.
-Ei, cara, você precisa arrumar o jeito que conversa. Qual o seu problema? - ele me desafia.
-Como é que é? - quando se afasta, dou um passo em sua direção - Que porra você acha que é?
-Ela é a sua mãe. Que tipo de doente fala assim com a mãe?
-Você saberia como falar com uma mãe se ainda tivesse uma.
Tudo bem, peguei pesado, mas quero os dois fora do meu apartamento.
-Harry, eu sinto muito, meu filho.
Fico feliz ao ouvir isso, perceber a angústia e a tristeza pura em sua voz. Eu sempre quis que de alguma forma ela se sentisse tão miserável quanto eu me senti todos os anos. Sem mãe em reuniões de escola ou encontros de família. Era sempre eu e meu pai em tudo. Sei que em alguns momentos ele estava cansado disso. E dificultei tudo quando resolvi aumentar meu nível de babaquice aos quinze anos depois de quebrar as poucas coisas que Anne deixou em casa.
-Sente muito? - olho para ela e balanço a cabeça. Ela já entrou e fechou a porta e eu nem sequer disse que ela poderia fazer isso - Dá o fora aqui, os dois.
-Vai perder sua mãe se não a ouvir, Harry, pode ter um pouco de calma por alguns minutos - ele diz para mim.
-Caralho, será que pode cooperar, sair daqui e calar essa boca?
-Filho, por favor. Se Zayn sair, você fala comigo?
Sim.
Não, não falo porra nenhuma.
-Não, não quero falar com ninguém, quero vocês fora daqui.
-Harry - Zayn diz como se tentasse me repreender.
Ele pensa que é o filho bonzinho da mãe que ele não tem, da mãe que é minha, mas isso não vai ficar assim. Minhas mãos já estão em punhos, prontas ao lado do meu corpo, e eu caminho até ele. Sinto seu corpo tensionar mas não dou a mínima.
-Filho, por favor, eu só quero que me ouça - ela me diz com a voz trêmula.
-Você - aponto para ela - teve muito tempo para falar comigo antes de vir até aqui e adotar esse moleque riquinho de merda. E quanto a você - volto para Zayn - eu disse que não te queria perto de mim.
-Eu não me importo com o que você disse -ele rosna, dando um passo na minha direção.
-Ah não? - rebato.
Ele fica em silêncio e passa a mão na boca, rindo. Um moleque irônico de barba bem feita parado na minha frente. Vou quebrar a cara dele se não sair daqui agora.
Dou um passo na direção dele e vejo quando infla o peito e tenta me alcançar. Não que seja muito, mas sou maior que ele e isso parece ter alguma relevância agora.
-Dá o fora daqui - falo baixo, tentando controlar a raiva que corre pelas minhas veias.
-Conversa com ela, cara! Que merda.
-Que merda vocês dois aqui, isso sim! Dá o fora, Zayn - aponto para a porta e ele vem até mim e coloca a mão no meu ombro.
Só percebo que acertei seu rosto quando Anne passa por mim e o segura, tentando puxá-lo para fora do apartamento. Ah, então agora vocês querem sair?
Ela me olha assustada e sinto meu corpo queimar com seu olhar. Volto para Zayn e ele me dá um soco no queixo, me jogando para trás.
-Parem, por favor, parem com isso - a mulher pede, a voz cheia de desespero.
Ele tenta me segurar pela camiseta mas eu o empurro e dou outro soco no seu rosto antes. A adrenalina correndo no meu corpo é tão forte que quero jogá-lo no chão e fazer com que nunca mais consiga sequer pensar em entrar no meu corredor.
-Zayn - ela o puxa, chorando.
Porra, ela está chorando?
-Vamos embora - ela o arrasta e ele limpa o canto da boca, um pouco de sangue saindo. Um pouco, deveria ser bem mais - Vamos, por favor, vamos.
-Eu não terminei com você, Styles.
-É, mas eu sim - levanto a voz e bato a porta com força quando eles atravessam o corredor.
Puta que pariu o que foi que aconteceu? Não que eu tenha o maior dos controles sobre mim mas eu quase me esforcei para não quebrar a cara dele aqui. Os anos de terapia que meu pai tentou me enfiar aliviaram um pouco a raiva que eu costumava sentir. Me lembro de me meter em festas em Holmes Chapel e só sair quando conseguisse arrumar briga com alguém. Só parei quando fui parar na delegacia e meu pai teve que ir e me tirar de lá.
Anne saiu chorando daqui e eu nunca tinha a visto chorar antes. Bem, as duas vezes que a vi depois que me deixou com o meu pai ela não mostrava estar tão feliz mas - certamente - não chegou a chorar. Bem diferente de todas as vezes que vi o meu pai chorar de madrugada. Quando é que vou conseguir esquecer toda essa merda e viver tranquilo?
Se Zayn tentar me aproximar de Anne novamente ou tentar se meter na minha vida talvez eu consiga finalmente quebrar seu nariz. Não seria tão ruim, um estrago naquele rosto não vai fazer tanto dano assim.
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Things I Can | H.S.
FanfictionO sorriso que ela abre enquanto a observo de longe me faz lembrar o babaca que sou. É o sorriso que ela insiste em abrir aos outros, mas nunca mais o abriu para mim. O gelo do whisky congela a ponta dos meus dedos e parece um alívio sentir alguma do...